Este projeto tem o patrocínio do Instituto Unimed BH.
Após circular por praças e parques de BH com seu novo trabalho “O Sopro do Outro”, a Quik Cia de Dança realiza, no dia 3.12, próxima terça-feira, a roda de conversa “Desmontagem”. A partir de um bate-papo descontraído com o público e estudantes de arte, a companhia conta como foi o processo de criação da performance que circulou por oito praças e parques da capital mineira, entre setembro e outubro deste ano. O evento será das 19h às 22h, na Escola Livre de Artes Arena da Cultura, aberto a alunos da instituição e público em geral. Mais informações no instagram @quikciadedança. Com patrocínio do Instituto Unimed BH, este projeto de Nº 1549/2022 é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
“A desmontagem cênica é uma prática na qual o artista apresenta o passo a passo da construção de seu trabalho, apresentando ao público as etapas do processo criativo. Durante o encontro, o diretor e a equipe de bailarinos compartilharão suas experiências e trajetórias, recriando momentos do processo e dialogando diretamente com o público sobre as escolhas artísticas, desafios e descobertas. Essa troca não apenas aproxima o público do universo da dança, mas também propõe uma reflexão sobre como a arte se transforma e se adapta a diferentes contextos, especialmente nos espaços públicos”, explica Rodrigo Quik, bailarino fundador da companhia. Além da participação da equipe criativa, a Roda de Conversa contará com a presença da debatedora convidada Ana Luísa Santos, que trará reflexões críticas sobre as temáticas abordadas, e a mediação da bailarina Gabriela Christófaro, que conduzirá as discussões. Será um momento de interação e troca entre artistas, estudantes e o público em geral, promovendo um diálogo enriquecedor sobre a intersecção entre dança, performance e espaço público.
SOBRE O ESPETÁCULO
“O que é o sopro do Outro? Como eu sopro e como o outro sopra? Quem vier assistir à Quik nas ruas da cidade para ver dança, não vai encontrar”, comenta Letícia Carneiro, fundadora da Quik Cia de Dança. Desde 2010, ela conta que a companhia tem saído da caixa cênica para ocupar o espaço urbano. “Temos desejado o encontro com o público, no contexto urbano, desarticulando o estigma de que a arte é para poucos”, diz. Em “O Sopro do Outro”, a proposta é aprofundar esta investigação, da relação da dança com a performance, ousando novos caminhos: “É na intensidade dos encontros, nos diversos lugares da cidade, que nos abrimos para o sopro do outro, e deixamos escapar olhares, espanto, dor, estranhamento, dúvidas e possíveis conversas”, comenta.
O bailarino Rodrigo Quik, fundador da Quik ao lado de Letícia, acrescenta que a ideia é deixar reverberar esse encontro com o outro: “conversar, estranhar, desestabilizar os sentidos. O mundo está virtual, plastificado. Cada lugar é uma escolha e um convite para as relações. A gente se relaciona com o espectador que está passando para também estranhar e refletir conosco sobre como temos nos relacionado com as pessoas e com os espaços urbanos. “É dança? É performance? É cena? Fica sempre a pergunta”, sugere.
Na paisagem da cidade, os performers caminham e realizam ações simples, sempre acompanhados de um objeto. Rodrigo Quik corre e salta pelo espaço, lançando ao vento um pó, abordando com quem passa, questões sobre a morte. Naline enche sacos plásticos, ao som do mar, na rua Carijós: os saquinhos voam e mobilizam um quarteirão inteiro para buscá-los. Letícia convida os passantes a registrarem na bandeira que ela segura, suas respostas à pergunta: “Qual é a coisa mais importante da vida?”. Marise caminha com um espelho retangular, junto ao corpo, compondo imagens a partir das paisagens que são refletidas nele, oferecendo aos passantes e ao público, a possibilidade de ver além.
