Ícone do site Dica de Teatro

“Ideias para Adiar o Fim do Mundo”

Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo apresentam:

 

“Ideias para Adiar o Fim do Mundo”

 

Inspirado nas obras de Ailton Krenak, espetáculo percorre o processo de violação dos povos originários do Brasil através das trajetórias do líder indígena e do ator Yumo Apurinã, nascido na Aldeia Mawanaty, em Rondônia.

 

 

Pela primeira vez no teatro, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” perpassa obras, falas, o pensamento e a trajetória do líder indígena Ailton Krenak, imortalizado pelo seu protesto na Constituinte de 1987. Após meses de processo colaborativo, a dramaturgia de João Bernardo Caldeira e de Yumo Apurinã, diretor artístico e protagonista do espetáculo, investiga as raízes da colonização que, como aponta Krenak, segue em curso, produzindo extermínio, etnocídio, devastação ambiental, expropriação de terras e tragédia climática, por meio de tiro, fogo, bíblia, soja, boi, estrada e cimento. A peça estreia no Teatro Futuros – Arte e Tecnologia, no Flamengo, dia 28 de novembro, com temporada de quinta a domingo, sempre às 20h.

 

Para tratar desse Brasil que ignorou os direitos dos povos originários até a Constituição de 1988, o espetáculo enfoca a trajetória de vida de Yumo Apurinã, há seis anos radicado no Rio de Janeiro. Um indígena do povo Apurinã, nascido na Aldeia Mawanaty, no território Cinta Larga, em Rondônia, conhece o teatro ao frequentar a Igreja e decide ser ator. Em conflito com as ideias de pecado e de expulsão do paraíso, que separa humanidade e natureza, ele confronta o cristianismo em busca de sua ancestralidade, solapada pelos processos coloniais.

 

“Eu não sei a minha língua”, constata, atônito. Sob memórias de massacre, desmatamento e evangelização, a pergunta fundamental do best-seller de Krenak é então colocada: “Somos mesmo uma humanidade?”.

 

Ao investigar os costumes e o passado de seu povo, o Demiurgo Tsurá, o ritual Xingané, o poder de cura dos Kusanaty (pajés), esse indígena vasculha a si mesmo, enquanto desvela o etnocídio, a expropriação de terras e o sistemático aniquilamento do povo indígena e de seus direitos, inclusive em todas as constituições até a de 1988.

 

Em cena, esse corpo racializado pela sociedade, que lhe imputa a pecha de “índio”, vasculha os estereótipos, enquadramentos e racismos vivenciados inclusive em sua carreira como ator. É na escola que Yumo descobre que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral e escuta dos colegas: “Você é índio de verdade? Você come carne de macaco?”. Com frequência, suas personagens usam roupas rasgadas, não possuem família, usam cocar ou têm os pés descalços.

 

“Sou fruto de histórias de sobrevivência. Nasci e cresci num mundo já cristão. A minha referência de força espiritual é estar ajoelhado, abrir mão dos meus desejos e renunciar a minha vida. Quando me dei conta disso, foi assustador. Eu não sou contemplado por esse pacote de vivência dolorida que a bíblia oferece”, afirma Yumo. “Prefiro acreditar no encantamento desta vida do que numa vida eterna no paraíso ou no inferno”.

 

“Durante o processo de ensaios, Yumo decidiu que, a partir das palavras de Krenak, ele precisava contar a sua história e compartilhar conosco a sua própria busca, tornando essa obra ainda mais viva, carnal, atual”, conta João Bernardo, diretor, idealizador, produtor e autor do texto do espetáculo, ao lado de Yumo. Ao constelar as trajetórias de Yumo e Krenak, “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo” nos descortina os procedimentos visíveis ou menos evidentes da sistemática violentação sofrida pelas populações indígenas ainda hoje. “A colonização ainda está acontecendo”, diz. “O racismo, o sexismo, a expropriação de terras e a monocultura ainda formam os pilares da sustentação socioeconômica deste país”.

