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Especial Casa Flip+ CCR: Escrever é saber a hora de terminar o texto

A linguista e produtora de conteúdo Janaísa Viscardi e o jornalista e editor Paulo Roberto Pires conversaram sobre “As virtudes de escrever bem”, na primeira mesa da Casa CCR, na 22ª Flip

 

Programação da Casa CCR: Janaísa Viscardi (meio) e Paulo Roberto (dir) participam de mesa que fala sobre ambiguidades da informação.
Crédito: Charles Trigueiro / Divulgação Grupo CCR

A primeira mesa na Casa CCR, durante a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), abordou as ambiguidades da informação. O que, afinal, torna um texto claro? A linguista e produtora de conteúdo Janaísa Viscardi e o jornalista, editor e colunista da Quatro Cinco Um, Paulo Roberto Pires, conversaram sobre o assunto em um painel mediado pelo jornalista de O Globo, Juan de Souza Gabriel. O debate faz parte da programação gratuita oferecida pelo Instituto CCR, patrocinador e parceiro oficial de mobilidade da Flip.

 

Jana, que está lançando o livro “Como Escrever Sem Medo”, afirmou que o título de sua obra é uma falácia, arrancando risadas dos presentes que lotaram o espaço. O público ocupou os 30 lugares disponíveis e ainda havia cerca de 40 pessoas que acompanharam o debate em pé no local. “Mesmo que você compre meu livro e leia, vai continuar com medo de escrever”, ela afirmou, contando que nesse momento está apreensiva para terminar seu segundo livro, que aborda a linguagem jornalística. O tema do primeiro, ela diz, é o mesmo dos cursos que ela dá e, portanto, tem mais intimidade com o assunto.

 

Ela diz que sempre gostou de escrever: sua mãe era professora de sítio na cidade de Votuporanga, no interior de São Paulo, e ela teve, ainda na infância, uma redação publicada no jornal da cidade. “A facilidade na escrita, entretanto, depende do projeto. Não gostei de escrever uma tese. É uma experiência que não gostaria de repetir”, contou.

 

Paulo Roberto disse que cresceu em uma casa cheia de livros, pois seus pais se preocupavam que ele convivesse com a literatura. Fez jornalismo, achou que essa era a pior profissão do mundo, virou editor de livros, trabalhando nas editoreas Planeta, Agir e Ediouro – e hoje edita a revista Serrote e escreve para a Quatro Cinco Um. “Posso dizer que atualmente ser jornalista é o que eu mais gosto de fazer”, ele afirmou para explicar que o escrever, para ele, se confunde com o editar.

 

A hora de terminar o texto

 

Ambos afirmam que um grande aliado da escrita é o prazo. Paulo cita Millôr Fernandes como um exemplo de sucesso, que nunca entregou um trabalho que não fosse motivado pela encomenda. “Pragmatismo é essencial. Quando você tem que acabar, fica motivado. Especulação só afasta de escrever. O prazo, entretanto, eu cumpro para tudo – menos para a biografia do meu avô, que estou escrevendo há anos e nunca acabo, que os editores não me ouçam”, brincou.

 

“É comum acharem que o texto delas nunca está bom”, completa Jana. “O texto do outro pode estar bom porque foi editado, mexido por muita gente. Quando acabei o livro e veio a última prova, eu ainda fiquei insegura com uma série de pontos. Mas, claro, nenhum leitor observou nenhum deles”, disse, antes de afirmar ser fã do fim, apesar de ter dificuldade de terminar aquilo que começa a escrever. O texto heterogêneo, histórico e social está circunscrito na história do mundo e por isso é tão importante acabá-lo, declarou.

 

Paulo relembrou uma história do escritor João Ubaldo Ribeiro, que se isolou na Ilha de Itaparica para concluir um livro. “O editor foi até lá e disse: ‘Esse livro está terminado, chega’. Temos, como editores, que exercer a paciência porque estamos editando aquele projeto há poucas semanas, enquanto o autor está escrevendo há anos. Mas há um momento em que é preciso dizer: vamos acabar com isso aí”, refletiu sobre o ofício que mexe com fragilidades dos escritores. “Muito se fala sobre a mística do texto, mas não tem mística: é uma atividade como outra qualquer, que motiva as pessoas, é um trabalho árduo”, concluiu.

 

Há ainda o retorno ao texto pronto: Jana afirmou que faz isso com mais frequência nas redes sociais, graças aos comentários de seguidores que geralmente a fazem pensar se foi ou não clara. Paulo foi mais enfático: disse que quando acaba um texto, o considera pronto. “Detesto voltar a ele. Rede social é o lugar da divergência sobre o nada”.

