A montagem, que reflete sobre a passagem do tempo, é estrelada pela atriz Gabriela Munhoz, com intervenções cênicas e trilha sonora ao vivo de Paola Kirst, e ainda conta com direção geral de Camila Bauer e direção de movimento de Carlota Albuquerque. A peça marca a estreia no Brasil do premiado texto britânico Age is a feeling, de Haley McGee, e integra a programação do Palco Giratório Sesc
Gabriela Munhoz e Paola Kirst estão juntas em cena
Crédito da foto: Isadora Quintana
Quatro artistas, de diferentes gerações e áreas de expressão, se preparam para estrear juntas um espetáculo que aborda um tema em comum de interesse para todas elas: a mulher e a passagem do tempo. Idade é um sentimento coloca no palco a atriz Gabriela Munhoz, refletindo sobre a prazerosa e melancólica vulnerabilidade da vida e a nossa incapacidade de controlá-la, em atuação ao lado da cantora, compositora e performer Paola Kirst, responsável pela trilha sonora e intervenções cênicas ao vivo durante a peça. Por trás das cortinas, ainda conta com a direção geral de Camila Bauer e direção de movimento da coreógrafa Carlota Albuquerque.
As primeiras apresentações acontecem nesta quarta e quinta-feira, dias 13 e 14 de novembro, às 20h, no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, dentro da programação do 18º Festival Palco Giratório Sesc. A narrativa costura o texto premiado e enaltecido pela crítica Age is a feeling, da atriz e autora canadense radicada em Londres Haley McGee, com escolhas do espectador sobre quais recortes de vida da personagem serão contados. Ou seja: a cada dia, quem for ao teatro pode optar por ver uma peça diferente, e as intérpretes precisam estar preparadas para encenar todos os momentos das dores, desafios, enfrentamentos e celebrações da vida dessa mulher, ao longo de sua vida. “Do ponto de vista da atuação, isso é um enorme desafio, porque é preciso dar conta de ensaiar cenas que podem não ser apresentadas e não há como prever uma sequência dramática do espetáculo”, destaca a diretora geral.
No texto, a autora frisa que “ninguém pode saber tudo sobre a própria vida, nem mesmo você”, e opta por não contar tudo da vida da personagem. Com esse emaranhado de cenas fixas e selecionadas, o espetáculo propõe reflexões sobre as infinitas possibilidades de fazer escolhas e modificar rumos enquanto estamos vivos. “A peça mostra a sensação de não adequação dessa personagem. Não importa quanto tempo passe, ela parece nunca se sentir à vontade. Inicialmente, ela tem medo do futuro. Depois, o presente é hostil. Parece que o presente nunca é suficiente como ele é. São os dilemas da vida de uma mulher, mas que se manifestam como uma questão de vida no geral, de qualquer ser humano”, acrescenta Camila.
A cenografia e os vídeos de Elcio Rossini projetados durante a apresentação, assim como o desenho de luz de Ricardo Vivian, destacam os poucos elementos que estão no palco. Há cadeiras e microfones com pedestais divididos pelas duas artistas, além de três instrumentos sonoros utilizados por Paola para fazer a trilha sonora ao vivo: uma bateria, pedais de efeitos e um ukulele. A compositora criou as sonoridades do espetáculo a partir de palavras do texto original. “Comecei com fragmentos de trechos que foram se transformando em pequenos temas a partir dos sons vocais, sempre buscando que fosse algo orgânico, costurado ao texto, e trazendo algumas pequenas surpresas. Com o tempo, o som acabou se transformando quase que em um terceiro personagem”, explica Paola.
A encenação também marca a estreia nos palcos da capital gaúcha de Gabriela. A artista natural de Lajeado fez quase 20 anos de carreira no Rio de Janeiro, colecionando atuações ao lado de grandes nomes da cena artística nacional do teatro e do cinema, até estabelecer residência em Porto Alegre nos últimos anos, onde é responsável atualmente pela direção artística do Theatro São Pedro. Equilibrando as funções de gestão e a carreira artística, ela nunca parou de atuar: além das experiências acumuladas em trabalhos como a novela Órfãos da Terra, da TV Globo, e a série da Netflix Todo dia a mesma noite, baseada na tragédia da boate Kiss, ela faz participação na minissérie Senna, que chega ao streaming no próximo dia 29 de novembro; e agora tem se dedicado a ensaiar a nova peça.
“Vai ser um desafio enorme e uma honra pisar, pela primeira vez, nos palcos de Porto Alegre. Ainda mais para falar sobre um assunto tão importante para mim. Contar a história da vida de uma mulher, situando todas as questões estruturais de preconceito, exclusão, omissão que o feminino no Brasil vivencia, é um discurso que nos parece urgente. E investigar a passagem do tempo através do ponto de vista das mulheres que estão nesta criação (Camila, Paola, Carlota), tem sido um processo muito rico e bonito”, antecipa Gabriela.
O texto britânico, traduzido para o português por Diego Teza, será apresentado pela primeira vez no Brasil a partir de uma iniciativa de Gabriela, que adquiriu os direitos da obra. O original Age is a feeling estreou no Edinburgh Fringe, em 2022, produzido pelo Soho Theatre, esgotando toda a sua exibição e ganhando o Fringe First Award. O espetáculo recebeu cinco estrelas pela crítica do The Guardian, sendo descrito como “por vezes divertido e ao mesmo tempo saudoso e inteligente, é um surpreendente mergulho no futuro”.
