LACCAVA aborda temas recorrentes em suas criações.
A mostra reúne os solos Curtume, A Árvore Seca e Ossada
As três peças tratam de questões urgentes sobre o feminismo. O projeto abre com a
peça Curtume- Dias Secos Inundados de Acácia, dia 14 de fevereiro
Créditos: João Caldas Fº
Trilogia formada pelas peças Curtume – Dias Secos Inundados de Acácia,A Árvore Seca e Ossada, GRITO DE MULHER é uma mostra de solos da atriz e diretora ESTER LACCAVA. Em comum as obras abordam temas recorrentes no trabalho da artista, assuntos ligados à luta da mulher – abuso, misoginia, preconceito, machismo, assédio, incesto e pedofilia, entre outras questões. Com duração de três meses e circulação por São Paulo, o projeto – realizado com apoio da Lei Rouanet – Governo Federal – abre com Curtume – Dias Secos Inundados de Acácia, em temporada de 14 de fevereiro a 9 de março, sexta a sábado, às 21h, e domingos, às 19h, no Teatro Cacilda Becker.
Cada espetáculo fará temporada de um mês, com doze apresentações de sexta adomingo na cidade de São Paulo, totalizando trinta e seis sessões. Cada uma das peças apresentará um ensaio aberto, uma sessão com tradução em Libras e um debate com a presença dos criadores e da plateia para discutir os temas da peça em questão. As temporadas serão realizadas em teatros com acessibilidade e fácil acesso.
“Na minha área, ainda sofro de misoginia, machismo, minha independência e tantas questões sobre ser mulher, ainda bem que estou formada porque assim fico firme. GRITO DE MULHER é um grito meu. Vou existir no que escolhi. Vou berrar para a sociedade que tenho coisas importantes para falar, questões que nos afogam como mulher. O meu trabalho é integrar a formação pessoal com a profissional e a maturidade”, completa Ester.
OUTRAS PALAVRAS DA DIRETORA
Mais do que nunca, nesses últimos dois anos, fui submetida a um questionamento profundo sobre fazer arte/ teatro nesse momento de urgências complexas que acometem a humanidade e o planeta. Questões de guerra, da fome, da extinção, do racismo estrutural, das questões identitárias. Qual a relevância do meu trabalho agora? Para quê? O que tenho de tão importante para mostrar? Ao receber desse jovem autor o texto “Curtume – Dias inundados de acácia”, avistei um destino grandioso. O texto épico do Denizart é uma identificação imediata, poética e trágica da vida desigual que vivemos no nosso país. Salta nas nossas entranhas, projeta com rigor o abismo dos excluídos, que quando testados, mostram-se heróis com musculatura e conhecedores dessa causa vergonhosa: a sobrevivência.
Ao sonhar com esse projeto, esse texto na minha imaginação artística, escuto o eco dos deuses preenchendo um espaço cênico capaz de encantar esse marco histórico, uma humanidade que necessita urgentemente de mudança. Como as grandes obras, Curtume traz a universalidade que carrega e inunda nossa existência poética versus uma realidade injusta. Como criadora, atriz e diretora me vejo capaz, envolvida, raptada para realizar essa montagem e contar a história dessa mulher que trabalhou no curtume para criar seus filhos.
As Hécubas encarnadas num Brasil difícil, lutando para salvar suas crias, honrando a vida, até quando ela se mostra terrível. O teatro nessa altura da minha vida, ele não me cura, eu me cuido, fico atenta, de prontidão, venho curada, inteira, para servi-lo. Me curo no dia a dia, vivendo intensamente para me comunicar com os outros, e assim, no palco, ter todas as referências, experiências capazes de DESCONCERTAR artisticamente os lugares mais rígidos da nossa sociedade. Eu entendo agora que minha entrega de mais de 40 anos servindo no palco, é para COMUNICAR. “Hei, você sentado aí, já pensou desse outro jeito? Hei você aí sentado, quer ir um pouco mais longe, mais fundo? Quer repensar esse tema?” Para realizar essa tarefa, conto com vocês e uma equipe de profissionais muito leais ao risco que corremos de quando se entrega TUDO para o teatro. ESTER LACCAVA
SINOPSE
Ester Laccava atriz e diretora da peça “Curtume – Dias secos inundados de acácia” dá vida a uma idosa que recebe um policial em sua casa para investigar a morte do dono de um curtume. A busca pelo esclarecimento das razões da morte do homem, encontrado sem pele, nos leva à narração da história de vida de uma mulher que aprende a caminhar sobre cacos de vidro.
