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Estado de Sítio

Estado de Sítio

Insegurança perante o futuro? Ameaça de autoritarismo? Incertezas? Tudo isso está na peça teatral ‘Estado de Sitio’, do Prêmio Nobel de Literatura Albert Camus. Encenada pela primeira vez em 1948, ganha agora direção de Gabriel Vilela e fica em cartaz no SESC Vila Mariana, em São Paulo, SP até 16/12.

Com destaque para a maquiagem de Claudinei Hidalgo, a peça mostra uma cidade espanhola dominada pelas personagens Peste e sua secretária Morte. O respiro cômico se dá com o Nada, representado magistralmente por Chico Carvalho, o bêbado que diz as grandes verdades, num personagem próximo aos bobos da corte de Shakespeare.

A derrocada do regime autoritário com suas leis incompreensíveis se dá pelo corajoso Diego e seu amor por Vitória, nome claramente alegórico. Somente pela valentia é restaurada a confiança nos bons augúrios de um cometa e nas possibilidades de pessoas de bem reconstruírem o mundo.

O poder, a igreja e o povo são também alegorizados de diversas formas como elementos de uma sociedade em que a alternativa para o poder desmedido está justamente na criação constante do novo, pois a limitação do totalitarismo está sempre em que ele não sabe conviver com aquilo que desconhece. Ou o elimina ou é derrocado por ele.

Numa atmosfera visual barroca, em que os adereços têm papel fundamental, assim como o canto, a direção de Vilela valoriza as falas dos atores e suas expressões faciais para construir situações cênicas em que os absurdos do poder são desnudados pelos gestos contidos e pela aspereza das tonalidades de voz. A juventude e a doçura aliada com firmeza são os caminhos para erguer um novo mundo, longe da violência e da ignorância, já que a paz e o conhecimento são capazes de gerar novas formas de poder.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.


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