Notícias da ZUM, revista de fotografia do Instituto Moreira Salles
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DA FARSA AO MEME por Giselle Beiguelman
Na visão da colunista Giselle Beiguelman, a cadeirada do duelo entre Datena e Marçal no debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo “consolidou o vale-tudo das políticas da imagem que nos desgovernam desde as manifestações de junho de 2013. Esse momento é chave para compreender a passagem da política que instrumentaliza imagens para aquela que se faz a partir e de dentro da imagem.”
ARQUIVOS EM DISPUTA por Renata Martins
No final do século 19, registros fotográficos de pessoas africanas e afrobrasileiras escravizadas ou recém-libertas eram feitos por homens brancos europeus como Alberto Henschel, Felipe Fidanza e Marc Ferrez. Tais retratos obedeciam a uma percepção colonialista, servindo a um sistema de colecionismo etnoantropológico que se prestava a tipificar, objetificar e desumanizar seus retratados.
Mais de um século depois, arquivos que abrigam essas coleções de fotografias são cada vez mais revisitados por artistas contemporâneos. Com o intuito de criar novas narrativas visuais, utilizam diferentes técnicas (fotopintura, fotomontagem, colagem, deepfake e colorização digital) e abordagens conceituais na apropriação dessas imagens.
A pesquisadora e curadora Renata Martins apresenta uma seleção de sete artistas brasileiros que estão buscando novas formas de atualização histórica para esses retratos: Nay Jinknss, Joelington Rios, Guilherme Bretas, Marina Amaral, Fernando Banzi, Rynnard e Silvana Mendes. [Fotocolagem: Rynnard]
TERRITÓRIO, PROCESSO E PAISAGEM por Rafael Ramos & Luara Macari
Circulando pelo bairro Cidade Nova, em Salvador (BA), o fotógrafo Rafael Ramos faz das esquinas e calçadas do local onde nasceu e cresceu o seu objeto de pesquisa. Em conversa com Luara Macari, Ramos conta que busca criar pequenas conexões que investigam “o que acontece num limiar entre o visível (território do bairro em si) e o invisível (como eu percebo a Cidade Nova)”.
“Eu passei a perceber minha presença nas imagens com o hábito, com a prática, notando que meu corpo me levava às cenas de uma forma muito intuitiva. Sempre precisava ver mais de uma vez algumas situações, ou até mesmo participar dela, antes de registrar.”
VIZINHANÇA por Marcelo Masagão
Em ensaio, o artista e cineasta Marcelo Masagão explora a ideia do avizinhamento de imagens a partir dos acasos e outras possibilidades, em que conexões simbólicas e/ou estéticas levam a encontros e confrontos. Misturando trechos de filmes, fotografias e poesia, Masagão conta do seu processo de edição imagens na criação dos seus filmes, como Nós que aqui estamos por vós esperamos e Ato, atalho e vento.
“Visualizava um filme, escolhia trechos sempre com o olfato ligado, quero dizer, podia não ter um motivo específico, mas se me chamasse a atenção, selecionava. Cada arquivo era nomeado de forma bem extensa usando a técnica da escrita automática dos dadaístas, ou seja: ‘não julgue e escreva’”. [Frame do filme O Homem da câmera, de Dziga Viértov]
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Dias 2 e 3 de NOVEMBRO, no IMS Paulista, com debates, palestras, oficinas, exposição e feira de Fotolivros. Em breve a programação completa no site da revista ZUM.
ARQUIVO ZUM
Capivaras & dragões – Como uma não homenagem aos ícones e sistemas de premiação e reconhecimento das elites pelas elites, a artista biarritzzz propõe um jogo de imaginação através de uma rota de fuga desenvolvida pelos escravizados que seguiam de Pernambuco para o Ceará. “As capivaras, que batizam o rio Capibaribe, ou Capibarybé, se despedem daqueles que irão de encontro ao Dragão do Mar, codinome de Francisco José do Nascimento, líder revolucionário das águas salgadas da província da grande Siara.”
A revanche da fotografia contra o meme – A partir do trabalho de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente Lula, o colunista Ronaldo Entler comenta o papel estratégico das imagens produzidas por ele no campo de batalha das narrativas visuais na política. “Diferente das imagens bombásticas e dos memes que viralizam nas redes, as imagens de Stuckert são parte de um investimento de retorno menos imediato. São imagens oficiais, controladas, tratadas, e são imagens ideológicas, como o fotógrafo mesmo já disse.”
A pesquisadora e curadora Thais Rivitti resenha 60/70: As fotografias, os artistas e seus discursos, livro de Juliana Gisi publicado em 2015 e que trata da presença da fotografia na produção artística no início da arte contemporânea. “Se, antes, a arte – aí incluída a prática fotográfica – era majoritariamente entendida como expressão de uma subjetividade, fundada na sensibilidade e talento pessoal do artista, com o início da arte conceitual ela se afasta dessas premissas.”
RECOMENDAÇÕES
Nos últimos anos a taxa de divórcios na China disparou, e muitos recém-divorciados ficaram com fotos e álbuns de casamento caros e indesejados. A lei de descarte é rígida e não permite simplesmente jogá-los no lixo. Com isso, surge uma nova oportunidade de negócio: a destruição e descarte profissional dessas lembranças indesejadas. As fotos são pintadas com spray, “em parte para proteger a privacidade do cliente e às vezes para garantir que eles obliterem duplamente as memórias.” (Jornal Washington Post)
A exposição e livroI’m So Happy You Are Here (Estou tão feliz que você esteja aqui) reúne um conjunto de fotógrafas japonesas, nomes que surgiram principalmente na década de 1990, como Hiromix, Mika Ninagawa e Yurie Nagashima, entre outras. “Adotando seu próprio estilo, essas mulheres se basearam no vernacular, em elementos ignorados pela sociedade patriarcal dominante e encontraram formas de expressar sua criatividade neles.” [Revista Pen] (foto: Momo Okabe)
Novo documentário mergulha na história da cineasta alemã Leni Riefenstahl. Dirigido pelo alemão Andres Veiel, o filme apresenta muito material inédita da cineasta responsável por imagens icônicas ligadas ao nazismo. Veiel mostra a ascensão e queda de Leni e como ela tentou, sem sucesso, salvar a sua reputação. O diretor “obteve acesso total ao arquivo pessoal de Riefenstahl e vasculhou filmagens, áudio, fotos e textos para unir os pontos entre o material que ela decidiu preservar e o que ela escolheu deixar de fora.” [Jornal The Guardian]
Em entrevista, a fotógrafa norte-americana Parker Day conta do seu processo criativo por trás dos coloridos e divertidos retratos pelos quais é reconhecida internacionalmente. “Muitas vezes me perguntam variantes dessa pergunta e isso parece supor que há uma linearidade na arte. Não há linearidade na arte ou na vida. Eu escrevo ideias, mas elas nem sempre se concretizam (ou pelo menos ainda não). Há tantas variáveis que você não consegue levar em conta.” [Revista Musée]
