Sucesso de público e crítica, o espetáculo rendeu 6 indicações ao Prêmio Bibi Ferreira, tendo Brian Penido Ross nomeado Melhor Ator. O espetáculo do final do século 19 toca em assuntos relacionados à ecologia, feminismo, disputa de terras e relações amorosas.
Crédito: Fotos Gutierrez
Em 27 de junho (6ª feira), o Teatro Moise Safra, na Barra Funda, recebe o espetáculo Tio Vânia, sucesso do Grupo TAPA.
A temporada segue até o dia 13 de julho, com sessões de sexta a domingo, e faz parte da nova fase do teatro, agora com uma proposta expandida de atividades culturais.
O Grupo TAPA completava 20 anos de estrada quando estreou Ivanov. Nas comemorações de 40 anos, foi a vez de montar O Jardim das Cerejeiras. Agora em junho, completando 46 anos de história, o TAPA reestreia um clássico de Anton Tchekhov (1860-1904). O espetáculo rendeu 6 indicações ao Prêmio Bibi Ferreira, tendo Brian Penido Ross nomeado Melhor Ator. Com direção de Eduardo Tolentino de Araujo, Tio Vânia reestreia no dia 27 de junho, sexta-feira, às 20h, no Teatro Moise Safra. A tradução da peça foi feita diretamente do russo pelo próprio diretor e tem uma edição da Edusp na coleção Em Cena. A temporada vai até 13 de julho, com sessões de sexta a sábado às 20h e domingos às 19h.
Anna Cecília Junqueira (Sônia), Brian Penido Ross (Tio Vânia), Bruno Barchesi (Astróv), Camila Czerkes (Helena), Eliana Guttman (Maria), Tato Fischer (Bexiga), Walderez de Barros (Marina/Babá) e Zécarlos Machado (Serebriakov).
Escrita em 1896, a trama mostra o proprietário de terras, Ivan (Vânia); sua sobrinha Sônia e Astróv, o médico da família, e suas vidas desestabilizadas após chegada do célebre professor Serebriakóv, agora aposentado, e de sua jovem e bela esposa Helena. Polarizações ideológicas, contendas familiares, emancipação feminina, a hipocrisia da fidelidade conjugal se cruzam por fios invisíveis do texto que transcende seu tempo, espaço, além de uma reflexão sobre o meio ambiente, que situa a obra de Tchekhov no aqui e agora.
“Todo mundo tem um Tio Vânia, que nas festas familiares diverte as crianças com truques e comentários escatológicos e aos adultos com piadas picantes que, ao subir do teor etílico, vão se tornando ácidas, até ficarem desagradáveis por colocar o dedo em feridas ocultas da família. Ser parente não é prerrogativa, ele é chamado de Tio pelos amigos do sobrinho. Sua condição inerente é ser tio. Ele é o homem comum, atolado em dívidas, exaurido pela mediocridade a sua volta, descrente da política e cansado dos discursos e teorias inexequíveis. Tio Vânia são os nossos vizinhos, ou melhor, nós mesmos, com nossas frustrações. Todo Tio Vânia tem um amigo para discutir, polemizar, divergir e com isso se manter vivo e cativar a atenção da plateia familiar”, salienta Tolentino.
O diretor ainda ressaltou os temas que circulam em torno da trama. “Entre as várias camadas, duas questões acabam girando entre os personagens: A terra como propriedade privada e a terra como propriedade da humanidade. A história gira em torno de uma família que briga pela posse da terra e um personagem que reforça a questão do reflorestamento e esgotamentos dos rios. Em meio a isso, existem as relações amorosas que vão se misturando. São reflexões que dialogam em cheio com a atualidade que vivemos”.
Uma das marcas do dramaturgo é o equilíbrio entre os personagens, nenhum se sobrepõe ao outro, todos têm a mesma importância para atingir o resultado final da obra. Em cena, o Tapa une diversos atores de sua história como Anna Cecília Junqueira, Brian Penido Ross, Bruno Barchesi, Camila Czerkes e a participação especial de Zécarlos Machado que interpretou o personagem título Ivanov em 1998 na primeira incursão em Tchekhov do TAPA. O ator também foi o protagonista do recente Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho, papel que lhe rendeu a indicação de melhor ator no Prêmio Shell e ganhador do prêmio de atuação no Festival Internacional de Angra dos Reis.
