Com dramaturgia de Marcelo Braga e Luís Filipe Caivano, espetáculo metateatral traz à cena fatos relevantes da vida e da obra de Williams, um dos autores mais importantes do Teatro Moderno do Século XX
Fotos de Helton Nóbrega
A vida e a obra do autor norte-americano Tennessee Williams (1911-1983) inspirou a criação do espetáculo metateatral Tennessee Williams Deve Morrer, que tem sua temporada de estreia de 21 de novembro a 14 de dezembro no Sesc Pinheiros. As apresentações acontecem de quinta a sábado, às 20h.
Com texto de Luiz Filipe Caivano e Marcelo Braga, que também assina a direção, o novo trabalho encerra a trilogia metateatral de dramaturgia autoral da Cia. Filhos do Dr. Alfredo, composta ainda por Montanha Russa (2018) e Quem Fica com Quem (2019). No elenco, estão Vivian Bertocco e Luciano Schwab.
Tennessee Williams Deve Morrer acompanha dois irmãos e artistas de teatro, Rose e Tom, que, enquanto se preparam para entrar em cena, recebem a crítica do espetáculo que estão prestes a iniciar. Frente à dureza da análise do crítico, Tom – que além de ator também é dramaturgo – resolve reescrever a peça como uma resposta à exclusão artística e à intolerância às novas ideias de construção teatral. Ele pretende sublinhar a atitude conservadora e homofóbica da crítica de então.
E essa “peça dentro da peça” percorre fatos relevantes da vida e aspectos importantes da obra de Williams, que é, sem dúvida, um dos autores mais importantes do Teatro Moderno do século XX.
A encenação, por Marcelo Braga
A encenação está apoiada no jogo teatral e no conceito de metateatro. Esse jogo toma corpo quando os dois intérpretes entram no espaço de jogo, ou seja, quando atuam na “peça dentro da peça”. As coxias serão abertas e as trocas de cenários/figurinos e a presença do videomapping serão revelados. Os signos de teatralidade e a linguagem da encenação estão em íntima relação. Os elementos que compõem a cena terão forte tom simbólico e metafórico.
A proposta das visualidades também está apoiada no conceito de metateatro, a partir da construção de um espaço cênico imerso dentro da obra do Autor a partir da presença de banners ao fundo e nos lado do palco customizados com fac-símiles de manuscritos e textos de Tennessee Williams. Estes banners terão a função de tela para projeções em videomapping. Os signos de teatralidade estarão presentes da seguinte forma: máquina de escrever, baú para guardar objetos de cena, manequins que devem abrigar os figurinos dos diversos personagens, mesa e cadeira do dramaturgo e espaço destinado ao programa de entrevistas.
A proposta de figurinos deve caracterizar os diversos personagens interpretados na “peça dentro da peça”: Ator, Tom, Cornelius Williams, Tennessee Williams e Atriz, Rose, Miss Edwina Williams, Apresentadora e Médica. A proposta de iluminação deve revelar as estruturas do palco: coxias abertas, refletores, objetos de cena e maquinários e também pontuar esse jogo cênico que alterna atriz/ator e personagens.
A dramaturgia foi construída em processo e a quatro mãos, tendo como ponto de partida uma pesquisa aprofundada sobre a biografia e obra de Tennessee Williams – incluso nessa pesquisa o livro Memoirs (autobiografia do autor), suas peças principais (Zoológico de vidro, Gata em telhado de zinco quente, Um bonde chamado desejo), suas peças tardias (Um cavalheiro para milady, Verão no lago, A peça de dois personagens, Os passos devem ser leves) e textos, livros e trabalhos científicos, escritos pelos pesquisadores brasileiros Luís Márcio Arnaut, Fúlvio Torres Flores e Maria Silvia Betti, sobre a importância de Tennessee Williams para o desenvolvimento da dramaturgia ocidental moderna e contemporânea. A proposta da construção dramatúrgica também busca apresentar ao público brasileiro a versatilidade, a poesia e o lirismo da parte menos divulgada de sua obra, ou seja, um “outro Tennessee”.
Sobre Tennessee Williams
Tennessee Williams (1911-1983) é amplamente reconhecido como um dos dramaturgos mais influentes do Teatro Moderno. Seu sucesso foi consolidado com peças premiadas como O zoológico de vidro (1945), Um bonde chamado Desejo (1947) e Gata em telhado de zinco quente (1955). Além de sua produção teatral, sua obra se estende a contos, novelas, artigos, crônicas, poesia e roteiros cinematográficos.
