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Artigo: Memórias de um Museu Paulista

Especialista em História do Turismo, o docente Airton José Cavenaghi, da Universidade Anhembi Morumbi, celebra a reinauguração do Museu do Ipiranga dividindo parte de sua história

 

Airton José Cavenaghi*

 

O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, que todos conhecem como Museu do Ipiranga, foi inaugurado em 07 de setembro de 1895, após uma longa espera para que isso acontecesse. Desde o ano posterior à Proclamação da Independência, o Governo Provisório da Província de São Paulo já falava em construir nas, então distantes, terras do Ipiranga, um marco ou um monumento que lembrasse o local que foi palco para o ato de independência de Dom Pedro I, em 1822.

 

Para a abertura, de fato, muito se discutiu, incluindo questionamentos a respeito do local exato da proclamação para, finalmente, em 1855 a Assembleia Provincial (à época, São Paulo era Província e não Estado) aprovar o projeto para a construção e ceder os terrenos para que isso ocorresse. Mas apenas em 1880 foi autorizada uma loteria que angariou fundos para a construção da edificação.

 

A partir de então ficou estabelecido que o monumento seria mais que um lugar de memória. Seria um centro de educação, focado em matemática, ciências físicas e naturais. Isso mesmo! O museu que todos conhecemos não nasceu somente histórico, mas vinculado à exposição de uma confusão de objetos de todo tipo, quase um “gabinete de curiosidades”. Objetos etnográficos e outros diversos faziam parte do acervo e só saíram de lá após uma reforma administrativa ao final dos anos 1990. À essa altura, sua a importância para a população da cidade de São Paulo não estava relacionada à sua produção científica, mas tinha relação direta com o fato de estar localizado no local onde Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil.

 

Dois fatores contribuíram diretamente para transformar o Museu Paulista, popularmente conhecido como do Ipiranga, em local do imaginário popular. O primeiro é a inauguração de uma linha de bonde, por iniciativa da empresa Light and Power, no início do século XX, ligando o centro da cidade ao local. O outro fator, e talvez o mais expressivo, foi a inauguração de seu conjunto de jardins em estilo francês, especialmente para as comemorações do centenário da Independência, em 1922. Os jardins e o “edifício Monumento” passaram a ser ponto de encontro dos paulistanos e local de visitas obrigatórias de turistas, em uma cidade que ainda não possuía seu “Central Park”, como nosso atual Ibirapuera, inaugurado em 1954.

 

Ao final da década de 1960 a Universidade de São Paulo (USP) passou a administrar o local e a nomeá-lo como Museu Paulista. Independente disso, a população sempre o chamou de Museu do Ipiranga e o transformou no mais visitado do Brasil até a época do seu fechamento, ocorrido para as atuais reformas, no ano de 2013. Há um carinho muito grande da população de São Paulo pelo museu e isso sempre foi um mistério em termos de entendimento do “fluxo turístico”, que sempre se direcionou ao local. Acredita-se que o imaginário dos personagens da época da independência e tudo que tenha cercado o acontecimento, tenha sido o motivador dessa paixão explícita.

 

Para mim, o museu sempre foi um marco de meu imaginário. Via suas imagens em livros e revistas em minha juventude. Mesmo não residindo na cidade de São Paulo, sonhava em visitá-lo como o local dos acontecimentos históricos, de tudo aquilo que aprendia na escola. Mas apenas quando adulto e me ofereci para um trabalho voluntário no local, como pesquisador da história paulista, foi que pude realizar meu sonho. Vivíamos os frenéticos anos finais do século XX e foi nesse momento que percebi a sua importância como instituição de pesquisa.

 

Fui muito bem acolhido e compreendi como a pesquisa desenvolvida ali era importante para o conhecimento da história paulista e do Brasil. Mas havia um problema que parecia insolúvel: o museu não possuía estrutura de visitação compatível com o fluxo de turistas que recebia. Os banheiros públicos, por exemplo, ficavam em seu subsolo, obrigando os visitantes a passarem pela reserva técnica, prejudicando o andamento do trabalho de pesquisas, além de ser de difícil acesso para os visitantes, em especial de pessoas com mobilidade reduzida.

