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Adaptação do romance homônimo de Pagu, Parque Industrial circula pelos teatros municipais de São Paulo a partir de 12 de março

Dirigido e adaptado por Gilka Verana, a peça revela como temas abordados pela escritora e ativista política há quase 90 anos ainda persistem na vida das mulheres

Crédito: Jennifer Glass

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Em uma reflexão sobre a condição enfrentada pelas mulheres trabalhadoras, o espetáculo Parque Industrial adapta o romance homônimo escrito em 1933 pela escritora e ativista política Patrícia Galvão (1910-1962), mais conhecida como Pagu. A peça, idealizada e dirigida por Gilka Verana, estreou em 2022 e agora ganha uma temporada gratuita de circulação pelos Teatros Municipais Paulo Eiró (12 a 16/3), Arthur Azevedo (26 a 30/3), Em cena, estão as atrizes Barbara Garcia, Bruna Betito, Emilene Gutierrez, Ericka Leal, Flávia Rossi Tápias, Letícia Bassit e Tati Caltabiano e as musicistas Natália Nery e Dandá Costa.

Escritora, diretora de teatro, tradutora, jornalista e militante política, Pagu publicou o livro sob o pseudônimo de Mara Lobo. A obra faz um retrato da cidade de São Paulo da década de 1930 e expõe de forma crua as condições de abandono e exploração no cotidiano das mulheres trabalhadoras. “A obra de Pagu tem como temas principais a luta de classes e as mulheres operárias. Na peça, quis criar uma conexão com nosso tempo, a São Paulo que vivemos e também trazer um olhar para o protagonismo feminino no enfrentamento das mazelas produzidas pelo capitalismo”, revela Gilka Verana sobre a adaptação da peça..

O trabalho denuncia como muitas das questões vividas pelas mulheres no início do século XX, infelizmente, ainda estão presentes em nossa sociedade, como o machismo, a exploração da mulher, o assédio sexual no trabalho, a violência doméstica, a desigualdade de classe e gênero e o racismo estrutural.

Verana também mergulhou no trabalho de Pagu para atualizar o debate sobre a participação feminina atual nos cenários cultural e social brasileiro.  A peça lida ainda com a materialidade poética da escrita da autora. “São pautas hoje amplamente discutidas, mas que já estavam em ebulição na época e foram apontadas por Pagu a partir de um ponto de vista feminino e feminista”, coloca a encenadora.

Para Gilka, Pagu faz denúncias sobre a situação feminina em diferentes classes sociais, tanto no ambiente social quanto no privado. “Pagu critica também a feminilidade que performa para agradar ao patriarcado e o feminismo elitista. Ela não apazigua. Ela nos faz confrontar e nos apropriarmos dessa discussão ao mesmo tempo que abre os caminhos para refletirmos sobre nossa condição atual enquanto mulheres, trabalhadoras e artistas”, revela a diretora.

Diferentemente do livro, que conta com três principais protagonistas, a peça traz onze mulheres em cena, todas com destaques, com linhas narrativas que se constroem e dissipam. Sem a presença de homens, as personagens masculinas são representadas de diferentes formas: um manequim, máscaras, vozes em off, leituras das falas dos homens feitas pelas atrizes.

“Esse olhar vivo em relação ao seu próprio tempo define a importância do resgate dessa obra, principalmente ao constatarmos que se tratam de desafios sociais enfrentados ainda hoje em batalhas contra praticamente as mesmas opressões e desigualdades”, finaliza a diretora.

Ambientação

A dramaturgia é composta por um prólogo, dezessete cenas e um epílogo, e se estrutura em camadas: a narrativa, conduzida por um coro de operárias; o videografismo e vídeo mapping, camada que faz um traçado histórico entre presente e passado, com imagens de documentos históricos e o cenário atual de São Paulo; a musical, composta por música ao vivo, que incorpora e tece as diferentes atmosferas de cada cena; e a camada Pagu, composta por fragmentos de outras obras de Patrícia Galvão como poemas e trechos de artigos.

O romance proletário de Pagu

O livro Parque Industrial faz uma transposição literária da fala e do modo de vida da mulher proletária em São Paulo na década de 1930, e tem como cenário o bairro do Brás, um dos mais representativos da entrada do trabalho industrial no Brasil.

É ao redor das fábricas de tecelagem dessa região que acompanhamos a trajetória de três mulheres: Corina, que se torna trabalhadora do sexo ao ser demitida por engravidar e não ser casada; Eleonora, que escapa da pobreza ao se casar com o rico Alfredo Rocha; e Otávia, uma militante que também se envolve com Alfredo.

São personagens nada heróicas, carregadas de desilusão, dor, desespero e falta de perspectiva, que buscam sobreviver em meio ao movimento dilacerante do progresso da cidade de São Paulo.

