A partir desta sexta, 13, material que ocupa o Museu de Arte Moderna da Bahia traça relações entre a trajetória do Vila, das artes e a história do Brasil nas últimas seis décadas
A exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil inicia temporada de visitação pública nesta sexta-feira, 13. Ocupando o salão principal do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), em Salvador, a exposição é resultado de um esforço que reuniu farto material sobre a trajetória do Vila e a primeira do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Salvador. São fotos, cartazes, figurinos, vídeos, programas originais das produções, áudios e documentos variados que, juntos, contam uma história de arte e insurgência. A exposição é gratuita, tem temporada até o dia 8 de dezembro e pode ser conferida de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
O patrocínio é do Banco do Brasil e Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, com apoio do Museu de Arte Moderna da Bahia, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural e Secretaria Estadual da Cultura. A produção é da Janela do Mundo com coprodução do Teatro Vila Velha.
O Teatro Vila Velha foi inaugurado em 31 de julho de 1964, após uma ampla campanha levada à frente pelo primeiro grupo profissional de teatro da Bahia, a Sociedade Teatro dos Novos. Espaço eclético da cultura nacional, trouxe ao palco, já na programação de estréia, a Batucada da Escola de Samba Juventude do Garcia e também os experimentos dos jovens Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Tom Zé no show Nós, por Exemplo…
A exposição registra a trajetória do Vila Velha desde quando o teatro era um projeto, investigando as experiências que o transformaram em espaço das artes sintonizado com os grandes debates de seu tempo. Traz a história do Teatro dos Novos e do Teatro Livre da Bahia, grupos que tiveram João Augusto à frente até sua morte, em 1979. Inclusive dimensiona a figura do diretor, dramaturgo e professor João Augusto, um dos mais importantes nomes do teatro brasileiro. Faz isso contextualizando o Vila nos momentos históricos que atravessou, o que exige trazer à discussão personagens como, dentre outros, Edgard Santos, reitor da Universidade Federal da Bahia que criou a Escola de Teatro em 1955, e Eros Martim Gonçalves, seu primeiro diretor.
O engajamento do Vila na defesa das classes subalternizadas e das causas sociais ganha destaque na exposição. Os exemplos apresentados são variados. No ano de sua inauguração, encenou a peça sociopolítica Eles Não Usam Bleque-Tai, de Gianfrancesco Guarnieri, em plena implantação do regime militar, decisão ousada em tempos de repressão e violência contra os direitos civis e políticos.
Mais à frente, em 1968, ano em que foi decretado o mais tenebroso Ato Institucional do governo militar, o AI-5, outro atrevimento em meio ao medo que assolava a sociedade: o teatro abrigou artistas, jornalistas e membros da comunidade em protesto pela atuação truculenta da censura em ensaio aberto da peça Senhoritas, que seria encenada no Teatro Castro Alves e acabou interditada. Soma-se a isso a participação ativa no movimento pela Anistia, no final dos anos 1970, e seus desdobramentos, como ter sido o lugar escolhido para os julgamentos dos processos post mortem de Carlos Marighella e Glauber Rocha, absolvidos de crimes imputados pelo regime militar e cujas famílias, nas mesmas sessões, receberam pedidos formais de desculpas do Estado brasileiro.
Outro destaque no material disponibilizado é o período de reforma estrutural do teatro, que durou de 1994 a 1998 e trouxe ao Vila diversos artistas que nele iniciaram carreira, em campanha que gerou apresentações com rendas direcionadas para a reconstrução do prédio. Foram retornos cheios de emoção dos já àquela época nacionalmente reconhecidos Gil, Caetano, Bethânia, Tom Zé e também Daniela Mercury e Carlinhos Brown, dentre muitos outros.
Em sua composição, o Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil opta por, ao contar a trajetória do teatro e de seus personagens, contextualizar os momentos históricos desse percurso, inclusive o desenvolvimento urbano e evolução arquitetônica das cidades. Nesse entranhar de acontecimentos emergem produções feitas no teatro ou nele exibidas, projetos, ações de cidadania, enfrentamentos e posicionamentos, enfim, a história ativa e produtiva de um teatro que é baiano e cujas realizações reverberam pelo Brasil.
CURIOSIDADES RETIRADAS DA EXPOSIÇÃO:
– A Sociedade Teatro dos Novos, criada em 1959, é o primeiro grupo profissional de teatro da Bahia. Com diversas iniciativas artísticas e campanhas, ergueu o Teatro Vila Velha, inaugurado em 1964;
– A Sociedade Teatro dos Novos surge a partir de um grupo de alunos da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia que se rebelaram contra seu diretor e abandonaram o curso no último ano. Os alunos são Carlos Petrovich, Carmem Bittencourt, Echio Reis, Othon Bastos, Sonia Robatto e Tereza Sá. A eles somou-se o encenador e professor da Escola de Teatro, João Augusto;
– O Teatro Vila Velha foi palco de shows inaugurais de vários artistas e grupos, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Tom Zé, Novos Baianos, Camisa de Vênus, dentre outros. No que tange ao teatro e à dança, abrigou, além do Teatro dos Novos, vários outros coletivos, como Teatro Livre da Bahia, Viladança, Bando de Teatro Olodum, Cereus, VilaVox, Companhia Novos Novos e A Outra;
– O Vila é o único teatro independente na Bahia que através de um grupo residente de dança, o Viladança, implementou políticas para o desenvolvimento da linguagem, desdobrando suas ações em residências, intercâmbios artísticos, projetos de experimentação e integração de diversos estilos, além de formação de plateia para a dança e criação de um longevo festival internacional, o Vivadança, que colocou a Bahia na rota de eventos culturais internacionais;
– Palco onde brilhou Lázaro Ramos em vários espetáculos do Bando de Teatro Olodum, assim como a cantora Virgínia Rodrigues, que encantou Caetano Veloso na montagem de Bai Bai Pelô, em 1994;
– O Vila foi palco dos julgamentos pos mortem de Carlos Marighella e Glauber Rocha, sendo o lugar histórico onde o Estado brasileiro reconheceu a inocência e pediu perdão às famílias dos dois perseguidos políticos.
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
Patrocinador da exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) é uma rede de espaços culturais gerida e mantida pelo Banco do Brasil, com o objetivo de valorizar a cultura e a diversidade brasileiras. Os CCBBs materializam as diretrizes culturais do Banco, de oferecer espaço a artistas e manifestações culturais que merecem maior representatividade no cenário nacional.
Presente no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, está em avançado processo de instalação de sua nova unidade em Salvador. Na capital baiana, passa a ocupar o Palácio da Aclamação, o histórico edifício que, como o Teatro Vila Velha, compartilha a área do Passeio Público, no bairro do Campo Grande.
Mesmo em período de reformas no Palácio da Aclamação para iniciar suas atividades no espaço, o CCBB já realiza intervenções culturais na cidade de Salvador. Nesse contexto, patrocina sua primeira exposição na Bahia, em projeto que dimensiona a importância do Teatro Vila Velha para o Brasil.
Ao realizar este projeto, o CCBB reafirma o compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e com a valorização da produção cultural nacional.
SERVIÇO
EXPOSIÇÃO: Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil
TEMPORADA PARA VISITAÇÃO: 13 de setembro a 8 de dezembro de 2024, de terça a domingo, das 10h às 18h
LOCAL: Museu de Arte Moderna (MAM), Avenida Contorno, Salvador
VALOR: Gratuito
PATROCINADOR: Banco do Brasil e MInistério da Cultura, através da Lei Rouanet