Ícone do site Dica de Teatro

Cordão do Boitatá volta à cena com “Dos pés a cabeça na rua”

CORDÃO DO BOITATÁ lança “Dos pés a cabeça na rua”, álbum que chega às plataformas nesta sexta, dia 6

Um desfile por vários estilos musicais brasileiros, aliando alegria e performance musical competente

 

 

Ouça o álbum:  https://orcd.co/dospesacabecanarua 

Capa e fotos em anexo

 

Por Claudio Jorge

 

Depois do lançamento do belíssimo “Dos Pés à Cabeça na Praça”, o Cordão do Boitatá volta à cena com “Dos pés a cabeça na rua”, álbum dedicado a um repertório eclético, onde faixas como “Cheguei”, “African Market”, “Canto de Yemanjá”, “Xodó” (Ijexá orquestrado) e “Vapor Berrou na Paraíba (Jongo), revelam a construção musical e ideológica do Boitatá, que busca fazer música na rua pra valer.

 

Se o álbum anterior é um trabalho mais introspectivo, autoral, “Dos pés a cabeça na rua” é Exú abrindo caminho, garantindo a festa. O repertório potente do cancioneiro popular, com excelentes arranjos orquestrais, é marca do Cordão do Boitatá.

 

Importante destacar que o ouvinte vai perceber que, na realidade, um álbum completa o outro, um verdadeiro presente para a música popular brasileira. Um detalhe importante deste álbum é a habilidade da produção em reunir no estúdio uma bateria de escola de samba e uma orquestra de sopros, com repertório variado e arranjos em sua maioria inéditos.

 

“Dos pés a cabeça na rua” é, acima de tudo, um competente desfile pela variedade de estilos musicais brasileiros do jeito Boitatá, onde alegria e performance musical se aliam competentemente. Ao final da audição, dá vontade de ouvir tudo de novo e seguir a conclamação do Cordão do Boitatá: “vamos pra rua!”.

 

Repertório

01 – AFRIKAN MARKET (Abdullah Ibrahim)

A canção de autoria de Abdullah Ibrahim nos transporta às ruas de Soweto e ao carnaval de Nova Orleans. O som é cinematográfico, nos levando a imaginar o povo preto nas ruas daquela cidade, tão rica em misticismo. O ritmo tem uma pegada de frevo e marchinha, revelando os links entre a cultura negra de lá e a daqui. O arranjo de metais harmoniza a melodia num bloco de três vozes, com a tuba marcando o ritmo, escrito por Thiago Queiroz. A criação das levadas por parte da bateria do Cordão, diferenciada da versão original, é mais uma das características da estética do grupo. Destaque para os solistas Aline Gonçalves, Daniela Spielmann e Gilson Santos.

 

02 – PASTORINHAS (Noel Rosa e Braguinha)

Ouvindo “Pastorinhas”, de Noel Rosa e Braguinha, é inevitável que nos venha à lembrança um carnaval do passado. É romântico, dolente, é carnaval com pausa para respirar, sem jamais perder a alegria. A competência do arranjo de Kiko Horta completa a beleza da faixa.

 

03 – CHEGUEI (Pixinguinha)

De Pixinguinha e Benedito Lacerda, o maxixe “’Cheguei” nos transporta não só a um carnaval do passado, mas também desperta em nós nossas influências musicais mais antigas, que fazem parte da alma brasileira. Maxixe com cara de choro, em três partes, forma clássica dos gêneros. Orquestração e arranjo do Mestre Pixinguinha, com adaptação de Thiago Queiroz.

