Escritor, filósofo e pesquisador Fabiano de Abreu introduz o conceito de “fake econômico”, que são contas e perfis reais que só contam números e não mobilizam a economia e a indústria do entretenimento.
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O país vive um momento difícil em sua economia, e isso se reflete na sociedade. A demanda por eventos e o mercado que representa a indústria do entretenimento diminui, ao passo que a internet aumenta seu poder de influência e de propagação de conteúdo.
O filósofo e pesquisador Fabiano de Abreu tem levantado a questão da relevância da rede social e dos influenciadores digitais no Brasil e na Europa, em especial em contexto de crise econômica, que muda o perfil de consumo de cultura e entretenimento: “um país em crise, em que a maioria encontra-se em situação de menor poder aquisitivo, as casas de show estão esvaziadas. O público deixa de consumir cultura da forma tradicional, e passa a visualizar vídeos na internet, e a seguir influenciadores nas redes sociais. Isso não se reverte necessariamente em bilheteria, mas conta como um número importante para os artistas brasileiros e internacionais”. Comenta Fabiano.
O filósofo traz como exemplo a situação do Rio de Janeiro, uma cidade que ora foi protagonista da cena cultural brasileira, e hoje enfrenta uma crise em todos os setores: “No Rio, os donos das casas de show e boates reclamam da queda do movimento, ao passo que os artistas reclamam que não terem agenda de shows. Já não há tantas casas de show em funcionamento como há 15 anos atrás, e a crise financeira e a violência são os principais culpados. Com medo, as pessoas não saem às ruas, consumindo mais ainda conteúdo da internet, como Netflix e YouTube”.
Fabiano introduz assim em sua pesquisa o conceito do “fake econômico”: pessoas de verdade, com perfis reais, mas que não movimentam a economia, o mercado do entretenimento. Curtem e visualizam conteúdo, mas não fazem a roda girar, não vão a shows, não compram produtos, não adquirem música online e não assinam o Spotify, por exemplo.
Os artistas tem se preocupado com seus números nas redes sociais, que são termômetros de sua influência. Contudo, Fabiano aponta que as pessoas reais estão se tornando “fake da vida real”: “ são perfis reais, de pessoas reais como eu e você, mas que só contam número para as estatísticas mas não movimentam o mercado, e isso explica porque a indústria do entretenimento está decadente. É o fake da vida real, que só conta número. Com o brasileiro ficando em casa por conta da crise e da violência, estamos no top 3 dos países que mais gastam tempo na internet. O americano, por exemplo, compram música online no iTunes, adquirem produtos online de seus artistas favoritos, e envolvem-se em uma cadeia de consumo. Já o brasileiro, em geral não consome nada, e quando consome, é download ilegal, pirata”.
Apesar de não movimentar a economia, os números na rede social importam, e muito, para os artistas e celebridades em diversos aspectos. No afã de parecer mais relevante e superar a questão da crise, com a queda do numero de agendas e shows, e assim conseguir contratos publicitários, alguns artistas e aspirantes a celebridade tem usado desses meios de compra de seguidores para convencer investidores e contratantes. Mas para Fabiano, essa contas fake são uma manobra arriscada: “Embora sejam falsas, essas contas são criadas por pessoas reais e com interesses nada virtuais. Elas contam números para que os artistas alcancem seus objetivos de fama, audiência, relevância para publicidade, mas não movimentam nada de fato. Hoje em dia existem softwares de auditoria, que checam o numero de seguidores falsos”. Conclui Fabiano.