O enredo não se limita à trajetória das três personagens mencionadas aqui. Ele se apresenta como um mosaico complexo de uma cidade vista sob uma lente de aumento narrativa que amplia a perspectiva do lado voraz do progresso. A cidade de São Paulo, portanto, torna-se uma personagem tanto quanto as próprias mulheres.

Sobre Gilka Verana

Gilka Verana é mestra em Performance e Cultura pela Goldsmiths College University of London (Londres-2011) e graduou-se como Bacharel em Artes Cênicas e Performance pela Royal Central School of Speech and Drama University of London (Londres-2009). Idealizou, atuou e produziu o espetáculo “As Mamas de Tirésias”, dirigido por André Capuano, na Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP-2020); é atriz criadora no espetáculo “Feminino Abjeto I” (2017), dirigido por Janaina Leite; e integrante do coletivo USO Teatro Urbano, que desenvolve pesquisa e criação de aproximação máxima entre as artes do corpo e o cotidiano urbano. No coletivo foi atriz criadora nos espetáculos “Corpo_Cidade Rotinas_(ficção)”, dirigido por André Capuano (2016) e “Corpo_Cidade_Bom_Retiro” (2014), dirigido por André Capuano e Paula Petreca.

Ficha Técnica

PARQUE INDUSTRIAL

Uma adaptação para o teatro do romance Parque Industrial de Patrícia Galvão | PAGU | Mara Lobo

Direção e Adaptação: Gilka Verana

Direção de Produção: Aura Cunha

Produção executiva: Yumi Ogino

Elenco: Barbara Garcia, Bruna Betito, Emilene Gutierrez, Ericka Leal, Flávia Rossi Tápias, Letícia Bassit e Tati Caltabiano

Composição musical: Natália Nery, Lana Scott, Clara Kok e Dandá Costa

Direção musical e teclado: Natália Nery

Assistente de direção musical: Lana Scott e Clara Kok

Guitarra, percussão e samples: Dandá Costa

Técnica de som: Paloma Dantas

Participação Especial: Gabriela Menezes (Cantora Lírica)

Preparação Corporal e Desenho de Movimento: Paula Petreca

Cenografia e Figurino: Silvana Marcondes

Assistência de Cenografia e Figurino: Carolina Petrucci e Maria Vitória Royer

Videografia: Bianca Turner

Assistente de Videografia: Vic Von Poser

Iluminação: Cyntia Monteiro

Provocação Cênica: Janaina Leite e Cris Rocha

Provocação Dramatúrgica: Dione Carlos

Colaboração na Investigação Vocal: André Capuano

Costuras: Judite de Lima, Marcelo Leão, Oficina de costura Nicolle e Lika Alves

Construção de Cenário: Edilson Quina (Urso), Cíntia Matos e Julio Dojcsar

Montagem: Cezar Renzi e Julio Dojcsar

Imersão Urbana: USO – Teatro Urbano

Imersão Litoral: Mariana Pereira

Assessoria de Imprensa:Pombo Correio

Fotos de Divulgação: Jennifer Glass e Cacá Fernandes

Sinopse

O espetáculo mergulha no romance Parque Industrial, de Pagu, que denuncia as condições precárias das mulheres trabalhadoras da década de 1930. Ao embarcar nessa obra quase um século depois, onze mulheres refletem sobre os desafios políticos e sociais enfrentados ainda hoje em batalhas contra praticamente as mesmas opressões e desigualdades.

Serviço

Parque Industrial, com adaptação e direção de Gilka Verana

Classificação: 16 anos
Duração: 120 minutos

MARÇO

Teatro Paulo Eiró

Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, São Paulo

Quando: 12 a 16 de março, de quarta a sábado às 20h30min e domingo às 19h

Quanto: grátis

Retirada dos ingressos 1 hora antes na bilheteria do teatro.

 

Teatro Arthur Azevedo

Endereço: Av. Paes de Barros, 955, Alto da Mooca, São Paulo

Quando: 26 a 30 de março, de quarta a sábado às 20h30min e domingo às 19h

Quanto: grátis

Retirada dos ingressos 1 hora antes na bilheteria do teatro.

 

ABRIL

Teatro Cacilda Becker

Endereço: R. Tito, 295, Lapa, São Paulo

Quando: 16 a 20 de abril, de quarta a sábado às 20h30min e domingo às 19h

Quanto: grátis

Retirada dos ingressos 1 hora antes na bilheteria do teatro.

 

Teatro Alfredo Mesquita

Endereço: Av. Santos Dumont, 1770, Santana, São Paulo

Quando: 23 a 27 de abril, de quarta a sábado às 20h e domingo às 19h

Quanto: grátis

Retirada dos ingressos 1 hora antes na bilheteria do teatro.


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