 

04 – CANTO DE IEMANJÁ (Baden Powell e Vinícios de Morais)

A orquestração em tom apoteótico é o Cordão do Boitatá sob a energia de Iemanjá, a Rainha do Mar. É um dos momentos mais bonitos do álbum, quando o cordão evoca suas raízes religiosas africanas. O arranjo de metais, a cargo de Thiago Queiroz, nos remete a grandeza e a força que têm os Orixás, com um ritmo constante dos tambores e variações harmônico-melódicas de muita inspiração. A sanfona de Kiko Horta improvisando sobre o naipe e o cavaquinho de Cris Cotrim, ajuda a criar uma atmosfera de liberdade. O arranjo de bateria do Cordão, a cargo de Paulino Dias, Kiko Horta, Manguerinha S.Vicente e Rodrigo Scofield, mistura o Vassi de Ogum com a levada de Jongo, nas caixas e no surdo.

 

05- EU SÓ QUERO UM XODÓ (Dominguinhos e Anastácia)
Várias manifestações culturais frequentam o universo do Cordão do Boitatá. A fé nos Orixás, as festas juninas, o carnaval, o jongo e o forró. O sanfoneiro Kiko Horta é um dos principais pilotos de todo esse conjunto de manifestações, e o Forró não poderia ficar de fora deste trabalho, mesmo que numa releitura orquestral no ritmo do ijexá. É também uma homenagem a  Dominguinhos, um dos grandes compositores brasileiros e mestre da sanfona, autor da canção em parceria com Anastácia. Belo arranjo de Kiko Horta

 

06 – MARACANGALHA (Dorival Caymmi)

Outro clássico do samba, vindo da Bahia pelas mãos de Dorival Caymmi, “Maracangalha” é um clássico exemplo da eficiência de canções curtas, que sequestram o povo para a folia. Parece fácil compor, né? Mas não é. A simplicidade com esse alcance é para poucos, como Dorival Caymmi. O arranjo de metais é de Josimar Carneiro, privilegiando contrapontos. A bateria do Cordão fez um arranjo onde se destacam os surdos de primeira e de segunda, e a dinâmica de subida de tom, que completam o sabor da gravação.

 

07 – TEM CAPOEIRA (Batista da Mangueira)

“Tem capoeira, na Bahia, na Mangueira”, segue o mesmo embalo das faixas anteriores: um clássico que não poderia ficar de fora num roteiro musical que passa pelo carnaval. O arranjo de metais é da dupla Kiko Horta e Thiago Queiroz. Mais uma vez, um caprichado e eficiente arranjo da bateria do Cordão, trazendo as levadas de caixa e surdo características da Estação Primeira de Mangueira.

 

08 – EXALTAÇÃO À TIRADENTES (Estanislau Silva, Penteado e Mano Décio)

Um dos sambas enredos mais tradicionais da história do carnaval carioca, “Exaltação à Tiradentes” também tem vaga garantida no repertório dos bailes e Carnaval de rua. Mesmo da forma instrumental, como está  apresentada no álbum. O arranjo ficou a cargo de Josimar Carneiro. Especial atenção para a primorosa percussão de Paulino Dias, Rodrigo Scofield e Mangueirinha, diretores de bateria do Cordão do Boitatá, trazendo todo o balanço das caixas e surdos da Sinfônica do Samba, como é chamada a bateria do Império Serrano.

 

09 – VAPOR DA PARAÍBA (Vovó Tereza e Mestre Fuleiro)

Não tem como evitar a emoção, logo nos primeiros acordes de “Vapor”, jongo que nos traz a Serrinha, Vovó Tereza, Mestre Fuleiro, Vovó Maria Joana, Mestre Darcy, toda a ancestralidade, elemento de referência do Cordão do Boitatá. Vozes de Deli Monteiro e Lazir Sinval, ambas integrantes do Jongo da Serrinha, e o competente e saboroso arranjo de Kiko Horta. Machado!!!

 

10 – A JARDINEIRA (Humberto Porto e Benedito Lacerda)

Caminhando para o final do álbum, nada melhor do que “Jardineira”, de Humberto Porto e Benedito Lacerda, dentro do espírito do Boitatá: uma criativa brincadeira ao juntar frevo e reggae.

