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Viver de dança no Brasil: um sonho possível?

A vida de um bailarino no Brasil é marcada por uma paixão avassaladora pela dança, mas, também, por uma árdua realidade repleta de desafios e incertezas. Para aqueles que sonham em viver da arte da dança, o caminho é árduo e exige persistência, resiliência e, muitas vezes, sacrifícios.

Jornada incerta em busca de um sonho

A maioria dos bailarinos brasileiros enfrenta uma rotina de treinos exaustivos, horas intermináveis de dedicação e uma remuneração precária. A falta de oportunidades de trabalho formal, a instabilidade financeira e a precariedade das condições de trabalho são realidades constantes para muitos artistas. Segundo pesquisa realizada pelo Sindicato dos Profissionais de Dança do Estado do Rio de Janeiro (SPDRJ) em 2021, 75% dos bailarinos brasileiros recebem menos de R$ 2mil reais por mês, o equivalente a pouco mais que um salário mínimo.
Para muitos, conciliar a dança com outras atividades para garantir a subsistência é uma necessidade. Trabalhos fora do mercado da arte se tornam complementos para a renda, dividindo o tempo e a energia entre a paixão e a necessidade de sobreviver. Camila Morena dança desde os quatro anos de idade, e mesmo tendo uma carreira repleta de experiências relevantes, ainda precisa trabalhar fora da dança para conseguir se manter. “O mercado da dança no Brasil ainda está em formação. São poucos os artistas que contratam bailarinos para shows e videoclipes e, com a economia em crise, não existe verba para arte que sustente um salário digno para quem trabalha com dança no Brasil”, reclama.
Mesmo fazendo parte da filial brasileira da companhia da Millennium Dance Complex, uma das principais escolas de dança do mundo e ter treinado com coreógrafos renomados como Jessi Muller, Jo Cardoso, Bruno Barbosa, Rômulo Vlad, dançado em projetos de grandes artistas como Now United, Ludmilla e Pabllo Vittar, representado marcas mundialmente reconhecidas como Samsung, YSL e Adidas, além de ter coreografado videoclipes para artistas como Jenni Mosello e Giana Mello e dançado em shows para mais setenta mil pessoas com o DJ LS, a instabilidade do mercado brasileiro de dança não garante à Camila uma remuneração regular.
Juana Martello também tem uma bagagem de respeito. Realizou o espetáculo “DITA” como protagonista, sob a direção de Fernanda Fiuza, Flavio Verne, Netto Soares e Pedro Reis, coreógrafos renomados, com quem trabalha com frequência. A convite desses coreógrafos, participou como diretora e dançarina em performances como “Behind the chair Show” da Truss Hair e dos ensaios para o Coachella, com Pabllo Vittar. Além disso, fez parte de videoclipes como dançarina e assistente de movimentos, de artistas brasileiros renomados como: Anitta, Luisa Sonza, Tiago Abravanel e Projota. E mesmo com toda essa bagagem, ela preferiu ir para os Estados Unidos em busca de valorização. “Eu amo demais a nossa cultura, acho que a indústria ainda tem muito a crescer no Brasil, mas ainda não somos tão valorizados e não sentia que o mercado brasileiro tinha muito espaço pra mim, para o que buscava e queria com a minha carreira”, diz.
Obstáculos que impedem o sonho

A infraestrutura precária, com salas de ensaio inadequadas e a escassez de recursos para produção de espetáculos, dificultam o desenvolvimento profissional dos bailarinos. A falta de acesso à educação formal em dança e a dificuldade em obter financiamento para projetos também são obstáculos que impedem o crescimento do setor. Um estudo do Centro de Pesquisa em Dança da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado em 2020, aponta que apenas 30% das escolas de dança no Brasil possuem salas de ensaio com condições adequadas para a prática.
Além disso, a dificuldade em obter financiamento para projetos também é um desafio constante. A Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), principal mecanismo de fomento à cultura no Brasil, destina apenas 3% dos recursos para projetos de dança, segundo dados do Ministério da Cultura de 2023. A desvalorização da arte pela sociedade brasileira também contribui para a dura realidade dos bailarinos. A falta de reconhecimento e apoio público, muitas vezes, faz com que a dança seja vista como um hobby ou um passatempo, e não como uma profissão séria e digna.
Lutando por condições dignas de trabalho

Embora o cenário da dança no Brasil ainda apresente diversos obstáculos, a perseverança e a criatividade dos bailarinos brasileiros são notáveis. Diante das dificuldades, eles encontram maneiras de driblar os desafios e se destacar, mesmo que isso custe um alto preço em termos de tempo, energia e recursos. Camila acredita que a determinação e o planejamento são fundamentais: “Sou uma pessoa determinada e vejo obstáculos como oportunidades. Acredito que todo sonho é possível com muita dedicação e busco sempre mapear os caminhos até lá.” Ela conta que planeja a carreira nos mínimos detalhes há muitos anos e que tudo o que faz tem intencionalidade. “Isso faz toda a diferença”, reforça.

