Fechado desde 2021 para restaurações, a reinauguração do espaço cultural será celebrada com roda de samba e exposição de um mural de 400 metros.
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A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, comunica a reabertura do Galpão da Vila, antigo espaço que abrigava o Centro Cultural Vila Itororó, com uma festa de celebração marcada para este domingo (01), a partir das 12h até às 17h. O espaço cultural estava fechado desde 2021 para requalificações estruturais e elétricas, com a obra já finalizada e capaz de receber os munícipes do Centro de São Paulo.
O evento inicia às 12h, com a exposição do mural do Galpão nomeado “Quem Nunca Viu o Samba Amanhecer!”, feito pelo núcleo de artistas de artes visuais, cujo tema envolve a forte relação do espaço e o bairro com o samba. Com sete artistas e artesãos convidados pela Secretaria Municipal de Cultura – Bugre, Caroline Coimbra, Jack Neto/Leiga, Jamaikah Santarém, Joks Johnes, Bianca Foratori e Ciro Schu – os presentes vão vislumbrar o ressalve do samba como uma transformação social e cultural do bairro, local de origem da Vai-Vai, uma das maiores escolas de samba do país, e o resgate de figuras importantes que foram silenciadas ao longo do tempo e serviram para a difusão e desenvolvimento do samba paulistano, entrelaçado às raízes africanas. A atividade “Quem Nunca Viu o Samba Amanhecer!” conta com 400 metros de largura e está prevista para encerrar-se às 17h.
“Com a verticalização da cidade, espaços como este preservam um pedaço da memória e da arquitetura que marcaram a história do lugar e das pessoas que foram parte desse início. Participar deste projeto foi uma oportunidade de conexão com essa potência, refletindo sobre como o samba e o bairro do Bixiga estão profundamente entrelaçados”, cita um dos artistas realizadores, Ciro Schu.
A produtora do “Quem Nunca Viu o Samba Amanhecer!”, Renata Aun, descreve como um “privilégio” e como uma “experiência profundamente emocionante” participar do projeto, que conta com a ilustração de 14 personalidades pilares do samba paulista. “Exaltar essas personalidades em seu espaço de origem ressignifica o tempo e o lugar que lhes pertencem e transformar essa memória em arte.”, afirma Renata.
Junto com a exposição do mural, uma roda de samba com o grupo feminino Samba de Dandara embala a abertura do Galpão da Vila, às 15h. Fundada em 2012, a banda propõe debates sobre ancestralidade e protagonismo feminino no samba e na sociedade por meio de suas músicas, propondo um samba de empoderamento e exaltação às mulheres sambistas, às grandes compositoras, às grandes intérpretes, às guerreiras do samba. A concepção carrega o peso e a inspiração de Dandara, mulher negra, guerreira e referência histórica na luta contra a escravização.
Serviço
Galpão da Vila Itororó
01/12
12h até 17h
Rua Pedroso, 238 – Bela Vista
Aberto somente para eventos especiais
Quem nunca viu o samba amanhecer
Personalidades
Coluna 1
Almir Guineto, figura ímpar do samba brasileiro, se destacou como compositor, cantor e poeta. Nascido no Morro do Salgueiro em 12 de julho de 1946, eternizou seu nome no Vai-Vai com sambas marcantes como O samba exaltação “À Luta Vai-Vai” e o samba enredo “Orgulho da Saracura” do carnaval de 1980. Exímio instrumentista; na década de 1970, já era mestre de bateria e um dos diretores do Salgueiro, e fazia parte do grupo de compositores que frequentavam o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos. Foi membro dileto da Ala de Compositores do Vai-Vai. Sua voz potente e versos comoventes conquistaram uma legião de fãs de Salgueiro à Bixiga.
Pato N’Água (Walter Gomes de Oliveira) foi um dos maiores mestres de bateria do Carnaval paulistano, consagrado no Vai-Vai, onde deixou sua marca como líder e fundador. Também teve passagens por outras escolas e foi passista e chefe de torcida do Corinthians. Apelidado por crescer nadando no riacho Saracura, era conhecido por sua habilidade no apito e por ser um típico malandro dos anos 60. Sua morte em 1969, cercada de mistério e suspeitas, reflete o contexto repressor da época, mas seu legado permanece vivo como símbolo de resistência e paixão pelo samba.
Cidinha, filha de Dona Iracema, foi porta-estandarte da velha guarda do Vai-Vai e é uma figura emblemática da escola. Reconhecida por sua dedicação e paixão pela agremiação, ela se tornou um verdadeiro ícone do Vai-Vai, representando a força, a tradição e a importância da velha guarda na história da escola. Ao longo dos anos, Cidinha desempenhou um papel fundamental na preservação e celebração da memória da agremiação, sendo líder da velha guarda e uma figura de referência para as novas gerações.
Seu Livinho (Antonio Ferraz), nascido em 1911 em Piracicaba, foi um dos fundadores do Vai-Vai, contribuindo para sua criação em 1930, após os batuques e festas do bloco Esfarrapados. Morador da Bela Vista desde 1926, liderou a agremiação como presidente por mais de 20 anos (1930-1951), consolidando o Cordão Carnavalesco e Esportivo Vai-Vai como referência no carnaval paulistano.
Dona Odete começou no Vai-Vai aos 13 anos e se tornou uma figura querida na agremiação, conhecida como “Vó Odete”. Dona de um boteco em frente à antiga quadra, seu bar era ponto de encontro de compositores e berço de muitos sambas da escola. Sempre acolhedora, fazia questão de abençoar os “netinhos” antes dos ensaios. Ligada à corte e à Embaixada do Samba, Dona Odete deixou um legado de amor e dedicação à Vai-Vai.
