O filme ‘Roma’, de Alfonso Cuarón, vem sendo considerado um dos melhores de 2018 e já foi premiado em Veneza e no Globo de Ouro. A belíssima fotografia em preto e branco e a forma de condução da narrativa são duas das principais qualidades ao enfocar ações do cotidiano da classe social abastada do México numa dimensão épica.
No mínimo, duas cenas do filme são antológicas, constituindo aulas de cinema e de humanidade: o momento em que a bebê da empregada doméstica que protagoniza a obra nasce morta; e o em que ela salva duas as crianças de se afogarem. São instantes que valem como formas de pensar a relação de cada um de nós com o mundo.
É exatamente disso, dos elos entre as pessoas e delas com a sociedade, que o diretor Afonso Cuaron está falando o tempo todo. A dona de casa abandonada pelo marido, a empregada largada grávida pelo namorado, que pratica artes marciais e as discussões internas entre as quatro crianças da família são espelhos dos conflitos humanos.
E tudo isso não deixa de lado as questões sociais, com manifestações estudantis, pobreza e violência urbana. A forma de integrar questões individuais com públicas e de dar ao cotidiano uma dimensão dramática diferenciada tornam o filme majestoso e sensível, numa jornada para a dimensão interna de cada um de nós.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.