A PEÇA “MAIS DO QUE A CASCA DE NÓS”
PELA INCLUSÃO E CONTRA O CAPACITISMO
Instituto Teatro Novo apresenta espetáculo encenado por artistas com deficiências diversas, mostrando que eles têm muito mais a oferecer do que aparentam
As sessões gratuitas serão nos dias 26(sábado) e 31(quarta-feira) no Teatro Popular Oscar Niemeyer
Crédito das fotos: Felipe Xavier
Ser ou não ser? O que essa frase representa para uma pessoa com deficiência? Um grupo de 25 atores com deficiência intelectual, autismo e síndrome de Down propõe compartilhar seus desejos e frustrações por meio de um mergulho na obra e nos personagens de “Hamlet”, tragédia de William Shakespeare. O resultado é a peça “Mais do que a casca de nós”, realização do Instituto Teatro Novo, através do projeto da Redes de Escolas Livres de Formação do programa “Olhos D’Água” do Ministério da Cultura. Com dramaturgia e concepção geral de Leonardo Corajo, o espetáculo será apresentado no Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói, nos dias 26 (sábado) e 31 (quinta-feira) de outubro, com sessões gratuitas às 20h. A peça é um encontro entre o texto Hamlet, de William Shakespeare, e a vida dos atores, tomando como ponto de partida a questão universal sobre a nossa própria existência.
Quando Hamlet, ao lamentar que a “Dinamarca era uma prisão”, ele diz em sequência que “poderia viver recluso numa casca de noz e ainda assim se considerar rei do espaço infinito”. “E é isso o que vejo nesses atores: uma imensa potência de criar e viver, mas ainda sob os olhares capacitistas e preconceituosos de uma sociedade que ainda não consegue vê-los em sua plenitude. Cada pensamento deles, cada palavra foi escutada, acolhida e está presente na peça. O espetáculo é, enfim, sobre eles”, explica o professor Leonardo Corajo sobre esse trabalho coletivo, construído durante oito meses e elaborado a partir do que os próprios atores levavam para as oficinas do projeto.
Os atores exploram as emoções dos personagens e refletem sobre questões que também os atravessam: a invisibilidade imposta a Hamlet, o controle sobre Ofélia, a rejeição vivida por Gertrudes, a violência de Cláudio e a lealdade de Horácio. Tudo isso enquanto enfrentam os desafios de estar em cena, memorizar uma trama complexa e lidar com o texto, que exige expressividade.
“O teatro, por meio desses corpos em cena, nos faz repensar sobre modelos sociais e as diferentes formas de estar no mundo. O corpo diverso precisa ocupar todos os espaços, precisa liderar as próprias narrativas, porque eles existem para si e não apenas para inspirar os outros. Se o teatro é a arte do encontro, feliz sou eu por encontrar pessoas tão maravilhosas, artistas tão potentes”, emociona-se Corajo.
Esses artistas não estão no palco para servir de exemplo de inspiração ou de qualquer outra coisa. Essas narrativas, apesar de poderem parecer poéticas, podem ser limitadoras. Eles estão no palco porque, assim como na peça do bardo inglês, um rei tirano nega ao príncipe Hamlet o direito de existir. Da mesma forma, muitos tentaram negar a existência plena dessas pessoas. Mas eles estão aqui, com uma imensa potência de criar e viver. Estão em cena porque, como Hamlet, são jovens conscientes de quem são, de suas condições e do que precisam enfrentar para cumprir seus destinos. Somente eles podem falar sobre o desafio de ser em uma sociedade que, muitas vezes, não reconhece plenamente sua existência.
Sobre o Instituto Teatro Novo
O Instituto Teatro Novo é uma organização não governamental sem fins lucrativos, com sede em São Domingos, Niterói, que realiza ações socioculturais voltadas para pessoas com deficiência. Os projetos do Instituto são focados na inclusão, cidadania, empoderamento, empreendedorismo, anticapacitismo (discriminação por motivo de deficiência) e bem-estar.
Com mais de 18 anos de existência, a instituição vem promovendo ações culturais em diversas linguagens artísticas, como teatro, música, artes visuais e digitais. O carro-chefe da instituição sempre foi o teatro, tendo produzido mais de 50 peças e realizado mais de 270 apresentações em 11 capitais do Brasil, além da Colômbia e dos Estados Unidos.