Madrinha Eunice, nascida Deolinda Madre em Piracicaba em 14 de outubro de 1909, foi uma comerciante e sambista paulista, reconhecida como uma das grandes matriarcas do samba paulista. Fundadora da Escola de Samba Lavapés, a mais antiga de São Paulo ainda em atividade, ela teve uma trajetória marcada por sua liderança, paixão pelo samba e seu legado duradouro na cultura do carnaval paulistano. Madrinha Eunice também foi uma ativista do movimento negro e é lembrada como uma figura pioneira do Carnaval de São Paulo. Seu apelido “Madrinha” surgiu devido ao fato de ter tido 41 afilhados, consolidando sua imagem de matriarca e referência de resistência e inspiração para as novas gerações do samba.
Geraldo Filme (1927–1995) foi um dos maiores nomes do samba paulistano, marcado pelo orgulho negro e pela denúncia social em suas composições. Embora tenha contribuído com várias escolas, sua ligação com a Vai-Vai é especialmente memorável, com obras como Vai no Bexiga pra Ver, um hino da agremiação, e Silêncio no Bexiga, em homenagem ao diretor de bateria Pato N’água. Foi campeão de samba-enredo com Solano Trindade (1976) e presidiu a UESP, consolidando-se como referência do Carnaval e da cultura negra em São Paulo.
Coluna 2
Seu Chiclé (1931–2007), nascido em Santos, foi uma figura marcante na história do Vai-Vai, onde ingressou em 1952, fundando a ala de passo marcado e introduzindo o repenique no então cordão. Como presidente da agremiação por quase 20 anos, liderou a escola em seis vitórias no Carnaval, incluindo um tricampeonato (1986-1988). Embaixador do Samba, Seu Chiclé consolidou o Vai-Vai como referência no Carnaval paulistano, deixando um legado de dedicação e inovação.
Osvaldinho da Cuíca, nascido em 1940, é um renomado músico, compositor e pesquisador, considerado um ícone do samba paulista. Parceiro de grandes artistas nacionais e internacionais, recebeu o título de “Embaixador Nato do Samba Paulista” pela UESP. Foi fundamental na transformação da Vai-Vai em escola de samba, fundando a ala dos compositores e criando seis sambas para a agremiação, incluindo o campeão “Na Arca de Noel Quem Entrou Não Saiu Mais”, que garantiu o primeiro título da escola em 1978. Sua contribuição marcou a história do samba e da cultura paulistana.
Henricão (1908–1984), natural de Itapira, trocou o futebol pelo samba ao se encantar pela gafieira paulistana, tornando-se cantor, compositor e ator premiado, com destaque no filme Sinhá Moça (1953). Apaixonado pelo Vai-Vai, contribuiu com sambas emblemáticos como Saiam à Janela, ajudando a consolidar a escola desde os tempos de cordão carnavalesco. Suas composições, influenciadas pelo samba rural paulista, exaltavam o cotidiano e a cultura local. Figura carismática, foi Rei Momo em dois carnavais e é homenageado como nome de ruas e escolas, deixando um legado cultural profundo.
Dona Penha (1920–2012), baluarte do Vai-Vai, dedicou quatro décadas de sua vida à agremiação, assumindo a coordenação da ala “Curt-Samba” após o falecimento de seu esposo, Senhor Valdir. Um exemplo de amor ao pavilhão, ela se destacou por sua atuação incansável em diversos segmentos da escola, tornando-se uma figura emblemática do Carnaval paulistano.
Dona Olímpia (1917–2015), nasceu em 3 de novembro de 1917. Iniciou sua trajetória no cordão Campos Elíseos e, posteriormente, na Flor da Mocidade, antes de integrar os primeiros anos do cordão Vai-Vai. Sob a gestão de Pé Rachado, dedicou-se à coordenação da corte do Vai-Vai por mais de 20 anos, tornando-se uma das raízes estruturais da escola. Até seu falecimento em 2015, aos 97 anos, Dona Olímpia foi baluarte da Velha Guarda e integrante da Embaixada do Samba, sendo homenageada tradicionalmente pelo Bloco dos Esfarrapados em frente à sua casa na Rua Major Diogo.
Seu Penteado, filho de Henricão do Vai-Vai, é uma figura emblemática da velha guarda musical da escola. Reconhecido como um dos maiores compositores da agremiação, fez parte da ala dos compositores e da velha guarda musical, além de ter sido diretor cultural e um dos melhores diretores de harmonia. Sua trajetória é marcada pela dedicação ao samba e pela contribuição significativa à música do Vai-Vai, sendo fundamental na construção da identidade e tradição da escola, sempre preservando sua história e cultura.
Dona Iracema, natural de Campinas, chegou a São Paulo ainda bebê, quando sua família se estabeleceu na região da Bela Vista. Figura marcante na história do samba paulistano, foi uma das fundadoras dos cordões Vai-Vai e Fio de Ouro. Participou ativamente dos desfiles do Vai-Vai, enquanto seu filho mais velho chegou a presidir a escola. No entanto, após um desentendimento com Pé Rachado, afastou-se da agremiação e proibiu sua família de desfilar nela por muitos anos. Nos anos 1990, reconciliou-se com o Vai-Vai e voltou a desfilar, permanecendo ligada à escola até seu falecimento.