SOBRE A DRAMATURGIA
A dramaturgia da peça é constituída por meio de três movimentos articulados com deslocamentos temporais, que dão conta da trajetória de vida de uma mulher. No primeiro movimento, “Desenhar em pedra e metal”, vemos uma criança desenhando em um latão de metal, em uma espécie de rito iniciático da tragédia que ela irá empreender. No segundo movimento, “Aprender a andar sobre cacos de vidro”, já não se trata mais de uma criança, mas de uma mulher, com seis filhos. Acompanhamos os embates dessa mulher em empregos precários e sua angústia diante da impossibilidade de constituição de uma vida digna. Neste terceiro movimento, vemos a mulher já idosa, narrando histórias para a sua neta enquanto a ensina a costurar uma sandália de couro, espécie de costura da própria história da velha e de sua neta. É o momento no qual a velha recebe a visita de um investigador que procura saber informações sobre a morte do dono do Curtume dacidade, que foi encontrado em um dos tachos do Curtume, sem pele.
Essas três cenas de vida da personagem são estruturadas de modo a conferir um efeito trágico na constituição de uma vingança arquetípica daquela mulher, rompendo com uma estrutura patriarcal de opressão. É a estrutura trágica, porém, a partir de gente comum, pessoas simples, que encarnam movimentos existenciais que se propõe a dignificar a vida humana. O enlace temporal com a neta aponta para o rompimento da cadeia de acontecimentos opressores que se perpetuam a séculos. A dramaturgia é concebida para uma atriz, de modo que os sucessivos encontros que acontecem no decorrer da peça, sempre são enunciados pela mesma voz. Os filhos, o primeiro patrão, o dono do curtume, o investigador, são personagens que temos acesso apenas pela narrativa da mulher, procedimento comum nas narrativas orais, que ao ser levado ao teatro confere um efeito de estranhamento épico que nos ajuda a acompanhar e nos engajar naquela trajetória de vida.
DENIZART FAZIO
SOBRE A ATRIZ E DIRETORA ESTER LACCAVA
Indicada 4x ao prêmio Shell de Melhor Atriz. Indicada ao prêmio Bibi Ferreira. Indicada ao APCA e com este espetáculo foi indicada novamente ao APCA de melhor atriz e o Denizart Fazio foi indicado a melhor autor. Ester deu aula de dança em Washington (USA) durante um semestre em 1984 na cidade de Yelm. De 1984 a 1988 enriqueceu seu currículo com duas temporadas fora do Brasil, em Chicago como atriz em No Exit, de Jean Paul Sartre, direção de KaterineAnstiti, e em Paris como assistente de direção na Lactoratdu Cinema Jean Paul Violin.
Com 43 anos de carreira, é atriz, performer, autora e diretora. Com “GAROTAS DA QUADRA” de Rebecca Prichard, espetáculo viabilizado pelo VIII Cultura Inglesa Festival, adaptação e direção de Mário Bortolotto, recebeu duas indicações ao prêmio Shell 2004 de melhor atriz e melhor tradução. Como produtora e atriz em “A Festa de Abigaiu” foi vencedora do 11° Cultura Inglesa Festival, ganhando também o prêmio de melhor produção. Também foi indicada pela Revista VEJA SP como melhor peça de teatro em 2007. Como protagonista do espetáculo recebeu indicação ao Prêmio Shell 2008 na categoria de melhor atriz.