Atualmente, com a nova sede, a instituição tem promovido o protagonismo de pessoas com deficiência e a acessibilidade para trabalhadores do setor cultural, oferecendo capacitação e informação. Por meio de oficinas e palestras, sensibiliza e capacita profissionais da área para tornarem seus projetos mais inclusivos, atendendo às necessidades de pessoas com deficiência. Além disso, oferece oficinas exclusivas para pessoas com deficiência que buscam aperfeiçoamento no setor cultural.
O Teatro Novo segue, desde sua criação, a metodologia de Rubens Emerick Gripp, criador do Instituto, formado e especializado em Psicologia Clínica e Educacional e mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense. A metodologia utilizada nos ensaios serve de referência para pesquisadores, professores e estudantes, com debates abertos ao público interessado. Hoje, essa metodologia é aplicada pelo professor Leonardo Corajo, tornando as oficinas da organização um espaço permanente de sensibilização para a mudança de paradigmas sobre inclusão na cultura.
Vale destacar que Leonardo Corajo é ator formado pela CAL, graduado em Letras pela UERJ, e atua como dramaturgo, diretor e professor em diversas companhias teatrais. Desde 1999, coordena o projeto interdisciplinar Teatro/Literatura na Escola do CEPE e a FliCepe, além de integrar o Instituto Teatro Novo a partir de 2024. Foi também membro do núcleo de Radiodramaturgia da Rádio MEC até 2011.
A instituição é reconhecida nacionalmente como referência na área do teatro inclusivo e também certificada como Ponto de Cultura pelo MINC, por meio do Prêmio Sérgio Mamberti. Além disso, recebeu o Prêmio Heloneida Studart, como reconhecimento e estímulo às boas práticas culturais no estado do Rio de Janeiro, e o Prêmio Nicette Bruno por sua atuação na cidade de Niterói em prol da cultura para pessoas com deficiência.
Hoje, sua atuação não se restringe apenas às formações. Realiza eventos de grande relevância na área da cultura inclusiva, como o Festival Teatro Novo, que está em sua terceira edição, promovendo artistas com DEfs no estado do Rio de Janeiro, e o Festival “Cultura Surda”, realizado recentemente no Campo de São Bento, em Niterói, dando “voz” a artistas e artesãos surdos do estado.
Ficha técnica
Espetáculo: “Mais que a casca de nós”
Dramaturgia e concepção geral: Leonardo Corajo
Elenco:
Alexandre Assumpção
Ana Carolina Chaves Balue
Bruno Moreira Pereira
Cesar Augusto Moreira
Clara Oliveira Goulart
Grasielle Tavares Duarte
Giovana Bié
Guilherme D’Ambrósio Vieira
Guilherme Santos Viana
Isabel Sant’Ana de Souza
João Pedro Moreira Ferreira
Julianne Moreira Ramos
Letícia Carreteiro Cortar
Letícia dos Santos Coelho
Lucca Rodrigues Trigo
Maria Fernanda Froes Linhares
Matheus Ribeiro Habib da Fonseca
Pedro Petrucio Milward de Azevedo
Phillipy Raphael Pereira dos Santos
Samantha Martins Soares
Saulo Fonseca Ferreira de Souza
Sofia da Costa Carvalho
Thiago Mariante Mayão
Vinícius Pereira Simplício
Direção geral: NeocicLo Cultural
Dramaturgia e Direção: Leo Corajo
Direção de Arte: Tainá Xavier
Cenografia: Tainá Xavier
Assistente de Cenografia: Alicía Fávaro
Figurino: Tayara Dias
Iluminação: Felipe Antello
Assistente de iluminação: Renato Lima
Produção: Daniele Motta
Assistente de produção: Carol Tiburcio
Fotografia: Felipe Xavier
Assessoria de imprensa: Sheila Gomes
Realização: Instituto Teatro Novo
Serviço
Espetáculo “Mais que a casca de nós”
Dias: 26 (sábado) e no dia 31 (quinta-feira)
Horário: 20h
Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer
Endereço: R. Jorn. Rogério Coelho Neto, s/n – Centro, Niterói
Gratuito – Classificação livre