 

Sua estrutura, apesar de ter passado por uma pequena reforma ao início dos anos 2000, necessitava de maior atenção e a ampliação do chamado “Edifício Monumento” fazia-se necessária. Em 2013, o Museu foi fechado e as reformas de ampliação e manutenção das estruturas originais começaram. Todo o conjunto, seus jardins, a famosa “casa do grito”, além do próprio edifício é tombado como patrimônio histórico-cultural e intervenções em suas estruturas são delicadas e exigem enorme atenção.

 

Marcada sua reinauguração para o dia 7 de setembro de 2022, data do bicentenário da Independência, o novo Museu do Ipiranga, como passa a ser chamado oficialmente, agora será um local expositivo. Possuirá lugares próprios para a realização de oficinas, auditório com maior capacidade de público e todas as facilidades inerentes aos maiores museus do mundo. Além disso, passará a ser a mais moderna estrutura museológica de pesquisa no Brasil, ajudando o país a ser reconhecido ainda mais por parceiros internacionais significativos, localizados em grandes centros museológicos da Europa e dos Estados Unidos.

 

Para a população paulistana, o velho edifício que antigamente abrigava as coleções etnográficas do Major Sertório, representando o primeiro acervo exposto pelo Museu, sua reabertura é a amplificação de uma história que sempre deve ser contada, pois ampliam os horizontes ao abrirem as portas da percepção. Desta forma, que o novo, porém antigo Museu do Ipiranga, abra suas portas e novamente nos acolha carinhosamente como sempre fez!

 

 

Curiosidade arquitetônica:

O edifício do Museu Paulista foi o primeiro construído na cidade de São Paulo em alvenaria, com tijolos cerâmicos vindos das olarias de São Caetano do Sul. A cidade de São Paulo, até aquele momento, era toda construída em taipa de pilão – o que lhe dava uma característica arquitetônica singular: uma cidade térrea, na qual predominavam apenas as torres de suas Igrejas.

 

O Museu Paulista disponibiliza informações sobre a reforma, achados arqueológicos e históricos ao longo das obras e a história do local no site do museu.

 

Airton José Cavenaghi é professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi.

 

Sobre a Universidade Anhembi Morumbi

A Universidade Anhembi Morumbi oferece programas de graduação, graduação tecnológica e pós-graduação lato sensu e stricto sensu, distribuídos nas áreas de Ciências da Saúde; Turismo e Hospitalidade; Negócios; Direito; Artes, Arquitetura, Design e Moda; Comunicação; Engenharia e Tecnologia e Educação. Seus cinco campi estão localizados nas regiões da Avenida Paulista, Vila Olímpia, Mooca, São José dos Campos e Piracicaba.

Possui laboratórios de última geração e diferenciais como a internacionalidade, já tendo enviado, desde 2006, milhares de alunos do Brasil para realização de cursos no exterior, além de receber centenas de estudantes estrangeiros em seus campi, que se tornaram locais multiculturais para o aprendizado.

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Sobre a Ânima Educação

Com o propósito de ‘Transformar o Brasil pela Educação’, a Ânima Educação é o maior ecossistema de educação de qualidade do país, com um portfólio de marcas valiosas e um dos principais players de educação continuada na área médica. A companhia é formada por uma comunidade de aprendizagem com cerca de 350 mil pessoas, composta por mais de 330 mil estudantes e 18 mil educadores, distribuídos em 18 instituições de ensino superior. Está presente em 12 estados, nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste, e em quase 550 polos de ensino digital por todo o Brasil. Integradas também ao Ecossistema Ânima estão oito marcas especialistas em suas áreas de atuação, como HSM, HSM University, EBRADI (Escola Brasileira de Direito), Le Cordon Bleu (SP), SingularityU Brazil, Inspirali e Learning Village, primeiro hub de inovação e educação da América Latina, além do Instituto Ânima.

Em 2021, a Ânima foi destaque no Guia ESG da revista Exame como uma das vencedoras na categoria Educação. Em 2020, foi reconhecida como uma das cinco Empresas mais Inovadoras do País, na categoria Serviço, de acordo com o Anuário de Inovação do Valor Econômico; e conquistou, em 2019, o prêmio Mulheres na Liderança, na categoria Educação, iniciativa da ONG Women in Leadership in Latin America (WILL). Desde 2013, a companhia está na Bolsa de Valores, no segmento de Novo Mercado, considerado o de mais elevado grau de governança corporativa.

 


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