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Cartas da Prisão no Sesc Pompeia

Espetáculo Cartas da Prisão, que retrata troca de cartas amorosas entre uma mulher e um serial killer estreia no Sesc Pompeia

O documentário cênico, que mescla ficção e relatos reais de mulheres que sofreram diversas formas de abuso estreia dia 05 de novembro

Uma imagem contendo pessoa, ao ar livre, segurando, homem Descrição gerada automaticamente

Créditos: Rafael Salvador

 

Com texto de Nanna de Castro, direção de Bruno Kott, e atuação de Chica Portugal, o espetáculo terá sua estreia na capital no Sesc Pompeia após dois anos de circulação.

250 cartas são encontradas debaixo do colchão numa penitenciária de segurança máxima em São Paulo. Elas revelam a correspondência amorosa entre uma dona de casa e um psicopata condenado por esquartejar mais de 40 mulheres. No palco, a atriz Chica Portugal dá vida a cinco diferentes mulheres que se relacionam com homens presos, expondo os abusos enfrentados por mulheres que, por gerações, foram educadas a serem reféns do ideal de amor romântico.

O espetáculo conecta-se com a ascensão do gênero true crime, que tem ganhado cada vez mais força no cinema e na TV. True crime se baseia em histórias reais de crimes, muitas vezes apresentando detalhes das mentes de assassinos, psicopatas e suas vítimas, revelando aspectos sombrios da sociedade. Além de explorar o ponto de vista dos criminosos, essas produções frequentemente humanizam as vítimas, mostrando suas trajetórias e as complexidades emocionais envolvidas.

No Brasil, o true crime tem ganhado relevância com projetos como o documentário ‘Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime’ da Netflix, que reconta o caso de uma mulher que matou e esquartejou o marido, o longa metragem produzido pela Amazon, “Maníaco do Parque”, estrelato pelo ator Silvério Pereira. A minissérie do Streaming, Max “Praia dos ossos” que reconta o assassinato de Ângela Diniz, e também a série da Prime “Tremembé” sobre o presídio dos criminosos Roger Abdelmassih, Robinho, Alexandre Nardoni e Cristian Cravinhos, ex-namorado de Suzanne von Richthofen.

“O que as séries e filmes de true crime geralmente revelam à distância, o espetáculo nos convida a ver de perto: a complexa relação entre violência, medo, patriarcado e dependência emocional, ao mesmo tempo em que questiona os perigos de romantizar relações abusivas. Afinal, em quantas dessas histórias, as vítimas não estavam apaixonadas por seus algozes? A paixão já te fez confiar cegamente em alguém, a ponto de perder o controle?” questiona Bruno Kott, diretor do espetáculo.

A respeito de uma de suas motivações para montar o solo, a atriz Chica Portugal, que também é idealizadora da montagem, menciona: Ao longo dos anos de pesquisa, e com a circulação do espetáculo, escuto variações do público da seguinte pergunta: ‘Mas por que ela se envolve sabendo que ele é um assassino e pode fazer mal para ela? Só pode ser doida’. E geralmente eu abro debate falando sobre esse paralelo das relações – a princípio tão distintas das nossas dinâmicas – ditas, românticas, mas que acabam nos aprisionando e sendo nutridas pelas codependência e estruturas sociais. Mas afinal, quem nunca sofreu por amor. E era amor mesmo?”

 

A dramaturgia

O texto de Nanna de Castro rompe propositalmente o limite entre realidade e ficção ao transitar entre depoimentos verdadeiros e fictícios, entre o noticiário e o poético. Obras como “Mulheres que Amam Demais”, de Robin Norwood, e “Loucas de Amor”, de Gilmar Mendes, são referências importantes.

 

“Dois anos juntos. Mostraram sua transferência na tv. Eu fiquei feliz que você foi

transferido para um presídio menos cruel. Pena que ficou ainda mais longe. Eles não te

chamam pelo nome, dizem só: o maníaco da flor. E ficam mostrando aquele mosaico

com as fotos das 40 mulheres. Eles querem fazer as pessoas acreditarem que você ainda

é aquele homem. Não mostram você lendo livros, ajudando outros detentos com bons

conselhos, como eu sei que você faz. Tenho vontade de ligar para a emissora de tv e

mostrar suas cartas, as suas palavras doces e encorajadoras que nunca ouvi de

ninguém.”

