Quando se pensa em contar a vida de alguém no cinema, é talvez natural que o foco seja o de uma pessoa vitoriosa. Poucos são os casos em que o destaque vai para os derrotados. Esse é justamente o caso do filme francês ‘Sparring’, dirigido por Samuel Jouy, com o ator Mathieu Kassovitz como protagonista.
O sparring do título é um lutador que perdeu muitas mais lutas do que ganhou em seu cartel de 49 atuações. Prometeu à esposa largar a carreira na 50ª apresentação, mas isso significa aumentar os graves problemas financeiros do casal e abrir mão do piano que deseja comprar para que o filho aprofunde os estudos musicais.
Ele cria a oportunidade de sair desse círculo vicioso quando se oferece para atuar como sparring de um boxeador que precisa aprimorar seu treinamento para atingir o título europeu. Mas isso significa ser um saco de pancadas que passa por risco de lesões e de humilhações perante a equipe e o público.
É instaurado assim o drama do filme. A atuação do protagonista mostrar como somos preparados apenas para conhecer as histórias dos que atingem os primeiros lugares. Focar o sofrimento daqueles que não têm trajetórias gloriosas ou de redenção incomoda. E ver isso a cada instante cria uma atmosfera claustrofóbica que faz pensar – e muito!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.