Além de ajudar na preservação e transmissão da memória afro-brasileira, o livro, publicado pela editora Jandaíra, vai além do contexto religioso e apresenta importantes lições para crianças; lançamento acontece a partir das 13h
“O catador de histórias” (64 págs.) do pesquisador, professor e escritor Edmar Neves (@edmarnevess) reúne três importantes Itans, que são narrativas associadas aos Orixás, e, a partir deles, apresenta para crianças um pouco da cultura afro-brasileira e também importantes ensinamentos sobre escuta, alteridade, respeito e confiança. O lançamento da obra em São Paulo está marcado para o dia 23 de novembro, a partir das 13h, na Biblioteca Luiza Erundina [Rua Acédio José Fontanete, Química – Jardim Ibirapuera]. Na ocasião, haverá uma contação de histórias “Encantos do terreiro – lendas dos Orixás”, além do lançamento do livro de Edmar Neves.
Publicado pela Editora Jandaíra (@editorajandaira), “O catador de histórias” conta com ilustrações do quadrinista Afa Vasquez (@afa_vasquez) e paratextos desenvolvidos para auxiliar diferentes tipos de leitores e mediadores de leitura, como glossário e referências bibliográficas. O livro foi contemplado pelo edital ProAC/SP, para realização e publicação de obra literária infanto-juvenil inédita.
O autor destaca que quis acrescentar novas camadas de leitura ao livro após notar que a maioria dos títulos que adaptam e referenciam as narrativas dos Orixás não davam abertura para pensar nessas histórias além do viés religioso. Segundo ele, as expressões religiosas também fazem parte da cultura e da história de um povo/comunidade, mas também podem trazer ensinamentos que são capazes de abranger outras vivências, como a importância de saber ouvir e transmitir conhecimentos, de confiar na capacidade das pessoas e de não julgar ninguém pela aparência.
Além disso, ele considera interessante introduzir para o público infantil o entendimento de que para a cosmovisão africana – mais especificamente banto-iorubá – não há a distinção maniqueísta de bem e mal, sendo que os elementos de nossa existência possuem aspectos positivos e negativos dentro de si.
Dedicado ao Pedro, sobrinho de Edmar, o livro se inicia com uma demonstração do desejo do autor de que o garoto possa conhecer um pouquinho mais dos Orixás que o acompanham. Essa vontade de compartilhar um pouco de uma importante parte de si com o menino foi o que motivou o início do processo criativo que culminou na escritura de “O catador de histórias”.
“Quando me iniciei no culto ao Orixá Oxóssi, dentro do candomblé de nação Ketu, meu sobrinho estava com um ano de idade e eu queria comprar livros para ele que apresentassem um pouco mais da minha fé, da cultura e de toda a história que eu estava descobrindo na época”, conta Edmar. “Com alguns materiais em mãos, pensei ‘por que não escrever meu próprio livro infantil?’, e foi nesse raro momento de petulância artística que comecei a esboçar as primeiras linhas.”
O livro demandou muita pesquisa e representa para Edmar um momento de autoafirmação enquanto escritor. Além disso, o processo de elaboração das ilustrações que acompanharam o texto na composição da narrativa merece ênfase: “Eu e o Afa pensamos em vários detalhes que remetem não só a outros Itans, como também ao relacionamento entre os Orixás”.
A busca pela valorização da cultura afro-brasileira está no cerne de toda a obra, inclusive até mesmo na escolha da editora que tem em seu catálogo títulos que buscam apresentar e debater a cultura e a vivência da população negro-brasileira nos seus mais amplos aspectos. Segundo o escritor, seu livro é um lembrete de que mesmo tendo que sobreviver em um ambiente extremamente hostil que ainda busca exterminar sua existência nos mais diversos âmbitos, a população negra do Brasil consegue manter suas tradições e seus traços culturais vindos de várias regiões do território africano vivos, através de sua religiosidade ou de outras práticas cotidianas.
A importância de catar e contar histórias para Edmar e os seus
Edmar Neves se define como filho de Oxóssi e nasceu em Mogi Mirim, mas passou grande parte de sua vida em Mogi Guaçu, também no estado de São Paulo. É licenciado em Letras, pela UFSCar, mestre e doutorando em Teoria e História Literária, pela Unicamp. Desenvolve pesquisas sobre literatura brasileira contemporânea, literatura e grupos marginalizados e pensamento literário e social. Além disso, atua como professor de médio e técnico, pesquisador, redator e produtor cultural. “O catador de histórias” é sua estreia literária.
Seu grande mentor é o escritor santista Plínio Marcos. “Tudo que eu escrevo e pesquiso hoje foi graças às leituras que fiz dos roteiros de suas peças teatrais e de seus contos, quando estava no final da adolescência”, destaca Edmar.
Já em relação aos autores que inspiraram diretamente a escritura do livro “O catador de histórias”, ele destaca nomes como o de Reginaldo Prandi, José Beniste e Mãe Beata de Yemonjá, mas reflete: “Este livro tem como principal influência a transmissão de conhecimentos através dos relatos dos meus mais velhos dentro do meu ilê, como meu babalorixá Junior de Odé, a minha yalorixá Luciana de Oxalá, meus irmãos Felipe de Lufan, Kauã de Iansã, Janaica de Oxum, entre outros, que entre uma tarefa e outra do terreiro me explicavam os porquês das coisas através dos ensinamentos do Itans”.
Confira um trecho do livro:
“Visite dezesseis lugares
e conheça dezesseis odus, que têm a ver
com os destinos de cada pessoa.
Conhecer cada um desses odus
nos ajuda a entender coisas
sobre o presente, o passado e
o futuro. E isso é realmente útil
para todo mundo.”
Adquira “O catador de histórias” no site da editora Jandaíra: https://www.editorajandaira.