Os ingressos para as sessões de estreia em Porto Alegre podem ser adquiridos no site sesc-rs.com.br/palcogiratorio e nas unidades do Sesc/RS com preços entre R$ 40 (inteiro) e R$ 20 (meia-entrada). Depois, o espetáculo poderá ser conferido dentro da programação do 31° Porto Alegre em Cena, em única sessão no dia 23 de novembro, às 20h30, no mesmo palco, com entradas já disponíveis pelo Sympla.
Mais sobre as artistas
Camila Bauer é diretora teatral e professora de dramaturgia do Departamento de Arte Dramática e na Pós-graduação em Artes Cênicas da UFRGS. Doutora em Ciências do Espetáculo pela Universidade de Sevilha e em Informação e Comunicação: menção Artes da Cena pela Universidade Livre de Bruxelas (2010), realizou residências na Espanha, França e Bélgica. É diretora do Coletivo Gompa, com o qual criou diferentes espetáculos, os mais recentes sendo Meretrizes, Instinto (vencedor do prêmio norueguês Ibsen Scope) e Frankenstein – todos de 2023. Já ministrou oficinas de dramaturgia na Espanha, México e em diversas cidades do Brasil. Pesquisa dramaturgia contemporânea e poéticas do espetáculo.
Gabriela Munhoz é formada em Artes Dramáticas pela UniverCidade do Rio de Janeiro e pós-graduada em Filosofia pela PUCRS. Estudou, também, na pós-graduação Corpo, Diferença e Educação, na Escola de Dança Angel Vianna/Rio de Janeiro. Atriz com 25 anos de experiência no teatro, esteve radicada no Rio de Janeiro por 17 anos e colecionou palcos cariocas ao lado de grandes nomes da cena artística nacional. Possui consistente trajetória na área de gestão de projetos e gestão de pessoas, tendo como atual experiência a gestão pública de cultura na Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, onde foi diretora do Instituto Estadual das Artes Cênicas do Estado e do Teatro de Arena de 2021 a 2023, e desde então, atua como diretora artística do Theatro São Pedro e do Complexo Multipalco. Já atuou também em diversos projetos à frente da gestão de entretenimento (shows, eventos, festivais, projetos de artes cênicas).
Paola Kirst é cantora, compositora, performer, artista visual (FURG) e integra os coletivos de artistas Pedra Redonda e Gompa. Natural de Rio Grande, mora em Porto Alegre há cinco anos. Venceu a categoria Revelação no Prêmio Açorianos de Música (2018) junto do trio instrumental Kiai, com o álbum de estreia Costuras que me bordam marcas na pele. Em 2023, cantou com a Orquestra SimJazz ao lado de Vitor Ramil, participou da exposição Lupi: pode entrar que a casa é tua, e seu solo cênico musical Pigarra integrou o 30° Porto Alegre em Cena. Assina as provocações sonoras na peça Instinto, do Coletivo Gompa, pelo qual recebeu, ao lado de Alvaro RosaCosta, o prêmio de melhor trilha sonora no Prêmio Açorianos de Teatro Adulto (2023). Integra o elenco de Ela disse-me assim, musical que homenageia as cantoras gaúchas Zilah Machado e Lourdes Rodrigues a partir da obra de Lupicínio Rodrigues. Recentemente, lançou Redoma, seu novo álbum de composições autorais.
Carlota Albuquerque é pesquisadora de movimento com uma extensa trajetória de criação não apenas na área da dança, mas no teatro. É diretora e coreógrafa da Terpsí Teatro de Dança, de Porto Alegre, desde 1987, e diretora artística do Canoas Coletivo de Dança. Desde 2010, é professora de Poéticas Corporais do Curso de Formação de Atores da Casa de Teatro de Porto Alegre; e desde 2016, pesquisadora do Coletivo Gompa. Em 2010, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, da Presidência da República e Ministério da Cultura, pelo conjunto de trabalhos realizados pela arte no Brasil.
SERVIÇO
Idade é um sentimento
Com a atriz Gabriela Munhoz e intervenções cênicas de Paola Kirst
Direção geral de Camila Bauer e direção de movimento de Carlota Albuquerque
Estreia na programação do 18º Festival Palco Giratório Sesc
Dias 13 e 14 de novembro, quarta e quinta-feira, às 20h
Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Av. Independência, 75 – Porto Alegre/RS)
Ingressos: R$ 40,00 inteiro e R$ 20,00 meia-entrada
Pontos de venda: antecipadamente, online em sesc-rs.com.br/palcogiratorio ou nas unidades do Sesc/RS, e nos dias das apresentações, a partir das 19h, na bilheteria do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, conforme disponibilidade
Na programação do 31°Porto Alegre em Cena
Dia 23 de novembro, sábado, às 20h30
Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Av. Independência, 75 – Porto Alegre/RS)
Ingressos: R$ 40,00 inteiro e R$ 20,00 meia-entrada
Pontos de venda: no Sympla ou no andar térreo da Casa de Cultura Mario Quintana (rua dos Andradas, 736 – Centro Histórico), das 12h às 20h
Ficha técnica
Idade é um sentimento
Texto: Haley McGee
Tradução: Diego Teza
Direção: Camila Bauer
Com: Gabriela Munhoz e Paola Kirst
Direção de movimento: Carlota Albuquerque
Cenografia: Elcio Rossini
Desenho de luz: Ricardo Vivian
Colaboração artística: Helena Varvaki
Produção executiva: Santiago Vieira
Produção assistente: Michelle Perceval
Classificação etária: 16 anos
Duração: 60 minutos