A cantora e compositora mineira Amanda Prates volta à cena musical com novo trabalho, o álbum “Nação Subterrânea”. Com 12 canções, sendo 11 inéditas, entre composições próprias e de outros artistas, o disco canta vários ‘Brasis’, em um projeto que se apodera das referências tradicionais da canção brasileira, mas que aponta para o contemporâneo. Entre as músicas estão “Ruge Leão, Troveja Xangô”, de Douglas Germano e Fábio Peron, e “Subterrânea”, do cantor e compositor amazonense Thiago Thiago de Mello – filho do grande poeta Thiago de Mello – e Allan Carvalho, que norteia o nome do disco. O lançamento será no dia 8 de novembro, em todas as plataformas digitais: Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music, Tidal, YouTube Music, Qobuz e Claro Música. Mais informações no Instagram @apratesa.
“Nação Subterrânea” traz canções inéditas compostas por Amanda Prates, como “O Adivinho”, “Lágrimas de Exu”, “Promessa” e “Senhora”, além de “Oração (Marcela Nunes), “Subterrânea” (Thiago Thiago de Mello e Allan Carvalho), “Remendo” (Clara Delgado e Davi Fonseca), “Alumia” (Sérgio Pererê), “Mama Mata” (Thiago Thiago de Mello e Joãozinho Gomes), “Ruge Leão, Troveja Xangô” (Douglas Germano e Fábio Perón), “Quatro Cantos” (Marcela Nunes) e “Quem não tem canoa cai n´água” (regravação de Zé Manoel). “Eu não queria gravar um álbum somente com composições de minha autoria. Estava desejosa por conhecer outros nomes, por trazer à minha maneira de interpretar e cantar coisas que não, necessariamente, faziam parte da minha estética de composição”, diz Amanda Prates.
A cantora lembra que o trabalho começou a ser pensado antes da pandemia, em 2019, e foi provocado pelo músico Leandro César. Na época, Amanda e Leandro trabalhavam juntos no álbum “Korin Irê, do Terreiro de Candomblé Ilé Wopo Olojukan”, ele como produtor e ela como idealizadora e coordenadora do projeto. “O processo de criação, que envolvia o aprendizado dos cânticos, a gravação em estúdio, foi tão intenso, com tanta entrega, que o Leandro começou a me instigar para gravar um novo álbum solo. Em 2020, entramos na pandemia e comecei a colocar esses desejos no papel e, em 2021, iniciamos a pesquisa por novas composições, nomes de compositores da atualidade que pudessem ser gravados e que, de alguma forma, reuniam o que eu gostaria de cantar. Essas canções foram chegando, algumas minhas foram entrando, e aí chegamos a 12 músicas, sendo 11 inéditas e uma regravação, de Zé Manoel”, conta Amanda.
O nome do álbum, “Nação Subterrânea”, nasce da canção “Subterrânea”, do compositor, cantor e poeta amazonense Thiago Thiago de Mello (filho do grande poeta Thiago de Mello), em parceria com o compositor paraense Allan Carvalho. Amanda Prates define a música como “a canção que norteia o coração do trabalho”. “Este projeto caminha por canções como ‘Subterrânea’, exaltando as matas, os caboclos, canta os orixás, emanando sentimentos que nos remetem ao agradecer e o evocar. Quando ouvi a música pela primeira vez, eu fui arremetida a um Brasil pouco tocado, a um Brasil profundo, e tive a certeza de que gostaria de gravá-la. A letra traz uma frase que diz: ‘Tem um Brasil no Brasil uma nação subterrânea, sanguinária e gentil’. Isso me faz lembrar de uma viagem que fiz, quando estava no mercado Ver – o – Peso, em Belém. Eu tomava um sorvete chamado “mestiço” de açaí e tapioca. Aquela mistura de sabor, os cheiros únicos ao redor e a vista da baía do Guajará, me fizeram chorar profundamente, pois nunca tinha sentido aquele Brasil.”
“Nação Subterrânea” teve o primeiro single apresentado ao público em 2023, quando Amanda Prates lançou, nas plataformas digitais, a canção de sua autoria, “Promessa”. A artista comenta que a música abriu o trabalho como uma amostra de como ela gostaria que o álbum fosse visto: “Positivo, solar e festivo. E com a confiança de alguém que reconhece que ‘saudade que nasce é festa’, num movimento de dizer sim para essa nova fase que se apresenta na minha trajetória musical.”
O segundo single lançado é “Ruge Leão, Troveja Xangô”, de Douglas Germano e Fábio Peron (https://open.spotify.com/intl-pt/album/11Ghfqo74gTdVHOHfnsYVw?si=Pu-c5x_NROWW dNhjjf1vQ), cedido, gentilmente, para Amanda Prates cantar em “Nação Subterrânea”. “Eu já admirava o trabalho do Douglas Germano, por conta da banda paulista Metá Metá. Lembro-me de que quando chegamos ao seu nome, achei que não daria certo. Eu estava retomando a performance e sendo Douglas um compositor importante da nossa cena musical nacional, não achei que ele me daria atenção. E para minha surpresa, ele retornou com muita generosidade e uma canção inédita. Em ‘Ruge Leão, Troveja Xangô’ eu pude compreender caminhos que constituem o meu álbum”, celebra Amanda Prates.