Em 2010 produziu “Piscina sem Água” de Mark Havenhill, e atuou como atriz, ganhando o prêmio de melhor espetáculo do 11º Cultura Inglesa Festival. Concebeu “A Árvore Seca”, de Alexandre Sansão, aventurando-se também na Trilha Sonora do espetáculo. Monólogo baseado na literatura de Cordel, rendeu-lhe a 4ª indicação ao Prêmio Shell de melhor atriz de 2011.Em 2014 produz e atua no Sesc Belenzinho, Centro Cultural São Paulo, Teatro Cacilda Becker e Itaú Cultural, com o espetáculo “Pedra de paciência” texto de AtiqHahime e direção de Fernanda Dumbra.
Em 2019 é indicada ao prêmio APCA de melhor atriz em OSSADA, a direção é também de Ester. Indicada no mesmo ano de 2020, ao prêmio Bibi Ferreira, de melhor atriz no espetáculo “Uísque e Vergonha”, adaptação de Michele Ferreira e direção de Nelson Baskervile. Em 2020 adaptou e realizou seus espetáculos para a linguagem das lives. Com texto de Silvia Gomez “A árvore”, projeto idealizado e interpretado por Alessandra Negrini, Ester realiza a criação, roteirização e direção desse híbrido peça –filme. Estreou em 17 de setembro de 2021, “Da natureza da Besta”, espetáculo de dança com sua dramaturgia e direção, no Centro Cultural São Paulo.
Participou com o espetáculo “A árvore Seca” em vários festivais nacionais e internacionais como Alemanha e Portugal. Em 2015 participou do festival de teatro de Valongo (Porto), com “A pedra de paciência”, de AtiqHahime, premiado cineasta e escritor do Oscar e do Goncour em 2008 com esse romance. Em 2020, foi convidada para dar uma formação para jovens criadores em Portugal.Em outubro de 2022, comemorou 40 anos de carreira no Sesc Paulista com o espetáculo: “OURO [O]CULTO” escrito, dirigido e atuação de Ester Laccava com os atores Eduardo Reyes e Vanderlei Bernadino e com uma banda de jazz ao vivo.Em 2024 adaptou e dirigiu o texto de Flávio Cafiero “Diga que não me conhece”.
FICHA TÉCNICA
Autor: Denizart Fazio. Direção e Atuação: Ester Laccava. Direção de Produção: Emerson Mostacco. Ambientes Imersivos de luz e imagens: Mirella Brandi. Cenário: Ester Laccava. Cenotécnico: Marcelo Andrade. Marcenaria: Renato Caldas. Figurinos: Emerson Mostacco. Costureira: Judite Lima. Adereço de cabeça: Marcela Donato. Trilha Sonora: Ester Laccava com músicas originais de Mueptemo. Artista Plástica: Carla Venusa. Assistente de Direção: Giulia Lacava. Assistente de Luz: Sibila. Operador de Luz: Pablo Perosa. Assistentes de produção: Marcela Donato. Operadores de som: Giulia Lacava. Estúdio Off: Frederico Pacheco – Estúdio O&O. Projeção: Matheus Lacava. Tradutor em Libras: Ricieri Palha. Assessoria de Imprensa: Arteplural Comunicação. Gestão de Performance e Redes Sociais: Lead Performance. Fotos: João Caldas Fº. Identidade visual: Giulia Lacava. Produção: Lacava Produções Artísticas / Mostacco Produções. Um projeto da Cia. Indomável.
SERVIÇO
CURTUME- Dias secos inundados de acácia
Temporada: de 14 de fevereiro a 09 de março de 2025.
Sexta a sábado, às 21h e domingos às 19h. Gratuito.
Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295 – Lapa, São Paulo – SP. Não tem estacionamento.
Capacidade: 198 lugares. Duração:60 min. Ingressos: Entrada gratuita.Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos.
Sessão com acessibilidade em Libras: dia 23 de fevereiro.
Link com fotos de cena . Crédito : João Caldas
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