 

Juana aposta na versatilidade: “eu estou sempre treinando vários estilos, me jogando em aulas diferentes. Já fui ginasta, fiz circo. Mas acho que além da dança, é sobre ser profissional também. Existem milhares de dançarinos mega talentosos, mas tenho consciência que alcancei minhas conquistas por ser focada, responsável, organizada, concentrada e atenta”, comenta.
A internet também tem se tornado uma ferramenta importante para a divulgação do trabalho dos bailarinos, possibilitando que eles alcancem um público maior e consigam monetizar sua arte.

“Hoje em dia, as redes sociais se tornaram um portfólio visual para quem trabalha com arte. Muitos trabalhos que consegui foram porque viram meus vídeos na internet e quiseram me contratar. Foi-se o tempo em que bailarinos precisavam investir apenas em aulas de dança para serem vistos. Os vídeos nas redes sociais acabam sendo muito importantes para divulgar nosso trabalho”, explica Camila, que aposta em videos de alta qualidade em seus perfis e tem mais de 70 mil seguidores no Tiktok.
Transformar a vida dos bailarinos brasileiros em uma realidade digna e justa exige um esforço conjunto do governo, das instituições culturais, da sociedade e dos próprios artistas. Através de políticas públicas eficazes, iniciativas de apoio e valorização da arte, o sonho de viver da dança no Brasil pode se tornar mais do que um mero sonho, mas sim uma realidade palpável para aqueles que dedicam suas vidas à essa forma de expressão tão rica e inspiradora.
O investimento na área da cultura, com direcionamento específico para a dança, é fundamental para a construção de um cenário mais propício para os bailarinos. Isso inclui o apoio à formação de profissionais, à criação de companhias de dança, à produção de espetáculos e à realização de eventos que valorizem a arte. A formalização do trabalho dos bailarinos, com a criação de contratos justos e a garantia de direitos trabalhistas é fundamental para garantir uma remuneração digna e melhores condições de trabalho. Além disso, as leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet, precisam ser reformuladas para facilitar o acesso dos bailarinos aos recursos, diminuindo a burocracia e garantindo maior transparência na aplicação dos fundos.

Fontes:

Camila Morena

Camila Morena tem apenas 23 anos e começou sua jornada na dança aos quatro anos de idade, com o grupo Primeiro Ato, em Belo Horizonte. Ao longo dos anos, estudou diversos estilos com professores renomados, inclusive em seu intercâmbio para Nova York para estudar no Broadway Dance Center Winter Program, quando tinha apenas 15 anos. Em 2021, se mudou para São Paulo para buscar oportunidades de carreira, e fez parte da companhia da Millennium Dance Complex, uma das principais escolas de dança do mundo, em sua filial brasileira. De 2021 a 2024, Camila teve o privilégio de treinar com coreógrafos renomados como Jessi Muller, Jo Cardoso, Bruno Barbosa, Rômulo Vlad, entre outros.

 

Em Janeiro de 2024 foi para Los Angeles estudar nas maiores escolas de dança do mundo, como a matriz da Millennium Dance Complex, a Movement Lifestyle, entre outras. Seus professores incluem JoJo Gomez (que já trabalhou com artistas como Demi Lovato e Tinashe) e Rich&Tone, que fizeram algumas das coreografias mais famosas do mundo como “Get Right” de Jennifer Lopez, além de turnês com Michael Jackson, Madonna, entre outros gigantes do entretenimento. Desde que chegou à cidade das estrelas, Camila tem impressionado os mais renomados coreógrafos com sua paixão, técnica e dedicação.

 

Camila teve a oportunidade de dançar também em projetos de grandes artistas como Now United, Ludmilla e Pabllo Vittar. Trabalhou com marcas mundialmente reconhecidas como Samsung, YSL e Adidas e coreografou videoclipes e shows para artistas como Jenni Mosello e Giana Mello. Recentemente assinou contrato com uma agência de dançarinos americana que agencia grandes nomes do universo da dança como Parris Goebel, que atualmente coreografa os trabalhos da cantora Rihanna.

 

Juana Martello

Realizou o espetáculo “DITA” como protagonista, sob a direção de Fernanda Fiuza, Flavio Verne, Netto Soares e Pedro Reis, coreógrafos renomados com quem trabalha com frequência. A convite desses coreógrafos, participou como diretora e dançarina em performances como “Behind the chair Show” da Truss Hair e dos ensaios para o Coachella, com Pabllo Vittar. Fez parte de videoclipes como dançarina e assistente de movimentos, de artistas brasileiros renomados como: Anitta, Luisa Sonza, Tiago Abravanel e Projota. Dançou em eventos de marcas como Boticário, Jequiti, Hinode e Chilli Beans e em comerciais das gigantes Jim Bean, Snapchat, Latam, Google, Samsung e Bradesco. Desde que chegou na cidade dos anjos, participou como dançarina, diretora e produtora em projetos das cantoras Naika (haitiana/francesa), Elyanna (palestina) e Karol G. (colombiana).


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