 

Neste contexto desolador, o ator-personagem, num trabalho de atuação voltado para as ações psicofísicas, partilha com o espectador sua caça a si mesmo. Será que adiar o fim do mundo é adiar o seu próprio fim? De onde podemos tirar os nossos paraquedas coloridos e evitar a queda do céu? Como nos mobilizar e nos envolvermos diante de cenários distópicos e aterrorizantes?

 

“Quando escuto Krenak, sei que estou ouvindo muitas outras vozes de sábios e parentes. Ailton é um porta-voz que representa mais de 300 etnias, como disse em seu discurso de posse na ABL (Academia Brasileira de Letras). Quando eu me apresento num palco, minha mãe, meu pai e meus antepassados estão ali, nunca estamos sozinhos. Se minha memória está viva, a deles também”, reflete Yumo. “A intenção deste espetáculo é buscar um caminho consciente de transformação interior. Enquanto o teatro puder me fazer existir, é com ele que vou continuar sonhando e suspendendo o meu céu. O teatro é sagrado. Viver é sagrado”, completa o ator.

 

O diretor endossa a fala de Yumo e completa: “Quem sabe, neste momento em que as tragédias ambientais ficam cada vez mais escandalosas, possamos ampliar a nossa escuta para outras formas de envolvimento com a terra e os povos da floresta. O teatro pode ser mais um dispositivo a convocar saberes que foram adormecidos, de comunhão, luta, partilha e festa”.

 

“Antes de escutar e encarnar o que um sonhador de mundos que Ailton Krenak é, eu tive que sonhar. É necessário encarnar o sonho. Eu acredito que encarnei, por isso que escutei. Muita gente não sabe escutar. Porque a cidade é barulhenta. Quando dormimos, vamos dormir com o barulho da cidade e do trabalho. O encanto é preciso. A poesia da vida é precisa. Se não, a morte nos encontra. E ela pode nos encontrar morto ou vivo. Quando a morte chegar até mim, que ela me encontre vivo”, finaliza Yumo.

 

Sinopse:

Num planeta em crise, um indígena nascido numa aldeia, em Rondônia, investiga as raízes de seu povo apagadas pela colonização. Inspirado nas obras de Ailton Krenak.

 

Ficha técnica:

Inspirado nas obras de Ailton Krenak

Atuação e texto: Yumo Apurinã

Direção e texto: João Bernardo Caldeira

Preparação corporal: Giovanna Aguirre

Figurinos: Wangleys Manaó

Iluminação: Djalma Amaral

Direção musical: Felipe Storino

Composições: Xipu Puri e Felipe Storino

Projeções mapeadas: Renato Krueger

Cenário: João Bernardo Caldeira e Yumo Apurinã

Consultoria iconográfica: Juão Nÿn

Assistência de direção: Caroline Ozório

Fotografia: Andrea Rocha ZBR

Assessoria de imprensa: Alessandra Costa

Identidade visual: Rafael Andrade e Rodrigo Simões

Redes sociais: Sophia Lyrio

Intérprete de Libras: Ana V. Lopes

Audiodescrição: Cinema Falado

Residência artística: Aldeia Marakana

Assistência de produção: Alipia Mattos

Produção executiva: Ludimila D´Angelis

Idealização e direção de produção: João Bernardo Caldeira

Produção: Pequieté e São Bernardo

 

Ailton Krenak, a voz de vários povos indígenas deste Brasil

 

Ailton Krenak é um líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro da etnia indígena Krenaque. Nasceu em 1953 no estado de Minas Gerais, na região do Médio Rio Doce. É professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), imortal da Academia Brasileira de Letras e da Academia Mineira de Letras. Natural de Itabirinha, em Minas Gerais, escreveu livros como “Ideias para adiar o fim do mundo”, best-seller publicado em diversos idiomas, “A vida não é útil” e “Futuro ancestral”. Conquistou grande destaque por sua atuação em prol dos direitos indígenas. Na década de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985, fundou a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena, visando promover a cultura indígena. Na Assembleia Constituinte, em 1987, que elaborou a Constituição Brasileira de 1988, Ailton protagonizou uma das cenas mais marcantes da mesma: em discurso na tribuna, vestido com um terno branco, pintou o rosto com tinta preta para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas. Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, organização de representação dos interesses indígenas no cenário nacional. Em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que busca o estabelecimento de subsistência econômica através de reservas naturais na Amazônia