 

Discursos autoritários ou violentos

 

Há uma discussão latente sobre o papel do noticiário acerca de discursos de ódio. Jana foi categórica ao afirmar que o papel da linguagem é crucial na naturalização de discursos autoritários na última década. No seu canal no YouTube, ela analisa as manchetes de notícia com certo incômodo acerca da suposta neutralidade jornalística.

 

No palco, analisou títulos de reportagens das eleições e disse que busca olhar para o discurso e entender o que são as estruturas de poder. “O jornalismo declaratório impacta na estrutura política”, disse, lembrando a contradição de matérias sobre feminicídios que colocam a vítima como protagonista de uma ação em que o personagem principal deveria ser o assassino. “Por que usar fotos das mulheres mortas?”, questionou. “Precisamos repensar as normas que estão abraçadas com fascismo e violência.”

 

A questão, segundo eles, é anterior à internet. O jornalismo impresso já trazia títulos de qualidade duvidosa: a questão das reportagens clicáveis, entretanto, é pensar no porquê se produz jornalismo voltado para dar lucro se isso não está funcionando para os veículos. “A paranoia do clique contribui ainda mais para a degeneração da matéria jornalística, sim: está se criando ali uma realidade paralela”, declarou Paulo.

 

Os dois ainda discutiram, a convite de Juan, as polêmicas acerca da linguagem neutra. “Há gente séria estudando esse assunto. Quando falo sobre isso nas redes sociais, percebo que a maioria das críticas e preocupações está em quem não usa o recurso. Precisamos falar sobre linguagem não-binária e feminino genérico. Um dos comentários que já ouvi é que se continuarmos nesse ritmo, o homem vai acabar. Isso não vai acontecer: se tem uma coisa que não acaba, é o homem. Só aqui do meu lado, há dois deles”, disse Jana, arrancando risos dos presentes.

 

Grupo CCR na Flip

 

O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, ampliou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o maior evento do gênero no País. Por meio do Instituto CCR, é a primeira vez que oferece um espaço com programação. Ao longo de três dias, serão apresentadas nove mesas de discussão, com a presença de escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos.

 

Os debates irão abordar temas como mobilidade urbana, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário. Este último assunto está relacionado ao jornalista e autor João do Rio, reconhecido como um dos mais influentes escritores do início do século XX no Rio de Janeiro e o homenageado pelo evento na edição deste ano.

 

Além da Casa CCR, o Grupo CCR é novamente o parceiro oficial de mobilidade da Flip. A Companhia irá oferecer transporte gratuito por meio de vans e barcas para os moradores de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas na região de Paraty. Seis rotas foram planejadas para facilitar o acesso dessas comunidades ao centro histórico, com horários definidos de acordo com a programação do festival.

 

Em linha com sua agenda de sustentabilidade, o Grupo CCR também implementou a coleta seletiva de resíduos na Flip, em colaboração com a Associação de Catadores e Catadoras de Recicláveis de Paraty, uma cooperativa local. Um carrinho elétrico está percorrendo o Centro Histórico durante o evento, recolhendo materiais recicláveis e destinando para uma caçamba de reciclagem instalada na praça.

 

Sobre o Instituto CCR | Entidade privada sem fins lucrativos, gerencia o investimento social do Grupo CCR, com o objetivo de proporcionar transformação social nas regiões de suas concessões de rodovias, aeroportos e mobilidade. Os projetos do ICCR são implementados por meio de recursos próprios ou verbas incentivadas. Entre os projetos proprietários de impacto, merecem destaque: Caminhos para a Cidadania, que capacita mais de 3 mil professores em 1.600 escolas anualmente, e o Caminhos para a Saúde, que oferece atendimentos de saúde a caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e passageiros de trens urbanos e metrôs. Seu foco são iniciativas nas frentes de Mobilidade e Cidades Sustentáveis, Cultura e Educação, Saúde e Segurança. Desde 2014, as ações do Instituto já beneficiaram mais de 18 milhões de pessoas. Saiba mais em www.institutoccr.com.br.

 

Sobre o Grupo CCR | O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, atua nas plataformas de Rodovias, Mobilidade Urbana e Aeroportos. São 39 ativos, em 13 estados brasileiros e mais de 17 mil colaboradores. O Grupo é responsável pela gestão e manutenção de 3.615 quilômetros de rodovias, realizando cerca de 3,6 mil atendimentos diariamente. Em mobilidade urbana, por meio da gestão de metrôs, trens, VLT e barcas, transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Em aeroportos, com 17 unidades no Brasil e três no exterior, embarca 43 milhões de clientes anualmente. A companhia está listada há 13 anos no hall de sustentabilidade da B3. Mais em: grupoccr.com.br.

 


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