As ações dos bailarinos pertencem a roteiros feitos por eles mesmos. Ao longo do processo, muitas são experimentadas e descartadas. Outras permanecem e podem se modificar a partir dos encontros com o público ou com as necessidades de cada espaço. “Por exemplo, nos Centros Culturais, as ações ganham contorno mais intimista e a composição é coletiva, feita para espectadores que estarão sentados. Neste momento, todos os performers carregam um mesmo objeto, um espelho, e brincam com a metáfora de como o reflexo do outro e das paisagens, reverbera em mim”, comenta Rodrigo Quik.
Esses programas de composição de ações são baseados no método de criação da performer carioca Eleonora Fabião, referência proposta para o trabalho pelo diretor Marcelo Castro. “Pra mim, é hoje a artista mais interessante da cena brasileira”, comenta. Segundo Marcelo, Fabião propõe que cada intérprete tenha um programa ou uma espécie de roteiro de ações simples que são o motor da experimentação. “É uma artista interessada por poéticas e éticas do estranho, do encontro e do precário. Trabalha com matérias diversas: humanas e não-humanas, visíveis e invisíveis, leves e pesadas, estético-políticas”, explica.
Quando foi convidado para dirigir a Quik, Marcelo Castro, conhecido por trabalhos à frente do Grupo de Teatro Espanca!, acabava de voltar de um mergulho de dois anos de estudos no campo da performance e da dança, após um Máster em Madrid e uma residência, em Portugal, ao lado do artista cearense João Thiago Cavalcanti – discípulo da bailarina Lia Rodrigues (RJ). “Foram pesquisas sobre o ato performático de caminhar e de se movimentar na rua. Quando voltei, e veio o convite da Quik, fiquei surpreso com a coincidência. Eles queriam fazer um trabalho performativo. E logo falei: vamos estudar e praticar”, relembra.
Os encontros começaram em abril deste ano. Parte dos ensaios aconteceram na Funarte MG e no estúdio Com.Vida da Quik, no Pasárgada. Outros foram realizados nos próprios espaços públicos por onde a performance irá circular. Marcelo conta que, desde o início, ficou claro para todos que não seria a montagem de um espetáculo. “Estávamos vivendo um processo de criação mais próximo de ‘encontros para experimentar’ do que de ensaios propriamente. Cada ida para a rua, gerava uma ação diferente. Então, a gente foi experimentando e estruturando os roteiros”, conta.
Para o diretor, os desafios estão na própria natureza do trabalho. “Cada vez que a gente vai para o espaço público, as ações já estão acontecendo, o que nos coloca diante do inesperado. Como quando fomos ensaiar no Parque Municipal, em uma segunda, e estava fechado. Aí a gente entendeu que isso seguiria acontecendo. Cada experiência é única, tem um desenho, uma estrutura, mas também é absolutamente permeável ao momento. Porque é um trabalho que se insere na vida (e a vida é imprevisível). Para quem é surpreendido nas praças e parques, percebemos que o trabalho tem entrada fácil. As pessoas se aproximam, vem contar casos. O encontro acontece, é bonito de ver. O que vai acontecer, a gente não sabe. Mas estaremos fazendo o trabalho e buscando o encontro. Não é uma performance para ser assistida passivamente. Tem mistério e risco nisso: às vezes, o encontro se dá, às vezes, não”, diz.
Pensar a performance nesse lugar foi uma novidade para a bailarina convidada Marise Dinis, que já havia estado em cena com a Quik, no espetáculo Clariceanas, de 2008 a 2010. “Achei esse modo de construir e pensar a ação no espaço público muito interessante: pensar o corpo não a partir da dança. Quando estamos no espaço, temos que ficar atentos para que as ações não virem cena. A ação pode ser um ato de caminhar, de segurar uma bandeira, de transportar um espelho. A gente se destaca pela ação que faz e não por estarmos representando algo”, conclui.