M., 42 anos (citação de uma das cartas do espetáculo”.

“Dentre as facetas das relações abusivas, sempre me intrigou as mulheres que se correspondem com criminosos sexuais confessos na prisão. É comum que assassinos recebam centenas de cartas de amor de mulheres que os conhecem apenas pelo noticiário. É como se o abuso fosse não apenas aceito, perdoado, mas acolhido. Não quero e não posso julgar estas mulheres, apenas convidar o público a partir desta situação extrema e refletir sobre nossa convivência com a violência e o desrespeito não apenas no nível pessoal, mas social”, acrescenta a dramaturga.

 

Sinopse:

 

Rita, uma atriz-performer, conduz o público por uma jornada psicológica e emocional através de sua pesquisa sobre relacionamentos abusivos. O espetáculo ganha vida quando ela descobre uma série de cartas encontradas dentro do colchão de um presidiário em São Paulo. Essas correspondências, trocadas entre uma mulher intrigante, “M”, e o “maníaco da flor” — um psicopata condenado por assassinar e esquartejar mais de 40 mulheres, tornam-se o fio condutor de sua performance.

Enquanto revela o conturbado romance entre “M” e o maníaco, Rita também desenterra suas próprias cicatrizes, expondo o abusivo relacionamento que sua mãe viveu com seu pai. Em um jogo cruel de espelhos, a relação tóxica que Rita presenciou em sua infância se entrelaça com a sombria correspondência das cartas, levando a protagonista a confrontar seus traumas.

Em cada revelação, Rita desafia o público a questionar: o que há de obscuro nas dinâmicas de poder em nossas relações? E o mais inquietante: que papel todos desempenhamos nesse ciclo de violência?

 

Histórico da peça

 

O solo estreou durante a pandemia, em 2020, numa versão online. Em 2022, teve sua estreia presencial no Sesc Santo André. No ano seguinte, realizou o circuito das Fábricas de Cultura, na capital paulistana; participou do evento Março-Mulher em Guaratinguetá (SP), além de realizar apresentações durante a II Semana de Reflexão e Combate à Violência contra a Mulher no Teatro Feluma e na Virada Cultural em Belo Horizonte/MG. Em março de 2024 realizou circulação via ProAC pelas regiões com maior índice de feminicídio do Estado. Recentemente realizou turnê pelas unidades do SESI_SP no Viagem Teatral.

 

FICHA TÉCNICA CARTAS DA PRISÃO –

Pesquisa e Atuação: Chica Portugal

Texto: Nanna de Castro

Direção: Buno Kott

Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro

Desenho de Luz: Marisa Bentivegna

Desenho de Som: Juliana R.

Caracterização: Beto França

Preparação Corporal: Bruna Magnes

Preparação Vocal: Marilene Grama

Assist. de Figurino e Cenário: Marcos Valadão

Cenotécnico: Evas Carretero

Operação de som: Leandro Goulart

Operação de luz: Giovanna Clara e Violeta Chagas

Voz Off Poema: Nany di Lima

Música: Cálice Intérprete: Paula Mirhan  Composição de Chico Buarque e Gilberto Gil

Intérprete de Libras: Greicy Santos

Designer: Jane Santana

Fotos de Divulgação: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Manager Conexões Artísticas: Vanessa Lopes

Produtora Assistente: Bia Cordeiro

Direção de Produção: Fà-Móra Produções Artísticas

Realização: Sesc Pompéia

 

Redes Sociais: @cartasdaprisao @ameialuz.projeto

https://www.instagram.com/cartasdaprisao/

 

Serviço

De 05 a 15 de novembro

Terça a sexta 20h30

Excepcionalmente 15/11 (feriado) o espetáculo será às 17h30

 

Sesc Pompéia

R. Clélia, 93 – Água Branca São Paulo/SP

Ingressos

R$ 50, R$ 25, R$ 15

Classificação 14 anos

 

 


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