Dados da inédita pesquisa sobre Dismorfia Financeira no Brasil mostram impactos emocionais na relação dos brasileiros com dinheiro, negros são mais afetados, em especial as mulheres
Você já teve grana para comprar uma roupa chique, mas sentiu que não ia vestir bem em você? Teve vontade de entrar em uma loja de grife e desistiu por achar que não era seu lugar? Ou em determinada ocasião sentiu como se você não pertencesse, não estivesse à altura? Talvez já tenha sentido que precisa trabalhar muito mais para conquistar coisas que outras pessoas têm facilmente. Tudo isso aí tem nome. Dismorfia Financeira.
O termo dá nome à pesquisa inédita, feita pelo will Bank, que entrevistou mais de 2000 homens e mulheres, entre 18 e 40 anos, de raças e classes sociais diversas em todas as regiões do país. O estudo aborda os impactos socioemocionais da relação dos brasileiros com suas finanças, e o destaque não está na falta de dinheiro, mas na falta de pertencimento.
O conceito de ‘dismorfia financeira’ faz uma associação a um fenômeno psicológico chamado dismorfia corporal, que se refere àquele desejo incessante de mudar algo em si devido aos padrões estéticos impostos pela sociedade. Sua correspondente financeira afeta a maneira como nos enxergamos em relação ao dinheiro, influenciando diretamente a forma como nos comportamos e consumimos.
Emoções e finanças
“Todo mundo está procurando atingir um padrão. Seja o pobre, rico ou o milionário, sempre existe um padrão a ser seguido e o desejo de alcançá-lo. Porém, o padrão é móvel. Quando você acha que chegou, ele muda. E é por isso que ela atinge todos os brasileiros: 7 em cada 10 não usam palavras positivas para descrever sua relação com as finanças hoje”, explica a head de relações com a sociedade do will Bank, Ana Coelho.
Em um cenário com 9,4 milhões de desempregados e 78% das famílias endividadas no país, não é de se espantar que a vida financeira desperte muitas emoções. Segundo a pesquisa, 90% dos entrevistados não conseguem comprar tudo o que necessitam e não possuem reservas para o futuro. O estudo também aponta que 71% das pessoas sentem que os outros obtêm facilmente o que eles conquistam com esforço.
A dismorfia financeira sob a ótica racial
Entre pessoas pretas e brancas, a pesquisa identificou um grande contraste. Enquanto 17,1% das pessoas pretas mencionaram “desespero” ao lidar com gastos cotidianos, como compras de supermercado do mês, contas de consumo de água, luz e moradia, 18,7% das pessoas brancas relataram “tranquilidade”.
Em relação ao comportamento de consumo nos últimos 12 meses, 39,6% das pessoas brancas disseram ter procurado formas alternativas de aumentar a renda, enquanto 33,9% das pessoas pretas atrasaram o pagamento de alguma conta. 33,6% das pessoas pretas disseram não conseguir fechar as contas do mês ou terem muita dificuldade de deixar as contas em dia, o percentual é de 24,2% para brancos. 13% das pessoas brancas afirmou conseguir comprar tudo o que quer no dia a dia, o número cai para 7,1% para a população preta. Metade dos brasileiros que se autodeclaram pretos disse ter tantas contas em atraso que é quase impossível de gerenciar.
O maior abismo: mulheres pretas e pardas da classe DE e homens brancos da classe AB1
Apenas 10,5% das mulheres pretas e pardas da classe DE se referem à própria situação financeira com palavras positivas. Por outro lado, entre homens brancos de classe alta este índice sobe para 58,1%.
Enquanto 24,2% deste grupo de mulheres desta classe social usam a palavra “desespero” ao lidar com gastos cotidianos, como compras de supermercado do mês, contas de consumo de água, luz e moradia, o número é de apenas 0,6% para o grupo de homens brancos de alta renda. A palavra tranquilidade aparece em 32,9% das respostas deles ante 7,2% delas.
E sobre outros gastos eventuais, que envolvem maior desembolso ou parcelamento dos bens, como compra de um celular ou um eletrodoméstico novo, entrada ou parcelas mensais de uma moto ou outro bem parecido, o sentimento mais popular entre eles é de tranquilidade (17,2%), seguido de satisfação (13,5%), enquanto para elas é desespero (13,7%) e tristeza (13,6%).
Enquanto 54,2% das mulheres pretas e pardas da classe DE afirmam que não consegue fechar as contas do mês ou tenho muita dificuldade de deixar as contas em dia (ante apenas 8,4% dos homens brancos de classe AB1), 32,9% do grupo que se encontra no topo da pirâmide afirma que compra tudo o que precisa, sobra e planeja para o futuro, o percentual é de apenas 7,2% para elas.
Os dados ilustram a importância de criar produtos e serviços financeiros adaptados para atender às necessidades de todos, além de oferecer um ambiente bancário mais inclusivo e acolhedor. “Esse fenômeno cria um ciclo de comparação constante entre as próprias finanças e as de outros, gerando um impacto negativo na vida de quem vive tentando se adequar aos padrões”, explica Coelho.
Desfile de informação: dismorfia na passarela mais preta do Brasil
Para chamar atenção para os dados e fomentar a discussão sobre inclusão no mercado financeiro, o will Bank vai realizar uma ação no Centro Histórico de Salvador – cidade mais negra do mundo fora da África. Com um look exclusivo assinado pelo estilista Fagner Bispo, produzido especialmente para vestir a rapper e influenciadora Áurea Semiséria, o will vai desfilar informação no Afro Fashion Day.
O tema do desfile deste ano é “Mãe África” e será dividido em 3 blocos: Afro Realeza, Afro Etnia e Afrofuturismo. Mulher preta, gorda, lésbica e crespa, Áurea caminhará pela passarela na categoria Afro Realeza com toda a exuberância de uma rainha e promete chamar atenção mandando a ideia com um rap destemido. O desfile acontece no próximo sábado (25), às 16h, no Terreiro de Jesus, no Pelourinho. A entrada é gratuita e o evento está sujeito à lotação.
O estudo completo sobre Dismorfia financeira pode ser baixado gratuitamente no site do will Bank, basta acessar este link.
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