Por Ricardo Kurtz, fundador e CEO do ZoOme.TV
As lives foram a salvação de um público entediado durante o primeiro ano da pandemia. Números recordes foram colecionados por alguns dos maiores artistas brasileiros como Marília Mendonça e Gusttavo Lima que superaram a marca de 40 milhões de usuários em apenas uma de suas lives.
No entanto, como a quarentena durou bem mais do que podíamos imaginar, esse formato acabou saturando e perdendo o fôlego a partir do segundo semestre de 2020. As audiências foram caindo e isso pode ser justificado por dois principais motivos: cansaço do público e pouca remuneração aos artistas.
Isso porque, embora as lives tenham conquistado diferentes patrocinadores enquanto a audiência atingia o seu ápice, elas estavam longe de remunerar os artistas como nos tempos tradicionais. Pense que antes da pandemia, era comum que um músico renomado chegasse a fazer em média 20 shows por mês. Já no formato online, as apresentações não passaram de uma a cada dois meses. Ou seja, não tem como a conta fechar, sobretudo para as equipes técnicas, bandas e todo stakeholder que sobrevive do entretenimento.
Por outro lado, o cansaço do público pelo formato, que em três meses após o pico já apresentava uma queda de interesse quatro vezes menor, fez também com que os patrocínios fossem reduzidos. Logo, diminuindo ainda mais a remuneração no setor musical.
O que o segundo ano da pandemia nos traz?
Enquanto amargamos ainda a convivência com o vírus, todos tivemos que nos adaptar para continuar escalando nossos negócios. Inovar durante uma crise é quase dar um cavalo de pau em transatlântico, mas o esforço sempre vale a pena. Olhando para o setor musical, no primeiro mês da pandemia, o ramo já apontava um prejuízo de R$ 480 milhões, segundo o Data Sim, núcleo de pesquisa da Semana Internacional de Música de São Paulo. Imagina em quanto está esse número atualmente?
Um novo formato de entretenimento, portanto, começa a surgir: o de espetáculos híbridos. Esses eventos surgem respeitando os padrões de segurança contra a proliferação da Covid-19, mas inovando o formato e trazendo benefícios ao público e, claro, aos músicos. Os shows online são mais atraentes que as lives tradicionais, eles são realizados com mais qualidade acústica, sem interrupções e, principalmente, sem aquele estilo “improvisado” comum das lives, que no começo até era um dos atrativos.
Dessa maneira, eles suprem a necessidade do público que ainda se encontra em casa nos tradicionais dias de lazer, e ainda garantem aos artistas o retorno da monetização através dos ingressos. Entretanto, por ser online, o preço acaba sendo muito menor que um show presencial – ponto para o público. Já para os artistas, esse preço não é prejudicial, já que a tecnologia faz com que o show tenha um alcance de público bem maior que o famoso eixo Rio-São Paulo. A ideia é que isso permaneça mesmo quando tudo voltar ao normal. Assim, os espetáculos poderão ser acessados por fãs que estão bem distantes de onde o show está acontecendo.
O Spotify, por exemplo, anunciou essa novidade há algumas semanas. O projeto da plataforma tem cinco atrações confirmadas, que vão se apresentar nos próximos meses com um preço de ingresso muito inferior ao que seria em um evento presencial. Aqui no Brasil, também demos o primeiro passo com o ZoOme.TV em relação ao retorno dos shows, com transmissão de dois espetáculos no primeiro final de semana de junho.
Os resultados nos mostram a força que o entretenimento tem, mesmo após 15 meses de pandemia. Apresentando shows com Gusttavo Lima e Wesley Safadão, com todo um aparato tecnológico e uma experiência de áudio inovadora, reunimos mais de 160 mil espectadores e 1,7 milhão de visualizações. Todos em suas casas, em qualquer canto do mundo. A plataforma, recém-lançada, conquistou um crescimento na base de usuários de 736%, um número muito positivo para uma estreia.
Outros grandes eventos também começaram a aderir à transmissão híbrida, o que não é nenhuma surpresa, visto que pesquisas mostram que o setor de eventos online cresceu 300% desde março do último ano, segundo a startup Even3. E pelo jeito, isso não vai retroceder mesmo quando voltarmos ao normal. Outra pesquisa realizada com 270 profissionais do segmento mostra que quase 80% das companhias pretendem manter esse formato de interação no futuro.
Ou seja, fomos forçados a adotar o digital para seguirmos durante a pandemia. E ele nos apresentou um novo formato de consumir entretenimento. A tecnologia está permitindo a retomada do setor de eventos, de forma livre, benéfica e sem fronteiras. E isso tem tudo para continuar. Será possível assistir uma peça teatral do sofá, em realidade aumentada? Ter um holograma do artista favorito da sala? Poder de casa acessar a melhor poltrona de um teatro? Bom, isso só o tempo irá dizer, o que é possível afirmar agora é que nesse momento a hora e a vez é da transmissão híbrida.