Tio Vânia marca um reencontro presencial importante do grupo com Walderez de Barros após 30 anos. A última colaboração presencial com a atriz foi em Querô, Uma Reportagem Maldita, de Plínio Marcos, em 1993. Ambos estiveram juntos em As Portas da Noite, de Jacques Prévert, em uma versão digital durante a pandemia. O espetáculo também marca a volta de Lilian Blanc ao TAPA, local de sua estreia profissional nos anos 90.
Após o sucesso de A Gaivota, que definiu os rumos do Teatro De Arte de Moscou dirigido por Constantin Stanislavski, Tio Vânia foi escolhida para ser a produção sucessora. A montagem foi amadurecendo ao longo do tempo, e conquistou o público e a crítica, cada vez mais familiarizados com as inovações desta dramaturgia. O clássico ganhou adaptações ao redor do mundo, inclusive no cinema. Teve encenações russa ortodoxa, soviética, novaiorquina, pós-moderna, argentina, inclusive com direção de Daniel Veronese, além de algumas versões brasileiras.
O diretor Eduardo Tolentino ressalta o legado do autor russo. “Existem três grandes movimentos do teatro, os gregos, os elisabetanos (Shakespeare) e os russos dos quais Tchekhov é a sua mais completa tradução. Ele retratou o realismo burguês, inseriu elementos na dramaturgia, os textos são sonatas em quatro atos e os temas se cruzam como em um concerto e se estruturam praticamente em um romance, onde o que importa é o que está por trás do que é dito. Tchekhov é a quintessência do que existia de literatura, artes plásticas, teatro, música na Rússia durante o século 19. Ele escreveu teatro como ninguém tinha feito até então”.
MUITO ALÉM DE UMA SALA DE ESPETÁCULOS…
Após um período de reestruturação, o Teatro Moise Safra retoma suas atividades com uma proposta renovada: mais do que uma sala de espetáculos, o espaço se consolida como um centro de convivência e reflexão.
Além das apresentações teatrais, o local passa a receber palestras, cursos, atividades formativas, encontros culturais, gravações de podcasts e experiências interativas, criando uma agenda dinâmica, diversa e voltada para a democratização da cultura.
A nova fase começou com Marco Nanini interpretando Traidor , de Gerald Thomas, e segue com o Grupo TAPA apresentando Tio Vânia e Escola de Mulheres.
Nos meses seguintes, a programação inclui a gravação de podcasts, sessões de stand-up e outros grandes nomes das artes e do entretenimento nacional.
FICHA TÉCNICA – TIO VÂNIA
Texto: Anton Tchekhov. Direção e tradução: Eduardo Tolentino de Araujo. Elenco: Anna Cecília Junqueira (Sônia), Brian Penido Ross (Tio Vânia), Bruno Barchesi (Astróv), Camila Czerkes (Helena), Eliana Guttman (Maria), Tato Fischer (Bexiga), Walderez de Barros (Marina/Babá), Zécarlos Machado (Serebriakov). Contrarregras (criados): Adriano Bedin e Vera Espuny. Desenho de luz: Wagner Pinto. Assistente de Iluminação: Gabriel Greghi. Direção Musical e Trilha Sonora: Tato Fischer. Aderecista (mapas): Jorge Luiz Alves. Design Gráfico: Nando Medeiros. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Cenotécnico: Nilson Batista. Costureiras: Judith Lima e Ivete Dias. Operação de Luz: Ícaro Gerizani. Redes Sociais: CANNAL Mídias Digitais. Assessoria de Imprensa: Manoela Vergamini. Assistentes de Produção: Gabi Woods e Patrícia Maruccio. Produção Executiva: Nando Medeiros, Marcela Donato e Rafaelly Vianna. Direção de Produção: Ariell Cannal.
SERVIÇO – TIO VÂNIA – Teatro Moise Safra
Temporada: De 27 de junho a 13 de julho de 2025.
Sextas e sábados, às 20h;
Domingos, às 19h.
Ingressos:
Social: De R$ 25 a R$ 50 (sujeito a disponibilidade)
Inteira R$ 80
Meia Entrada: R$ 40
Classificação: 14 anos. Duração: 120 Minutos