 

Yumo Apurinã – Atuação e Texto

 

Yumo Apurinã nasceu em Cacoal, interior de Rondônia, onde o povo Apurinã, original do

Amazonas, firmou-se na Aldeia Mawanaty, do povo Cinta Larga, no município de Pimenta Bueno. Começou a fazer teatro no ensino médio, em Espigão D’Oeste, quando atuou e escreveu a peça “Myrunguêre e Nara”, premiada no Festival Estudantil Rondoniense de Artes e apresentada em Porto Velho. Aos 19 anos, foi para o Rio de Janeiro sob o sonho de dedicar-se à carreira de ator. Nos últimos anos, formou-se como ator pela Casa das Artes de Laranjeiras e foi indicado duas vezes, em 2022 e 2023, ao Prêmio APTR de Ator Jovem Talento pelas peças “Por Detrás de O Balcão” e “O Balcão” (ambas sob direção de Renato Carrera). Atuou ainda em “Karaiba” (2023), uma adaptação da obra de Daniel Munduruku, que circulou por todo país. Em 2023, atuou em “Vôo Livre”, da Companhia Brasileira de Teatro, direção de Márcio Abreu, e em “Guasu”, dirigida por Vilma Melo. Escreveu e atuou nos solos “Os Meus Olhos” (2021) e “Tibira e a Mãe” (2020), com o qual ganhou o prêmio de melhor ator do FestiCAL Online. Entre seus últimos trabalhos estão ainda “Ricos de Amor 2” (2023), de Bruno Garotti; “O Turista Aprendiz” (2022), de Murilo Salles, além dos espetáculos “Krum” (2021) e “Tybyra, Uma Tragédia Yndygena Brasileira” (2021).

 

João Bernardo Caldeira – Direção artística, texto, direção de produção e idealização

 

Graduado em Direção Teatral e Comunicação pela UFRJ e Mestre em Artes da Cena pela mesma universidade, João Bernardo Caldeira é Pós-graduado em Gestão Cultural pelo Itaú Cultural e Universidade de Girona e doutorando em Artes Cênicas pela ECA-USP. É autor, diretor, professor, produtor e pesquisador teatral, além de jornalista cultural. Idealizou e produziu a peça “Para Meu Amigo Branco”, em 2023/24, com direção de Rodrigo França e inspirada no livro de Manoel Soares. Dirigiu, produziu e escreveu espetáculos como “Eu Quem Eu Somos”, “Avenida Central” e “Atafona O Fim”. Produziu e escreveu o espetáculo “Funk Brasil – 40 Anos de Baile”, entre outros. Desde 2008, é colaborador de cultura do jornal Valor Econômico.

Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia

Inaugurado há 18 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia tem a Oi como fundadora e principal mantenedora. Em abril de 2023, sob a chancela do Oi Futuro, o equipamento cultural se abriu a novos parceiros: EY, Eletrobras Furnas e BMA Advogados são os primeiros patrocinadores anunciados pela instituição.

 

Com programação diversa que aposta na convergência entre arte contemporânea, ciência e tecnologia, Futuros recebe cerca de 100 mil visitantes por ano. O espaço abriga galerias de arte, um teatro multiuso, um bistrô e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, que detém um acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil. O Museu promove experiências imersivas e interativas que convidam a refletir sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas.

 

As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Aderbal Freire, João Fonseca e outros.

 

Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, como Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo Festival.

 

Serviço:

 

Estreia: 28 de novembro

Temporada de quinta a domingo, às 20h – até dia  22 de dezembro

Local: Teatro Futuros Arte e Tecnologia

Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo

Classificação: 12 anos

Lotação: 63 lugares

Duração: 80min

Vendas pelo Sympla

 

Sessões com intérpretes de libras:

Novembro: dias 28 e 30

Dezembro: dias 01, 08, 12, 14, 19, 21 e 22

 

Sessões com audiodescrição:

Novembro: dia 28 e 30

Dezembro: 01, 08, 12, 14, 19 e 21


Sair da versão mobile