Ícone do site Dica de Teatro

Indicado ao 36º Prêmio Shell, espetáculo Vinte! preserva a memória dos movimentos artísticos negros da década de 1920

Após temporada de sucesso no RJ, peça criada por Mauricio Lima e Tainah Longras faz sua estreia paulista no Sesc Santana entre os dias 14 de novembro e 14 de dezembro

Desde 2018, Mauricio Lima e Tainah Longras desenvolvem uma pesquisa conjunta sobre arquivos negros e suas ativações performáticas, explorando palavra, corpo e som em práticas artísticas de perspectiva contra-hegemônica. Os artistas foram indicados ao Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Dramaturgia por Vinte! (2025); Mauricio Lima também venceu o Prêmio Shell de Melhor Direção por Arqueologias do Futuro, criado em parceria com Dadado de Freitas.

 Com o objetivo de eternizar a luta dos movimentos artísticos negros surgidos na década de 1920, o diretor Mauricio Lima e a dramaturga Tainah Longras criaram o espetáculo Vinte!. A peça teve uma bem-sucedida temporada no CCBB RJ em março e agora desembarca em São Paulo com apresentações no Sesc Santana entre 14 de novembro e 14 de dezembro, às sextas e aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h. Também estão programadas sessões na quinta, dia 20 de novembro, às 18h; e, às sextas, dias 28 de novembro e 12 de dezembro, às 15h.

 Desta vez, 15 das apresentações contam com acessibilidade. Entre 20 de novembro e 14 de dezembro, o público tem acesso aos recursos de interpretação em Libras, audiodescrição e vivência tátil.

 Vinte! parte de uma crítica à peça Tudo Preto (1926), da Companhia Negra de Revistas, para construir uma reivindicação ficcional à memória dos movimentos negros do período. O trabalho ainda estabelece uma relação poética com a cidade do Rio de Janeiro, com as artes e com o tempo, sob uma perspectiva afro-contemporânea.

 “Esse grupo que está na nossa pesquisa foi o primeiro que se tem registro no Brasil formado apenas por artistas negros, abrindo o caminho para várias iniciativas”, diz Mauricio. Nomes como Pixinguinha, De Chocolat, Jaime Silva, Jandira Aymoré, Rosa Negra, Dalva Espíndola, Djanira Flora, Miss Mons, Soledade Moreira, Guilherme Flores, Belisário Viana, Vicente Froés, Waldemar Palmièri e Domingos de Souza integraram o coletivo, que existiu por 16 meses e realizou seis espetáculos.

 Dada à importância da Companhia Negra de Revistas, Vinte! também conecta à cena carioca a outros movimentos internacionais, como o Harlem Renaissance, que floresceu em Nova York na mesma época e contribuiu para a difusão e a valorização dos códigos artísticos, literários, musicais e estéticos da comunidade negra.

Sobre a encenação

 A encenação propõe uma abordagem afroindígena não linear do tempo e da História, evocando memórias e invenções. Nesse contexto, a dança, a música e as experiências sonoras têm tanta importância quanto o texto para o trabalho. “Queremos provocar o público sensorialmente. A mistura de linguagens e a maneira como pensamos a ocupação do espaço contribuem para isso”, afirma Mauricio Lima.

 Uma fisicalidade intensa, bem como esquetes, cenas poéticas e manifestos se alternam ao longo do trabalho. AfroFlor, Felipe Oládélè e Muato e Tainah Longras ocupam o palco com direção de movimento assinada por Rômulo Galvão.

 “Entre as coreografias, montamos poses que são incorporações de quadros do Heitor dos Prazeres (1898-1966), e de fotografias da dançarina francesa Josephine Baker (1906-1975) e do dançarino estadunidense Earl Snakehips Tucker (1906-1937). Na verdade, tentamos retratar 100 anos de história, criando uma espécie de arquivo com essa potente produção artística”, comenta Tainah.

 Em relação à trilha sonora, as principais influências são o choro, o jazz e o samba. E os artistas em cena também tocam, ao vivo, instrumentos como teclado, violão, sax e surdo. A direção musical é de Muato.