 

11 – COCADA (Lourival Oliveira)

Arranjo muito feliz do grande Maestro Duda, que colabora para manter lá no alto a energia deste evento carioca que é o carnaval do Boitatá. Um carnaval de música brasileira da melhor qualidade, cantada e instrumental. Confirmando sua marca de originalidade, o Cordão introduziu sanfona, cavaquinho e violão, instrumentos que não fazem parte do arranjo original. Destaque também para a performance do naipe de metais do Cordão do Boitatá.

 

12 – CABELO DE FOGO (José Nunes de Souza)

O carnaval do Cordão do Boitatá é choro, samba, marchinha, ijexá e frevo pernambucano. “Cabelo de fogo” nos leva diretamente para uma ladeira de Olinda e para os foliões da Praça XV, que, aí sim, com toda a propriedade, tiram o pé do chão no embalo dos sopros ardentes do Cordão do Boitatá. Arranjo mais uma vez do Maestro Duda.

 

13- MADEIRA QUE CUPIM NÃO RÓI (Capiba)

Foi composta em 1963, por Capiba, como um desabafo, quando o seu bloco perdeu o concurso para os Batutas de São José. A música tornou-se um hino do Carnaval de Recife e sua história no Carnaval de rua do Rio é um belo exemplo de resistência e fé. Arranjo de Maestro Duda.

 

14 – TRISTEZA (Niltinho e Haroldo Lobo)

Um dos sambas mais cantados nos antigos bailes do Carnaval carioca, de autoria de Nilton de Souza e Haroldo Lobo. O sucesso deste samba é tão grande, a nível mundial, que o autor adotou o nome artístico de Niltinho Tristeza. Centenas de gravações foram feitas depois da inicial, de Ary Cordovil, em 1966. Mais uma vez,  o arranjo orquestral, escrito por Kiko Horta e Thiago Queiroz, conduz à lembrança dos melhores momentos do Carnaval carioca neste belíssimo samba, cujo autor pertenceu à ala dos compositores da Imperatriz Leopoldinense.

 

Formação da Orquestra de Rua

Paulino Dias (Percussão e coro) Rodrigo Scofield (Percussão) Mangueirinha (Percussão) Quininho da Serrinha (Percussão)

Daniel da Silva (Percussão) Darlan Pereira (Percussão)

Pedro Ivo (Percussão)

André Filho (Percussão)

Maju Nunes (Xequerê)

Jonas Hocherman (Tuba e Trombone)

Wellington Tavares Cahé (Tuba)
Everson Moraes (Trombone Baixo e Trombone)

Pablo Beato (Trombone)

Thiago Queiroz (Sax Alto e Barítono)

Diogo Acosta (Sax Tenor)

Tarcísio Cisão (Sax Tenor)

Gabriel Gabriel (Sax Alto)

Daniela Spielmann (Sax Soprano)

Aline Gonçalves (Clarinete)

Maico Lopes (Trompete)

Gilson Junior(Trompete)

Thiago Pires (Trompete)
Alexandre Romanazzi (Flauta, Flautim e coro)

Mariana Zwarg (Flauta e Flautim)

Cristiane Cotrim (Cavaco e coro)

Kiko Horta (Sanfona)

Grupo Mulecada Que Agita (Morro da Serrinha): Maju Mendes (Agogô)

Derik Ribeiro (Caixa), Pedro Henrique Coelho de Oliveira (Caixa), Willian dos Santos (Surdo), Lucas Badeco (Caixa)

Direção: Quininho da Serrinha

Direção de Bateria: Paulino Dias, Rodrigo Scofield e Mangueirinha

Direção da Orquestra de Sopros: Thiago Queiroz

Direção Musical: Kiko Horta.

Gravado nos Estúdios Fibra

Mixagem: Celso Filho, Thiago Queiroz, Paulino Dias, Kiko Horta.

Direção Artística: Kiko Horta, Thiago Queiroz e Cristiane Cotrim

Direção Musical: Kiko Horta


Sair da versão mobile