A história tece vários nós, difíceis de desatar, que vão sendo sendo amortecidos pelo tempo, que faz o abraço mãe-filho ser possível novamente. Expurgo é um espetáculo relacional, com uma interpretação intimista, costurado com a sutileza de quem dobra um barquinho de papel, canta uma cantiga de ninar ou se esquece em um abraço.
Com texto e direção de Ari Areia, o espetáculo conta uma história sobre a descoberta de amar outros garotos, a busca por coragem de dizer isso à mãe, o choque dela, rompendo a relação com o filho, e o tempo, passando com a delicadeza de quem dobra um barquinho de papel, colocando as coisas de volta no lugar.
Na peça do Outro Grupo de Teatro, Ari Areia desafia as lembranças de sua infância e adolescência como filho de um pastor da Assembleia de Deus. “Sair do armário nesse contexto, há 10 anos, foi preciso, também, sair de casa”, explica o ator, que assina a direção e o texto da peça.
Durante o espetáculo, o espectador fica reverberando a dúvida se aquilo é uma escrita confessional ou dramaturgia. A linha tênue entre o teatro e a performance; o devir-cênico a partir disso; e a hachura dos contornos de um ‘eu’ do artista, borrado no que poderia ser a construção de um personagem; foram os norteadores que resultaram nessa experiência.
Segundo ele, Expurgo é uma experiência cênica que surgiu de conversas mediadas com o coletivo Mães da Resistência, um grupo que acolhe familiares de LGBTI+ em processo de compreensão e aceitação dos filhos. Esse formato atual estreou no final de 2023, na programação do 9º Festival Midrash de Teatro, no Rio de Janeiro, a convite de Márcio Abreu e Natasha Corbelino.
“A compreensão e o apoio da família nesse momento é o maior amparo que uma pessoa LGBT pode ter. Resistir sozinho às investidas sociais é um peso que nem sempre as pessoas conseguem suportar e estar perto de quem se ama é fundamental para que todos consigam superar esse momento de saída do armário, da decisão de verbalizar em si”, afirma Ari.
SOBRE O ATOR
Ari Areia é ator, jornalista e ativista LGBTI+. Natural de Fortaleza (CE), iniciou sua trajetória nos palcos sob orientação de Silvero Pereira, em 2011, de lá para cá trabalhou com diretores como Alexandra Marinho (PT), Antonio Januzeli (SP), Eduardo Bruno (PA), Gilberto Gawronski (RJ), Yuri Yamamoto (CE) entre outros. Ari tem experiências como curador em eventos como o Festival Nordestino de Teatro (Guaramiranga, Ce) e em bancas de editais da SecultCe, foi conselheiro de cultura em Fortaleza e participou de articulações importantes do movimento de trabalhadores da cena na região Nordeste. Residente no Rio de Janeiro há dois anos, trabalha com comunicação em projetos culturais e volta ao palco na cidade com Expurgo, seu novo monólogo.
O OUTRO GRUPO DE TEATRO
O Outro Grupo de Teatro surgiu em 2011, na cidade de Fortaleza (CE), a partir do encontro entre os atores Ari Areia, Tavares Neto e o diretor Yuri Yamamoto. Desde o pós-pandemia, a companhia mantém trabalho no eixo Rio-São Paulo, seguindo uma linha de pesquisa criativa focada no debate sobre a sexualidade humana e suas subjetividades.
A escritora e transativista Helena Vieira se juntou ao coletivo em 2014, colaborando em montagens como “Histórias Compartilhadas” (CE. 2015, direção de Eduardo Bruno), “Jango Jezebel – Onde Estavam as Travestis na Ditadura?” (SP. 2023, direção de Luis Fernando Marques) e “Expurgo” (RJ. 2024, direção de Ari Areia).
FICHA TÉCNICA
Realização: Outro Grupo de Teatro
Direção, Dramaturgia e Performance: Ari Areia
Produção Cicera Vieira
Consultoria dramatúrgica: Helena Vieira
Desenho de Luz: Thiago Monte
Fotos de divulgação: Diego Souza
Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
Projeto gráfico: Rodrigo Paschoal
Registro em vídeo: Salada Audiovisual
SERVIÇOS:
Temporada do Espetáculo Expurgo
Dias 02, 03, 09, 10, 16, 17, 23, 24 e 30 de novembro – sábados e domingos – às 18 horas
Lotação: 103 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação: 10 anos
Teatro Cândido Mendes – R. Joana Angélica, 63 – Ipanema
Ingressos: R$40 (inteira) / R$20 (meia entrada)
Vendas no Sympla