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Sesc Pompeia apresenta estreia nacional de “Divina Valéria 80 – O Show Biográfico” em homenagem à primeira cantora trans a gravar um disco no Brasil

Em cena, ela se encontra com duas versões de si do passado interpretadas por Verónica Valenttino e Marina Mathey para apresentação única, dia 12/9, às 21h, no Teatro do Sesc Pompeia

 

Divina Valéria, desde sua estreia em 1964 tem feito uma carreira brilhante, seja como cantora em shows pelo mundo ou mais recentemente como atriz no cinema nacional. No país que mais mata travestis e pessoas trans, segundo dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), e em que a estimativa de vida chega a 35 anos, celebrar o aniversário de 80 anos e os 60 de carreira de Divina Valéria é uma declaração de resistência e amor à arte, à diversidade e à melhor idade.

Divina Valéria 80 – O Show Biográfico foi idealizado pela diretora Luh Maza, ela própria a primeira diretora trans do Theatro Municipal de São Paulo (Transtopia, 2019), primeira roteirista trans na TV brasileira (Sessão de Terapia, 2019) e primeira jurada trans do Prêmio Shell de Teatro (2021-2022). Admiradora de Divina Valéria, a quem descobriu bem jovem assistindo um programa de TV, Luh se aproximou da Divina Valéria no set de filmagens de seu próximo filme, o qual a convidou a protagonizar.

Inspirada pelas histórias impressionantes do passado e pela resiliência dessa artista que aos 80 anos enfrenta todos os desafios para seguir trabalhando com sua arte, a diretora imaginou uma série de ações que, além do filme, levaram Divina Valéria a estrelar uma campanha de beleza na internet chamada Eu Faço História Com Orgulho e agora estrear esse show cênico-musical para contar sua vida com a própria homenageada em cena.

Aprofundando sua pesquisa pela teatralidade em formatos não convencionais, Luh Maza estruturou o formato de um show com elementos narrativos – não só dramáticos como metalinguísticos. Para acompanhar Divina Valéria no palco, duas jovens cantoras e atrizes com afinidades musicais com a homenageada fazem um jogo para a construção ao longo do show da “persona” da diva divina. Assim, elas vão se transformando, mesclando suas próprias personalidades aos alter-egos da protagonista: Valéria, no início da carreira, e Divina, no período já consolidada.

 

As atrizes escolhidas foram, respectivamente, Marina Mathey (primeira trans a ganhar como melhor atriz coadjuvante o Prêmio Bibi Ferreira) e Verónica Valenttino (primeira trans a ganhar como melhor atriz o Prêmio Shell e como Revelação do Ano o Prêmio Bibi Ferreira), ambas pelo musical Brenda Lee – O Palácio das Princesas, 2021.

Para desenvolver a dramaturgia a partir dos relatos da Divina Valéria, além das muitas entrevistas em vídeo e materiais escritos como a biografia Divina Valéria (Editora Desacato, 2021) de Alberto Camarero e Alberto de Oliveira, Luh Maza convidou Ave Terrena (uma das primeiras autoras trans, ao lado de Ymoirá Micall, a ser indicada à melhor dramaturgia no Prêmio Shell de Teatro por Fracassadas BR, 2022). O roteiro perpassa a infância simples no Rio de Janeiro, a diva dos anos 70, seus amores e o encontro com o cinema, sempre marcados por um número musical, ora da própria Divina Valéria, ora da Verónica Valenttino ou Marina Mathey como suas versões.

A iluminação dramática e lúdica é de Felipe Leo Pardo (de shows da Letrux, Mãeana, entre outros), enquanto Divina Núbia (ela própria um ícone da travestilidade) é responsável pela caracterização e maquiagem. Os figurinos utilizados em cena são originais do acervo pessoal da Divina Valéria. Já a sonoplastia fica por conta do percussionista Caê Coragem (primeiro transmasculino indicado à melhor música no Prêmio Shell de Teatro por Wonder, 2021) que também integra a banda formada pelo experiente guitarrista Renato Baraldo e pelo maestro Tadeu Arrais no piano, um grande companheiro de palco da Divina Valéria.