A leitura da cantora para “Ruge Leão, Troveja Xangô”, acolhida no arranjo de violão, sopros, baixo e percussão, resultou em uma deliciosa canção ligeira cuja ginga remete aos sambas de terreiro, ao latin jazz. A interpretação faz uma alusão também, às canções da santeria cubana, ao propor um vocal “apaixonado e visceral”. “Essa música chega trazendo consigo o desejo de encontrar o meu espaço, como um lugar merecido e que precisa ser ouvido. A energia vibrante dessa canção permite, como no primeiro single, ‘Promessa’, apontar para o novo que se apresenta de maneira muito positiva e solar. Uma canção de energia alta para fazer vibrar e anteceder como eu gostaria de ser recebida”, comenta Amanda.
A faixa, resultante do primeiro contato de Amanda Prates com uma canção inédita de Douglas Germano e Fábio Peron, “exalta um Brasil cantado nos terreiros e nas esquinas, faz ecoar a energia desse orixá, numa interpretação que deseja lançar brasa nos corações dos ouvintes”, define a cantora. “Cantar uma canção que menciona um orixá é de extrema responsabilidade com a energia que carregamos. Energia que transborda ao cantar, no ponto mais agudo da música, uma saudação a esse orixá, Xangô. Uma canção que se estrutura como um samba, mas entendo como um afro-samba, dada a sua estrutura rítmica, que se alinha ao alujá, ritmo tocado para esse orixá.”
As possibilidades sonoras de “Ruge Leão, Troveja Xangô” têm muito a ver com as escolhas estéticas do álbum “Nação Subterrânea”. A música é uma amostra da identidade musical que está renascendo em cada escolha do novo álbum de Amanda Prates. Aspecto que ela nomeou de “mandinga” ou uma forma de se olhar para/fazer música: “A mandinga está fundamentada no ritmo, na melodia e no contexto das letras. Mandinga para mim está presente como a possibilidade de fazer algo acontecer, partindo da matéria musical fundamentada no magma deste país.”
Amanda sublinha que a sua maneira de criar música perpassa pelo desejo de tocar a essência da canção. “Ou mais diretamente, a presença que brota ao cantar uma cantiga tradicional e o soar contemporâneo, ao propor arranjos que experimentem novos caminhos, ou se reconheçam em nichos mais amplos, como o latinjazz, sendo ao mesmo tempo, muito orgânico e brasileiro.”
Amanda Prates
O dom para a música se manifestou em Amanda Prates quando ainda era bem pequena. Aos cinco anos de idade, ela já dava sinais para a família. “Me contam, que aos 5 anos, eu cantava “Carinhoso” de Pixinguinha e João de Barro, de cor. Colocava a família sentada aos domingos para ouvir e ver minha “apresentação”. Fato curioso das minhas escolhas musicais, foi preferir por longos anos, canções mais densas, dramáticas. Cantarolava pela casa “Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor…” ou “Lava roupa todo dia, que agonia…” É certo que também fui influenciada pelo gosto musical da minha mãe, que ouvia Ray Charles, The Supremes, Ella Fitzgerald.”
A sua paixão pela música brasileira veio aos 15 anos, quando iniciou seus estudos em canto, podendo se aprofundar em Cartola, Elis Regina, Dorival Caymmi,Caetano, entre outros. Iniciou cantando em bares e festas, e teve a sua primeira experiência profissional aos 18 anos, quando cantou no carnaval de Conceição do Mato Dentro (MG). “E nesse mesmo período, iniciei o meu trabalho de preparadora vocal, área em que sigo atuando. A composição veio surgindo, à medida em que minha musicalidade amadurecia. Não sou instrumentista, então o meu processo de composição é conduzido pela voz. O tema surge, registro em um aplicativo de gravador e depois recorro aos temas, para desenvolvê-los.”
Entre 2009 e 2014, Amanda Prates fundou e coordenou o Grupo Girau. Dessa fase, foram produzidos dois trabalhos autorais que se configuram em dois álbuns, mas que não chegaram a ser lançados. “Mas ainda pretendo retomar esse material, em algum momento”, garante Amanda.
A carreira pessoal e profissional de Amanda Prates também foi permeada pelo teatro. Foi a partir dos processos que envolvem a criação teatral que a artista pôde perceber o corpo do ator/performance, a relação com o canto e suas estratégias para compreender a presença que decorre dessa troca: o canto, o corpo e a cena. “Acho que é daqui que decorre o tom “cerimonial” que sinto em palco. Os cantos tradicionais, como os cantos de trabalho, cantigas de xirê do candomblé, passaram a constituir parte da sua pesquisa que visava compreender a essência que uma cantiga carrega e esses cantos, juntamente com as tantas referências que já carregava, foram moldando à minha maneira de interpretar.”
SERVIÇO
Lançamento do álbum “Nação Subterrânea”
Amanda Prates
Dia 8 de novembro
Nas plataformas: Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music, Tidal, YouTube Music,
Qobuz e Claro Música.
Mais informações no Instagram @apratesa