Outra convidada, a bailarina Naline Ferraz, também já havia vivido outros processos performativos, mas conta que o diferencial deste foi o tempo. “O tempo de estudo, de debruçar sobre o programa performativo, de dar tempo para que o sopro do outro, através dos encontros com as pessoas e com os espaços de Belo Horizonte de fato acontecessem”. No roteiro proposto, à medida que Naline enche as bolinhas de plástico, muitas são levadas pelo vento e as pessoas, em volta, correm para ajudar. “Nessa hora, alguns perguntam o que estou fazendo: se é arte, apresentação. Teve gente que perguntou se era terapia (risos)”, diz. Segundo Naline, o grande desafio está em manter o roteiro de ações. “Marcelo nos orienta a não entregar o jogo (que é uma performance), porque se não a conversa acaba. Temos que nos manter fiéis ao programa que trouxemos, e, ao mesmo tempo, deixar a troca acontecer. A beleza está exatamente no encontro que se dá, por exemplo, com aquele que se dispôs a me ajudar, ou com aquele outro que preferiu observar de longe”, explica.
FICHA TÉCNICA
Direção artística: Marcelo Castro
Bailarinos/Performers: Letícia Carneiro, Marise Dinis, Naline Ferraz e Rodrigo Quik
Figurino: Silma Dornas
Design gráfico: Lúcia Nemer e Martuse Fornaciari
Assessoria de imprensa: Rizoma Comunicação & Arte
Gestão de redes: Letícia Eline
Fotografia: Ilana Lansky e Marcelo de Castro
Registro videográfico: Xande Pires e Marcelo Castro
Coordenação de produção: Rodrigo Quik
Produção executiva: Vanessa Assis
Assistente de produção: Letícia Carneiro
Gestão financeira: Cláudia Mota
Realização: Quik Cia de Dança
SOBRE QUIK CIA. DE DANÇA
A Quik Companhia de Dança foi fundada em 2000 no bairro Jardim Canadá – Município de Nova Lima – MG – Brasil pelos bailarinos Letícia Carneiro e Rodrigo Quik, com vasta experiência profissional em dança contemporânea no Brasil e exterior como integrantes do Grupo Corpo de 1984 a 1996.
A Cia completou em 2024, 24 anos de existência possuindo no seu repertório onze espetáculos. Nesse processo, construiu uma metodologia de criação artística, na qual sempre valorizou os procedimentos de pesquisas sistematizadas em dança contemporânea e suas interfaces com outras linguagens artísticas.
Desde 2006, a Cia tem focado suas pesquisas no campo da improvisação estruturada em dança. Para isso, tem investigado novos métodos de composição, construindo partituras de relações cênicas como um caminho possível. Novos olhares, entendimentos e possibilidades são construídos numa dramaturgia da relação. A Quik Cia de Dança aposta na constituição de um lugar de imprevisibilidade e acaso e, quem sabe, menos hierárquico e mais autônomo.
Atua também há 22 anos no bairro Jardim Canadá, por meio de seu projeto sociocultural o “Quik Cidadania”, com aulas gratuitas de dança, música, artes plásticas e grupos socioeducativo. O projeto oferece espaços de convivência, arte, entretenimento e educação, contribuindo com o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Instituto Unimed BH
O Instituto Unimed-BH completou 20 anos em 2023. A associação sem fins lucrativos foi criada em 2003 e, desde então, desenvolve projetos socioculturais e socioambientais visando à formação da cidadania, estimulando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, fomentando a economia criativa, valorizando espaços públicos e o meio ambiente. Ao longo de sua história, o Instituto destinou cerca de R$ 190 milhões por meio das leis de incentivo municipal e federal, fundos do idoso e da criança e do adolescente, com o apoio de mais de 5,6 mil médicos cooperados e colaboradores da Unimed-BH. Em 2023, mais de 20 mil postos de trabalho foram gerados e 2 milhões de pessoas foram alcançadas por meio de projetos em cinco linhas de atuação: Comunidade, Voluntariado, Meio Ambiente, Adoção de Espaços Públicos e Cultura, que estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
Acesse www.institutounimedbh.com.br e saiba mais.
SERVIÇO
Quik Cia de Dança realiza roda de conversa DESMONTAGEM sobre o processo de criação de “O sopro do outro”
com bailarinos da Quik Cia de Dança
Debatedora: Ana Luísa Santos
Mediação: Gabriela Christófaro
03/12, terça – 19h às 22h – Escola Livre de Artes Arena da Cultura – Av. dos Andradas, 367 – Centro – BH
Mais informações no instagram @quikciadedança.