O repertório, famoso na voz da protagonista reúne clássicos interpretados por suas musas e amigas como Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso e Emilinha Borba, além de compositores fundamentais da MPB como Cartola, Aldir Blanc e Caetano Veloso. Outros destaques são um clássico da canção francesa imortalizado por Edith Piaf, o maior standard de Frank Sinatra em versão em espanhol e uma incursão pelo bolero mexicano. A surpresa será uma música nunca interpretada por Divina Valéria em homenagem aos seus fãs de todas as gerações.

 

Divina Valéria

Retratada no documentário Divinas Divas (2016) de Leandra Leal, Divina Valéria é uma pioneira cantora e atriz trans. Quando criança ganhou concursos de rádio e estreou profissionalmente em 1964 em plena ditadura militar brasileira. Integrou o primeiro grande espetáculo nacional com mulheres trans e travestis: Les Girls (1964) e pela gravadora Mocambo, lançou um compacto que é o primeiro disco de uma cantora trans no Brasil: Valéria, Travesti (1966).

Na sequência, Valéria iniciou uma carreira internacional com a maior casa de shows de travestis do mundo: Le Carrousel de Paris, fazendo sucesso por toda Europa, América Latina e até na Ásia. Nos anos 1970 se tornou uma estrela do showbusiness brasileiro estrelando matérias nos jornais e lotando shows ao lado de mestres da música como Luis Carlos Miele, Augusto César Vanucci e Ronaldo Bôscoli. Foi nesta época que foi imortalizada em pintura de seu amigo Di Cavalcanti.

Com sua voz, Divina Valéria superou preconceitos e levou sua arte para o mundo todo. Mas nem sempre o céu foi iluminado para essa estrela. Seu maior sonho na juventude era o de aparecer na televisão brasileira, o que era proibido pela censura. Só em 1986 ela participou de um programa nacional, simplesmente o de Hebe Camargo. Já em 2022, Divina Valéria interpretou a si mesma na novela das 9 da Rede Globo: Travessia. O sucesso foi tanto que ela ficou até o final.

Nas décadas mais recentes, além de seus shows, Divina Valéria pôde ser vista nos cinemas, com destaque para o documentário Divinas Divas (2016) de Leandra Leal, que reuniu oito artistas trans pioneiras e amigas de Valéria como Rogéria, Jane di Castro e Eloína, esta última, ao lado de Divina Valéria, são as únicas remanescentes. Na ficção, atuou em filmes como Cidade Baixa (2005) de Sérgio Machado e chegou a receber o prêmio máximo do cinema brasileiro: o Kikito do Festival de Gramado por Marie (2019) de Leo Tabosa. Em 2024 Divina Valéria estreia o filme Insubmissas (Nada Somos) dirigido por Luh Maza.

Ficha técnica

Cantora: Divina Valéria
Com Verónica Valenttino e Marina Mathey

Concepção e direção: Luh Maza

Dramaturgia: Ave Terrena

Sonoplastia e percussão: Caê Coragem

Piano: Maestro Tadeu Arrais

Guitarra: Renato Baraldo

Iluminação: Felipe Leo Pardo

VJ (projeções): Ayo Lima

Equipe técnica de som: Gabú e Lina das Santas

Caracterização e maquiagem: Divina Núbia

Perucas: Rony Matos

Fotos: Luciana Zacarias

Assistência de produção: King de Xangô

Produção executiva: Náshara Silveira

Realização: Maza Produções Artísticas e SESC São Paulo

 

Serviço

Divina Valéria 80 – O Show Biográfico

Dia 12.09, quinta-feira, às 21h.

Local: Teatro Não recomendado para menores de 12 anos

 

Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Ingresso: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada), R$18 (credencial plena)

Não temos estacionamento.
Para informações sobre outras programações, acesse o portal: sescsp.org.br/pompeia

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