 O cenário evoca o universo das artes plásticas. Vários espelhos e materiais reflexivos estão cuidadosamente posicionados para interagir com a luz de maneira poética. Ao mesmo tempo, uma grande lona funciona tanto como chão quanto como uma escultura vertical.

 “Vinte! é um registro histórico. E, como somos artistas e não historiadores, estamos criando um documento com os nossos corpos. Quer dizer, é uma outra maneira de deixar nossa marca para posteridade”, defende Tainah.

Sobre Mauricio Lima e Tainah Longras
Desde 2018, Mauricio Lima e Tainah Longras em parceria desenvolvem pesquisa artística a partir de questões relacionadas a arquivos negros e seus acionamentos performáticos, investigando a palavra, o movimento e as sonoridades dentro de um campo intensivo e contra-hegemônico. Em 2021, criaram, em colaboração com outros artistas, a peça sonora Revenguê – uma ficção afrofuturista. E em 2025, a peça Vinte!, com a qual foram indicados a Melhor Dramaturgia, no Prêmio Shell de Teatro.

 Mauricio Lima – artista da cena e curador. Em seu trabalho tensiona questões ético-estéticas relacionadas às negritudes contemporâneas e periféricas, memórias, fabulação e performance. Em 2025 recebeu o Prêmio Shell de Teatro de Melhor Direção, junto com Dadado de Freitas, pelo seu solo “Arqueologias do Futuro”. Como curador atuou junto ao Festival Panorama, Segunda Black, Observatório das Favelas e Goethe Institut. Integra o Teatro de Extremos, o Coletivo Líquida Ação e o Pandêmica Coletivo.

 Tainah Longras – artista da cena que pesquisa a matéria sonora da palavra, história, fabulação crítica como procedimento de imaginação radical e suas repercussões nas artes afrodiaspóricas. Sua prática se posiciona no campo intensivo das artes da cena e na crítica anticolonial e anticapitalista. Se apresentou em diversos festivais como FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (Portugal), MITsp, Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília, entre outros.

Sinopse

 Vinte! é uma reivindicação ficcional da memória dos movimentos artísticos negros dos anos 1920 no Brasil. A partir de uma crítica à peça Tudo Preto (1926), da Companhia Negra de Revistas, a peça constrói uma relação poética com a cidade do Rio, com as artes e com o tempo, a partir de uma perspectiva negra e contemporânea.

Ficha Técnica

Idealização e Texto: Tainah Longras

Dramaturgia: Mauricio Lima e Tainah Longras

Direção: Mauricio Lima

Assistência de Direção: Juliane Cruz

Elenco: AfroFlor, Felipe Oládélè, Muato e Tainah Longras

Interlocução de direção: Ana Kfouri

Interlocução teórica: Olívia Burzlaff

Direção de Produção: Bem Medeiros

Produção Executiva: Matheus Ribeiro

Direção Musical: Muato

Montagem e Operação de Som: Bob Reis

Operação de som: Arú

Direção de movimento: Rômulo Galvão

Direção de arte: Júlia Vicente

Assistente de cenografia: Evelyn Fernandes

Cenotécnico: Renato Simões

Iluminação: Dadado de Freitas

Assistência de iluminação e Operação de luz: Tayná Maciel

Operação de luz: Eloah Mendes

Fotografia: Íra Barillo

Gestão de Redes Sociais: Sofia de Paiva

Visagismo Sessão de fotos: Thiogo Andrade

Costureiras: Lisete Alves e Ana Vita

Produção: Suma Produções

Realização: L&B Produções Culturais

Serviço
Vinte!
Data: 14 de novembro a 14 de dezembro, às sextas e aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h.
*Haverá sessões extras na quinta, dia 20 de novembro, às 18h; e, às sextas, dias 28 de novembro e 12 de dezembro, às 15h
Acessibilidade: interpretação em Libras, audiodescrição e vivência tátil em todas as sessões entre os dias 20 de novembro e 14 de dezembro

Local: Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Santana
Ingresso: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada) e R$18 (credencial plena)
Compra de ingressos online a partir do dia 4/11: https://www.sescsp.org.br/programacao/vinte/
Telefone: (11) 2971-8762
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos


Sair da versão mobile