Williams nasceu em uma família marcada por tensões profundas. Sua mãe, Edwina Williams, era filha de um pastor episcopal e sua religiosidade rígida moldou sua personalidade. Seu pai, Cornelius Coffin Williams, era alcoólatra, frequentemente ausente e homofóbico, o que acentuava o ambiente hostil dentro do lar. A irmã mais velha, Rose Williams, teve seu primeiro surto de esquizofrenia na década de 1930, sendo internada em 1937 e submetida a uma das primeiras lobotomias nos Estados Unidos, em 1943. Rose passou grande parte de sua vida em uma instituição, que era suportada pelo irmão famoso, e faleceu em 1996.
A leitura crítica da obra de Tennessee Williams tem frequentemente enfatizado aspectos autobiográficos e realistas, relegando a segundo plano os contextos sociais, históricos, políticos e culturais nos quais suas peças foram produzidas. Esse enfoque reduzido também obscurece sua crítica à sociedade de seu tempo. As adaptações cinematográficas de quinze de suas peças, realizadas por Hollywood, simplificaram o conteúdo de sua obra, embora tenham contribuído para sua popularidade mundial.
Ao longo de sua vida, Williams manteve diversos relacionamentos fortuitos com rapazes. Os parceiros que marcaram sua trajetória foram Kip Kiernan, Frank Merlo e Pancho Rodriguez. Ele assumiu publicamente sua homossexualidade apenas em 1970, durante uma entrevista ao vivo em um programa de TV em rede nacional.
Nos últimos 20 anos de sua vida, Williams enfrentou o abuso de drogas e álcool, além do desprezo da crítica e do público, que não compreendiam sua ruptura com o realismo poético e sua exploração das tendências estéticas contraculturais dos anos 1960 e 1980. Marginalizado, considerado ultrapassado e alvo de preconceito por sua sexualidade, idade e dependência química, ele faleceu em um quarto de hotel em Nova Iorque, em circunstâncias que ainda geram dúvidas entre acidente ou suicídio.
Seu legado, contudo, permanece vasto, com muitas obras inéditas, a maior parte ainda desconhecida no Brasil e uma considerável parcela publicada postumamente nos Estados Unidos.
Sobre a Cia. Filhos do Dr. Alfredo
A Cia. Filhos do Dr. Alfredo foi criada em 2001 por atores formados pela EAD – Escola de Arte Dramática (ECA/USP), com a intenção de desenvolver pesquisas de linguagens próprias a partir de diferentes formas dramatúrgicas. O nome é uma homenagem a Alfredo Mesquita, fundador do conjunto amador Grupo de Teatro Experimental (GTE), uma das raízes para a criação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), e fundador da EAD (Escola de Arte Dramática – EAD-ECA-USP).
Com 23 anos de existência, a companhia pretende continuar proporcionando cada vez mais desafios para os membros do grupo e com isso desenvolver espetáculos que dialoguem diretamente com a nossa realidade artístico-social.
Entre os espetáculos criados pelo coletivo ao longo desses anos, estão Quem Fica com Quem (2019), Montanha Russa (2018), As Cinzas do Velho (2013), Amor Que Não Ousa Dizer Seu Nome (2011), Ritual Íntimo (2007), Sinfonia do Tempo (2004) e Pelo Buraco da Fechadura (2002).
Ficha Técnica
Dramaturgia: Marcelo Braga e Luís Filipe Caivano
Direção: Marcelo Braga
Dramaturgismo: Luis Márcio Arnaut
Elenco: Vivian Bertocco e Luciano Schwab
Assistente de Direção e Preparação de elenco: Laís Marques
Cenário e Figurinos: José Carlos de Andrade
Desenho de Luz: Aline Santini
Videomaping: Um Cafofo (André Grynwask e Pri Argoud)
Produção musical: Dario Ricco
Midias Sociais: Laura Carvalho
Fotos: Helton Nóbrega
Mentoria Artística: José Eduardo Vendramini
Produção: Fulano´s Produções Artísticas (Rodrigo Palmieri e Leandro Ivo)
Coordenação Geral: Cia. Filhos do Dr. Alfredo.
Realização: SESC
Sinopse
A peça narra a história de dois irmãos e artistas de teatro, Rose e Tom, que enquanto se preparam para entrar em cena, recebem a crítica do espetáculo que estão prestes a iniciar. Frente à dureza da análise do crítico, Tom – que além de ator também é dramaturgo – resolve reescrever a peça como uma resposta à exclusão artística, intolerância às novas ideias de construção teatral e, de forma subliminar, a atitude conservadora e homofóbica da crítica de então. A narrativa percorre fatos relevantes da vida e aspectos importantes da obra de Tennessee Williams – que é sem dúvida um dos autores mais importantes do Teatro Moderno do século XX.
Serviço
Tennessee Williams deve morrer!
De 21 de novembro a 14 de dezembro | Quinta a sábado, 20h
Duração: 60 min
Local: Auditório | 3º andar
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 50 (inteira); R$ 25 (meia) e R$ 15 (credencial plena)
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h.